quinta-feira, 23 de maio de 2019

QUANDO O ESTUPRADOR É O SEU MARIDO: "BEBI MUITO E ACORDEI NUA, COM DOR"...


FONTE: William Novaes, Colaboração para Universa,https://universa.uol.com.br/

       

A paulistana Rose, 34 anos, é contadora e estava há 5 anos com Pedro, de 52 anos, taxista. Era o primeiro casamento dela e segundo dele. Eles eram apaixonados.

Rose adorava beber mas, muitas vezes, apagava no meio de um porre e acordava no outro dia em sua cama, nua, com o parceiro ao lado. Até hoje têm poucas recordações do que ocorria naquelas madrugadas. "Não consigo lembrar em consentir as relações sexuais, mas entendia que era algo normal da vida de casada", recorda.

É estupro, sim.
Sexo só existe se é consensual em todas as ocasiões. Qualquer coisa diferente disso é estupro. O desejo pode partir de uma das pessoas, com insinuações e sedução. Mas a relação só deve acontecer se a outra decide ceder por vontade própria.

O vínculo, seja uma certidão de casamento, aliança de compromisso ou acordos verbais de dormir na mesma cama, não permite a nenhuma das partes obrigar a outra a manter relação sexual. Parece óbvio? Transar com a parceira quando ela está inconsciente, após a ingestão de bebidas alcoólicas ou simplesmente dormindo, como acontecia com Rose, é estupro marital. O crime é previsto pela Lei Maria da Penha.

O velho ditado "o que um não quer, dois não fazem" tem que fazer parte do dia a dia de um casal que tenha uma relação normal e harmoniosa. Ponto final. "Essa situação ainda é muito delicada para lidar na sociedade. Precisa de educação sexual, assim vamos ter um mundo melhor e mais resolvido nessa questão. Ninguém tem direito de abusar do corpo de outra pessoa", diz a terapeuta sexual Virginia Gaia.

Assumir o que aconteceu machuca.
"O que mais me chocou foi o dia que acordei com dor na região anal. Só percebi o que havia acontecido quando saiu sangue na hora de evacuar. Chorei quieta e constatei o que tanto eu temia. O meu marido fez sexo anal sem a minha permissão. Ele sabia que eu não curtia, tínhamos um trato de fazer uma vez por ano, devido a insistência dele. Fiquei muito chateada e isso me deixou desanimada. Eu perguntava por que ele tinha feito aquilo e ele apenas ria. Eu sentia ódio, desgosto. Entre inúmeros problemas em nossa relação, esse fato também ajudou para eu pedir a nossa separação anos depois", conta Rose.

Atualmente, ela entendeu que vivia uma relação abusiva. Mas nunca teve coragem de denunciar o abuso sexual cometido pelo homem com quem ficou 11 anos. "Se acontecer em um novo relacionamento, não penso duas vezes: vou fazer o que tem que ser feito na Justiça. Isso não é normal", informa.

Para o psicólogo e terapeuta sexual Breno Rosostolato, isso acontece ainda por causa da masculinidade tóxica. Os homens acham que têm poder sobre as mulheres. "A nossa educação foi voltada para sermos fortes, viris, austeros, tudo para não ser o feminino, sem demonstrações de emoções. No passado, quando um menino chorava, o pai e até a mãe mandavam engolir o choro que isso era coisa de menina. O resultado é esse tipo de atitude, entre inúmeras outras, contra as mulheres", explica.

A culpa não é da mulher.
Rose ainda se sente culpada. "Eu não precisava beber daquele jeito", ela comenta. Esse é outro sintoma identificado pelo profissional. "Além de todo o transtorno causado por esse tipo de violência sexual, muitas mulheres colocam em si a culpa, pois a sociedade tem esse pensamento arcaico de que o homem pode fazer o que bem entender. Precisamos entender que a mulher pode beber e fazer o que quiser, isso não libera que ninguém tenha o direito de abusá-la", conta o especialista.

"Os homens fazem esse ato para obter satisfação própria e muitos acreditam que estão corretos e minimizam dizendo que ela estava bêbada e sabia o que estava fazendo. Precisamos evoluir"

Atitudes típicas de um companheiro abusador

Imposição do medo para conseguir relação sexual

Embriaguez induzida

Ameaça de separação

Ameaçar levar os filhos embora

Ameaça de morte

Ameaça física

Falar sobre a dependência financeira da mulher.

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