FONTE: FONTE: iG - O Dia, TRIBUNA DA BAHIA.
Pesquisa aponta ainda que morrer fora do serviço
amedronta 29,6% dos agentes.
A
política de segurança no Brasil, que tem uma das maiores taxas de homicídios do
mundo, está mexendo com a cabeça dos agentes da Lei. Pesquisa divulgada ontem
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apurou que 15,6% deles já
tiveram algum tipo de distúrbio psicológico detectado por conta do trabalho.
Considerando que o país tem um efetivo oficial de 700 mil agentes da lei,
aproximadamente, o susto aumenta: são 109 mil afetados, entre policiais civis,
militares, rodoviários, federais, bombeiros e guardas municipais.
“Enquanto
não dermos a devida atenção à realidade cotidiana do policial, continuaremos
vivendo um divórcio entre polícia e sociedade”, avalia a socióloga Sílvia
Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade
Cândido Mendes. “Os resultados são surpreendentes e preocupantes.”
Os
números foram apresentados por Samira Bueno, do FBSP, Rafael Alcadipani, da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Roberta Novis, também da FGV. Dos 10.323
agentes ouvidos pela pesquisa, 44,5% trabalham nas Polícias Militares, 51,8%
são pretos e pardos e 85,1%, homens. O Fórum acontece desde quarta-feira na
sede da FGV, no Rio, e termina hoje com a presença do Ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, que irá lançar um pacto pela redução dos homicídios.
O raio
X da atuação dos agentes da Lei mostra uma polícia que tem mais medo de morrer
em serviço do que fora dele. Nada menos do que 75,6% responderam que já foram
vítimas de ameaças por seu trabalho e 61% tiveram colegas vítimas de homicídio
em serviço. Entre PMs, este percentual chega a 73%. Morrer fora do serviço amedronta
29,6% dos policiais, o que explica o alto índice de agentes que escondem suas
fardas antes de deixar o serviço. Segundo o estudo, 44,3% guardam o uniforme ou
o distintivo no trajeto entre suas casas e o trabalho, e 61,8% evitam usar o
transporte público. Para proteger os familiares, 35,2% não revelam sua
profissão a conhecidos, pelo fato de serem policiais, e 33,6% tiveram pelo
menos um parente vítima de violência, ou ameaçado.
Ms se sentem discriminados.
A discriminação citada por Sílvia Ramos, da Cândido Mendes, aparece na pesquisa
mais para quem veste a farda de policial militar. O estudo aponta que 73,8% dos
PMs se sentiram discriminados por serem profissionais de segurança pública,
contra 65,7% da categoria como um todo. E nada menos do que 51% têm receio
sobre como conduzir ações de abordagem, prisão por drogas ou uso da força por
falta de diretrizes claras sobre como tomar tais atitudes. “Estamos acostumados
a dizer que a sociedade teme a polícia por perceber alguns agentes como brutais
e violentos. Mas até agora demos pouca atenção ao que eles pensam e como
vivem”, conclui Sílvia.
‘Droga é um problema de saúde’.
Uma das
estrelas do Fórum, o Secretário Nacional de Políticas Sobre Drogas, Vitore
Maximiano, defendeu ontem a descriminalização do usuário de drogas. Durante
palestra, Vitore mostrou dados indicando que a Europa só conseguiu começar a
reverter os problemas com usuários, nos anos 80, quando trocou a política
repressiva pela de prevenção. Com números que cruzavam uso de maconha com taxa
de homicídio, deixou claro que a utilização de drogas não gera comportamento
violento — pelo contrário, é justamente a repressão que leva a este estado.
“Droga
é um problema de saúde. Na América do Sul, o Brasil é o único país que ainda
criminaliza o porte. Na França, por exemplo, 40% da população já experimentou
maconha, e a taxa de homicídio é de 1,2 por 100 mil. Já na Venezuela, 5,6% da
população usou a droga, mas a taxa é de 47 homicídios a cada 100 mil pessoas.
Não há correlação evidente entre violência e consumo”, disse.
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