Você consegue se
lembrar da primeira vez na vida em que expressou alegria, tristeza, medo ou
raiva? Reconhecidas como as quatro emoções básicas do ser humano, elas começam
a se manifestar por meio de nossos comportamentos e atitudes ainda na infância.
Acredita-se que começamos a demonstrar o que sentimos por volta dos 4 meses de
vida. Daí ser difícil recordar com precisão o primeiro sentimento de alegria ou
o primeiro momento de medo. Desde que nascemos até a velhice,
passamos por um processo natural de desenvolvimento que envolve habilidades
motoras, comportamentais, cognitivas, sociais, emocionais…
Entretanto, embora
tenhamos consciência das transformações físicas e mentais do
envelhecimento — a pele enrugada, falhas na memória, a fragilidade dos
ossos… — pouco se fala sobre as mudanças no campo das emoções. Será que
passamos também por um envelhecimento emocional? Se sim, de que forma? Como
podemos nos preparar para o processo de maturidade das emoções?
Ao longo das diversas
fases da vida experimentamos uma variedade de emoções. Na velhice isso não é
diferente. O que há, ainda, é um estigma a associar essa fase a sentimentos
negativos. Sim, subsiste um forte preconceito de que ser idoso e ser feliz nem
sempre caminham juntos. Quase que predominantemente as pessoas tendem a
conectar o envelhecimento emocional a sensações como temor, solidão e
frustração. Levantamentos com indivíduos mais jovens mostram que, quando
questionados sobre a velhice, a maioria costuma relatar sentimento de medo.
Medo de doenças, da incapacidade, da perda da independência, da morte… Mas será
que isso procede?
Há controvérsias.
Contrastando com o declínio físico e cognitivo ligado à idade, pesquisas sobre
envelhecimento emocional sugerem que a maioria das pessoas costuma apresentar
altos níveis de bem-estar e estabilidade psíquica quando estão na casa dos 70
ou 80 anos. Pode parecer um tanto quanto intrigante, não é ? Afinal, como
idosos que apresentam problemas de saúde e lapsos de memória podem ser felizes?
Diversos estudos
publicados nos últimos dez anos indicam que a soma das experiências emocionais
adquiridas e a perspectiva de um fim de vida mais próximo podem tornar o ser
humano mais positivo. Positividade é descrita como um sentimento que regula as
emoções e as ajusta de maneira a amplificar a felicidade. Está diretamente
associada à qualidade de vida e, não à toa, tornou-se um dos principais
indicadores de um envelhecimento bem-sucedido.
A discussão pode soar
complexa, mas, em resumo, podemos dizer que nosso lado emocional parece
se beneficiar com o avançar da idade. Inclusive, pesquisadores do
Departamento de Psicologia da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, concluíram, com
base em revisões e análises de evidências científicas dos últimos dez anos, que
o processo de manutenção do bem-estar emocional é uma das “descobertas mais
surpreendentes sobre o envelhecimento humano…”
Com isso, sedimenta-se
a noção de que as emoções positivas não só melhoram a qualidade de vida mas
também acrescentam anos à nossa expectativa de vida. Mais um motivo para mudar
a percepção de que envelhecer é algo ruim. Para chegar bem à velhice, é preciso
cuidar da alimentação, praticar exercícios, dormir direito, sem esquecer que
devemos colocar na conta da poupança da saúde um ativo tão importante quanto os
outros: a gestão das emoções. Isso ganha ainda mais relevância em um mundo
marcado pelo crescimento da ansiedade e da depressão.
Ok, mas como conseguir
ser feliz? Certamente não há uma fórmula, pois cada um é único. Precisamos
descobrir o que nos motiva e procurar cultivar atitudes que equilibrem o corpo,
a mente e o espírito, mesmo diante das adversidades ou da finitude da vida. Ser
feliz não tem a ver com a ausência de problemas (sejam eles de saúde ou não).
Significa sentir-se bem seja qual for a situação. Por isso quero encorajar você
a se permitir a olhar a velhice não como um fardo, mas como um incentivo para
fazer do agora a oportunidade de ser feliz ainda hoje — e lá na frente!


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