FONTE: Juliana Passos, Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
A preocupação em se
garantir na hora do sexo tem levado muitos brasileiros a usar remédios que
estimulam a ereção, como Viagra, Levitra e Cialis. Se a curiosidade por
experimentar o "doping sexual" não é nova, uma pesquisa recente
mostra um alto consumo entre jovens, uma faixa etária em que são raras as
indicações de uso. E o consumo frequente pode levar à dependência.
Entre os homens de 22
a 30 anos que experimentaram os estimuladores nos últimos seis meses, um em
cada cinco passou a usá-los em todas as relações sexuais. Já entre aqueles que
têm de 41 a 50 anos, 44% passaram a usar o medicamento em todas as relações
após experimentarem a droga.
Esses são os
resultados de um levantamento feito entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015
com consumidores brasileiros pelo instituto GFK, sob encomenda da fabricante de
medicamentos Medley.
O urologista Sidney
Glina conta que todos os meses recebe jovens que querem parar de tomar o
remédio. Um dos pacientes foi um adolescente de 16 anos que relatou ao médico
que ele e seus amigos transavam com as mesmas meninas e ele não poderia
"falhar". "Há uma pressão para os homens mostrarem sua
masculinidade, 'comparecer'", diz.
É exatamente a
ansiedade e o medo de falhar que fazem com que muitos comprem o medicamento, e
passem a acreditar que não vão conseguir uma ereção sem essa
"ajudinha". Quando chegam ao consultório, a tarefa do médico é
procurar algum problema físico que justifique a indicação do medicamento que
trata a disfunção erétil.
E, na maioria dos
casos, não há nada além da insegurança e de uma dependência que faz com que o
paciente acredite que precisa da droga para conseguir transar --e essa é uma
situação que deve ser tratada com ajuda psicológica profissional.
Para o terapeuta
sexual Amaury Mendes Júnior, o fato de esses medicamentos serem encontrados em
lugares tão distantes das farmácias quanto motéis e baladas, faz com que seu
uso seja considerado normal.. "Virou uma droga necessária para noitada,
uma vez que o álcool inibe o desempenho sexual".
Relação entre homens e mulheres mudou, mas não
justifica uso excessivo das drogas
Mendes Júnior tem
recebido um número cada vez maior de pacientes com dificuldade de ereção por
motivos psicológicos, e entre as principais queixas está a nova postura das
mulheres, sexualmente mais experientes, além da característica das relações
afetivas, cada vez mais rápidas.
A coordenadora do
Programa de Sexualidade da USP (Universidade de São Paulo), Carmita Abdo,
concorda que houve mudança na relação entre homens e mulheres. "Antes as
parceiras eram menos experientes sexualmente, e diante dessa parceira com mais
experiência eles não querem parecer menos experientes ou ter um desempenho pior
do que outros homens".
Abdo destaca ainda
que a dependência do remédio não permite que os jovens aprendam a fazer sexo
naturalmente. "Ao iniciar o uso [dos estimulantes de ereção] sem
necessidade, o homem não ganha experiência para ter uma relação sexual
espontânea. Ele acaba atribuindo sua competência ao medicamento e não a si
mesmo".
A ansiedade pode
levar o corpo a produzir e liberar adrenalina --o hormônio que provoca a
contração dos vasos--, e aí a ereção não vai acontecer. Glina afirma que muitas
vezes o remédio atua apenas como uma "muleta" psicológica, sem
efeitos físicos imediatos. "Muitos jovens tomam pouco antes de transar,
mas o remédio demora pelo menos uma hora para fazer efeito".
Drogas podem provocar diversos efeitos colaterais;
funcionamento se baseia.
Além da dependência,
alguns dos efeitos colaterais físicos que podem atingir os pacientes são dores
de cabeça, vista embaçada, dores nas costas e nas pernas, e sensação de nariz
entupido.
Ao contrário do que
pregam os mitos populares, de acordo com os médicos ouvidos pelo UOL,
não há relação direta entre o uso desses medicamentos e o aparecimento de
doenças cardíacas --a única contraindicação é para aqueles que fazem uso de
remédio para o coração feitos à base de nitratos.
As drogas que
combatem a disfunção erétil funcionam a partir da inibição de uma substância
que regula a produção de uma enzima que facilita o relaxamento da musculatura e
circulação do sangue, mecanismo que ajuda a provocar a ereção.
"O pênis fica
muito sensível com o remédio, [mas] isso não significa que necessariamente
exista a vontade de fazer sexo ou facilitar o orgasmo", afirma Glina.
O homem só conseguirá
ter e manter uma ereção mais facilmente, o que pode prolongar a relação sexual,
ou mesmo possibilitar um maior número de relações e diminuir o tempo de recuperação
entre uma relação e outra. Aliás, prolongar o prazer foi o motivo indicado por
40% dos homens que disseram usar os medicamentos.
Segundo pesquisas
norte-americanas, a disfunção erétil atinge aproximadamente 10% dos homens de
40 a 70 anos, que não conseguem ter ou manter uma ereção suficientemente para
ter relações sexuais. Entre esses, 25% têm disfunções moderadas ou
intermitentes. Já entre os mais jovens, a disfunção atinge de 5% a 10% dos
homens com menos de 40 anos.
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