O isolamento
social e restrições de circulação foram medidas empregadas a fim de impedir a
propagação do novo coronavírus.
Em 2020, mais de três
bilhões de pessoas em todo o mundo tiveram suas rotinas modificadas em
decorrência da covid-19.
Isso deixou estudantes
afastados fisicamente das escolas, e a tecnologia se tornou vital para permitir
que as crianças interajam, acessem materiais educacionais e façam o que mais
precisam: brincar.
Os adultos, elogiaram
os avanços tecnológicos que nos permitiram trabalhar, nos envolver socialmente
e viver o “novo normal” em casa. Entretanto, quando se trata do mesmo para as
crianças, nos preocupamos. A preocupação de que as crianças possam estar usando
telas demais não é sem motivo. O uso da tela por crianças já estava aumentando
muito antes da pandemia.
Uma pesquisa recente,
realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) , investigou a associação entre
as habilidades motoras, atividade física, uso de mídia e hábitos de tela e
duração de sono em mais de 900 crianças em idade pré-escolar (4 a 6 anos).
As crianças realizaram
uma avaliação motora completa, com testes como manuseio de objetos, andar em
linha reta, pular, ficar na ponta dos pés, imitação de gestos, noções de
direita/esquerda, repetir frases e reprodução de estímulos visuais e auditivos.
Os pais ou responsáveis foram entrevistados e responderam um questionário para
determinar o perfil de atividade
física e duração de sono da criança. Os dados foram
obtidos quanto aos locais e horários das brincadeiras, tipos de brincadeiras,
percepções dos cuidadores sobre os níveis de atividade física das crianças,
número de horas de sono durante a noite e o dia, uso da mídia de tela e
alimentação enquanto assistia televisão (hábitos de tela) nos dias úteis e fins
de semana, todos indicando perfis de atividade infantil. Havia quatro opções de
resposta para o uso da mídia de tela: menos de 1h/dia; mais de 1h/dia até menos
de 2h/dia; 2h/dia; ou mais de 2horas/dia.
Os resultados são
alarmantes. Mais de 55% das crianças avaliadas faziam as refeições assistindo
televisão, e 28% passavam longos períodos utilizando mídias de tela (assistindo
televisão, jogando videogame, usando um computador, tablet ou telefone
celular). Além disso, o uso excessivo de mídia de tela aumentou o risco de as
crianças apresentarem habilidades motoras pobres, acentuou a inatividade física
e diminuiu as horas de sono.
A justificativa para
esses achados é de que a infância é um período crucial para o desenvolvimento
motor e cognitivo e é significativamente influenciada pelo ambiente. Assim,
recomenda-se que crianças de até 11 anos realizem pelo menos 60 minutos de
atividade física por dia, tenham 2 horas ou menos de uso de mídia de tela de
lazer por dia, e durmam de 9 a 11 horas por noite.
Contudo, com a
interação social escassa devido à pandemia, o uso da tecnologia infantil
aumentou significativamente. Crianças de todas as idades passavam, em média,
cerca de 3 horas de seus dias nas telas antes desta crise, agora as usam por
quase 6 horas. Na prática, o número real pode ser ainda maior. Esse aumento
repentino e acentuado causou preocupação com os possíveis efeitos prejudiciais
de tanto tempo de tela nas crianças. No entanto, em muitos casos, esse tempo
extra na tela pode ser necessário, seja para fins educacionais, interação
social ou como distração e entretenimento que permita que seus pais trabalhem
em casa.
Existem limitações bem
definidas na literatura quanto ao usa de tela em crianças. Porém, muitos desses
conselhos não se destinam à situação em que estamos vivendo atualmente. Mesmo a
Academia Americana de Pediatria (AAP), uma organização que já endossou limites
restritivos quanto ao tempo de tela para crianças pequenas, recomendou repensar
as regras de tempo de tela frente à pandemia. Em vez de estabelecer limites
diários, a AAP incentiva o foco no tipo de tempo em que as crianças participam
da tela versus o tempo que as crianças ficam nelas. Por exemplo, usar telas
para conversar por vídeo e se conectar com as pessoas em suas vidas é uma
maneira positiva de as crianças usarem telas durante esse período de
distanciamento social. A academia também recomenda que os adultos usem telas
junto com crianças mais novas e defina parâmetros claros de onde, quando e como
as crianças mais velhas podem usar seus dispositivos.
Por fim, temos que
fazer o que é prático e possível no momento para sobreviver, e isso inclui,
também para as crianças, em ter mais tempo de tela. Mas a supervisão dos pais é
de extrema importância, enfatizando que o tempo na tela não deve substituir a
atividade física e o sono suficiente para todos.
*** Por: Matheus
Campos.
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