FONTE:, Raquel Drehmer, (http://www.msn.com).
Não
é frescura, cansaço ou apenas uma tristeza: a depressão é uma
doença e precisa ser respeitada e tratada como tal. É muito importante entender
que ela se origina no cérebro por motivos genéticos, psicológicos ou ambientais
e não há como evitar seu surgimento.
“Assim
como há locais no cérebro responsáveis pela fala e pela coordenação motora, há
locais que controlam os sentimentos, com a liberação de neurotransmissores. Se
ocorre uma disfunção nessa liberação, podem surgir doenças como a depressão ou
a ansiedade”, explica a psiquiatra Analice Gigliotti,
chefe do Setor de Dependência Química e Outros Transtornos do Impulso da Santa
Casa de Misericórdia do Rio e diretora da clínica Espaço Clif.
Os
sintomas da depressão são muitos – de tristeza permanente a pensamentos suicidas, passando por sinais físicos e comportamentais, como
alterações no padrão de sono ou de apetite, falta de concentração ou de
energia, baixa na autoestima e perda generalizada de interesse – e precisam de
um diagnóstico médico.
Por
isso, ao notar os sintomas, a recomendação é que se procure um psiquiatra que
determine o tratamento adequado para cada pessoa. “A definição da medicação é
muito delicada e precisa ser monitorada por um médico, que também vai
encaminhar o paciente para a terapia”, afirma a psicóloga clínica Miriam
Barros, especialista nas áreas de transtornos do humor e distúrbios
comportamentais.
Além
de medicamentos e terapia, ter uma rede de apoio ajuda muito quem está lutando para superar a
doença. Mas atenção: existem atitudes e falas que, mesmo cheias de boas
intenções, mais atrapalham do que ajudam. Se você quiser oferecer suporte a
alguma amiga ou familiar, saiba o que nunca se deve falar para quem tem
depressão e por quê.
“Durma
bem e amanhã você nem lembrará de depressão”.
Em
primeiro lugar, é muito comum a depressão causar alterações nos padrões de
sono, ou seja, nem sempre a pessoa conseguirá controlar esse “dormir bem”. Em
segundo, depressão não é algo que se esqueça da noite para o dia. Quem tem
diabetes, por exemplo, não esquece simplesmente que tem a doença, esquece? Isso
vale para qualquer doença, inclusive para a depressão.
“Você
é mais forte que a depressão”.
Quem
tem depressão se sente muitas coisas, mas forte dificilmente é uma delas. “A
sensação de fraqueza pode ser muito grande. Insistir para que a pessoa seja
forte a qualquer custo acaba causando nela um sentimento de culpa por não
encontrar dentro dela o lugar de onde essa força poderia sair”, diz Miriam.
“Isso
é só uma fase”
Realmente,
se bem tratada, a depressão pode ser superada, como esclarece Analice: “É uma
doença com curso de início, meio e fim. E possibilidade de reincidência”. Mas,
no meio do furacão, a pessoa não consegue vislumbrar o final: seu foco fica no
presente, que é sofrido.
“Minha
amiga toma este remédio e fica ótima, tente também”.
Automedicação
NUNCA é uma boa ideia. Para tratar a depressão, a medicação deve ser
individualizada, com orientação e supervisão de um psiquiatra. “É um ajuste
muito fino”, observa Miriam. “O cérebro é muito sensível, a compensação química
pode variar de uma hora para outra, por isso sempre são necessários ajustes no
antidepressivo.”
“Se
enfie de cabeça no trabalho que você esquece disso”.
Mais
uma vez: depressão é uma doença, e como tal, não pode ser simplesmente esquecida.
Tem que ser tratada. A questão do trabalho e dos estudos, inclusive, é bem
delicada, porque a depressão pode causar uma completa falta de foco, além da
vontade nula de sair da cama de manhã para mais um dia no escritório ou na sala
de aula. É preciso haver muita compreensão por parte de chefes e professores
para que a pessoa não seja prejudicada durante seu tratamento.
“Tem
gente em situação muito pior que você no mundo”.
Miriam
ilustra uma parte da depressão da seguinte forma: “A pessoa só consegue ver a
vida com uma lente cinza”. Isso significa que não existe escala de dor ou
competição para saber qual situação é pior; todas parecerão ruins para ela.
Tentar forçar a tirada dessa “lente” não ajuda em nada. Respeite o momento.
“Foque
só na parte feliz da sua vida”.
Sabe
o lance da lente cinza aqui de cima? Pois então: para focar na parte feliz da
vida, é preciso ter lentes coloridas, coisa que quem está tratando a depressão
normalmente não tem – ou, se tem, é por momentos passageiros. Espere que isso
se ajuste à medida que o tratamento evolui. Espere, também, que a pessoa
demonstre interesse por coisas felizes, e respeite caso esse ânimo passe logo
em seguida. Faz parte do processo.
“Tente
relaxar um pouco”.
Não
é uma questão de cansaço, é uma questão de alterações cerebrais e fisiológicas
que independem dos fatores externos. Uma pessoa com depressão pode relaxar
agora e daqui a um minuto estar no mesmo quadro depressivo anterior – e é muito
provável mesmo que isso aconteça. Ela também pode não ter ânimo para relaxar, o
que faz parte da doença.
“Estou
aqui, qualquer coisa é só me chamar”.
“Quem
tem depressão normalmente se sente um fardo, um peso, e acha que está sempre
incomodando as pessoas, em qualquer lugar”, afirma Analice. Você acha mesmo que
alguém nessa situação vai lhe chamar? Se acha, pense de novo, porque a resposta
é não. Deixar com a pessoa a responsabilidade de vocês terem contato é a mesma
coisa que dizer que não está disponível para ela.
Como
agir com a amiga que tem depressão.
“Ok,
mas o que eu POSSO falar ou fazer pela minha amiga que tem depressão, então?”,
você deve estar se perguntando. É mais simples do que você imagina.
“Estar perto é a melhor ajuda.
Compreender essa dor e ficar perto sem fazer nada, se a intenção dela for não
fazer nada”, sugere Analice. “Você pode se oferecer para fazer um café à tarde,
para preparar uma refeição para ela. Tudo pode ser uma desculpa para estar ao
redor sem que ela se sinta um peso”.
Miriam também recomenda que você ouça
bastante sua amiga com depressão – caso ela queira falar, claro – e a ajude a
resolver questões práticas do dia a dia, como ir ao banco para pagar uma conta,
quando ela não tiver forças para isso. “No apoio à pessoa com depressão, o que
vale mais não é o que se fala, é o que se faz. Não é discurso, é atitude,
compreensão e acolhimento”, finaliza.
*** Colaboraram na
elaboração da lista de frases que não devem ser faladas para quem tem
depressão: Carlos Villela, Deborah Müller, Julia Piovenza, Mariana Pereira,
Pedro Fraga e Samir Salim Jr. Muito obrigada!
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