FONTE: Brunno Carvalho, Do UOL, em São Paulo, (http://esporte.uol.com.br).
O atacante Nilmar pediu a
suspensão de seu contrato com o Santos para cuidar de uma depressão. A doença afeta 11,5 milhões de brasileiros, de acordo
com números da Organização Mundial da Saúde (OMS), e no caso do esporte pode
estar diretamente ligada ao desempenho do atleta.
"O que acaba
acontecendo com o atleta, principalmente o jovem, é: você tem uma demanda de
esforço físico e de desempenho absurdamente alta, além da pressão. Se ele não
está preparado para lidar com o ambiente, ele acaba deprimindo", explica
Rodrigo Dias Campos, psiquiatra especializado em transtorno de humor.
"O atleta
normalmente vem de uma situação [social] desfavorecida e tem um papel de arrimo
da família. Ele percebe muitas vezes que se ele tem essa dificuldade
(depressão), acaba tendo um peso a mais no desempenho dele", prossegue
Dias Campos.
A OMS considera em
depressão uma pessoa que apresente alguns dos seguintes sintomas por mais de 14
dias seguidos: perda de energia, mudança de apetite, ganho ou perda de sono,
diminuição da concentração, indecisão, inquietude, sentimentos de inutilidade,
culpa ou desesperança e pensamento de automutilação ou suicídio.
"Nos casos mais
graves, a pessoa com depressão não sai de casa, não come, não dorme. Ela fica
impedida de ter uma vida normal. E no esporte isso se agrava porque é preciso
um nível de energia muito elevado para se realizar um treinamento, uma
competição", afirma Katia Rubio, uma das precursoras da psicologia do
esporte no Brasil.
"Tem ainda o
aspecto cognitivo, porque a depressão tem uma interferência no aspecto
cognitivo muito intenso. A pessoa não tem concentração, sofre com perda de
reflexo. E dependendo da modalidade, isso é um impeditivo para o atleta poder
trabalhar", continua.
Tratamento é
demorado e enfrenta preconceito.
O imediatismo do
esporte é um dos motivos que faz com que o atleta demore a procurar ajuda para
curar a depressão. Um dos motivos é o fato de os primeiros efeitos da medicação
começarem a aparecer depois de 10 a 15 dias.
"No esporte tudo
precisa ser para amanhã. E muitas vezes o atleta demora para procurar o
tratamento, ou mesmo pedir o afastamento, porque tem que voltar para o
trabalho. E isso só vai agravando a doença. A demora agrava cada vez mais a
depressão e dificulta o tratamento, porque o atleta quase sempre começa a se
tratar quando o estágio já está mais avançado, no sentido de precisar de mais
cuidados", explica Katia Rubio.
A depressão, pontua
Rodrigo Dias Campos, pode influenciar até mesmo na recuperação de lesões dos
atletas. "Se o cara está deprimido por causa de uma lesão e fica realmente
deprimido, o processo todo de recuperação vai ficar mais lento, mais
difícil".
"Precisa ter uma
ideia clara de que depressão é uma doença crônica e recorrente. Ela é parecida
com diabetes, hipertensão. Se você não cuidar, não fizer o tratamento direito,
ela vai recair mais próximo. Um episódio de depressão pode durar até um ano e
meio, dois anos. Se for crônico, vai durar a vida inteira", completa Dias
Campos.
Há dois tipos de
tratamentos para a depressão: acompanhamento psicoterápico e a utilização de
medicamentos. Em alguns casos, os dois métodos são utilizados de maneira
simultânea, como acontece com Nilmar. O atacante tem se tratado com remédios e
o Santos colocou o atleta para ter a supervisão de uma psicóloga.
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