FONTE: Agência Brasil (noticias.uol.com.br).
O transplante de
medula óssea como opção terapêutica para a doença falciforme agora pode ser
feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde estima que 25
mil a 50 mil pessoas tenham a doença no Brasil, que apresenta alta morbidade e
mortalidade precoce.
A medida foi
publicada hoje (1) no Diário Oficial da União. A falciforme é uma das doenças
hereditárias mais comuns no Brasil, e são aproximadamente 3,5 mil novos casos
por ano.
A doença deforma o
glóbulo vermelho [que carrega o oxigênio no sangue] e causa má circulação do
sangue nos pequenos vasos do corpo. Com o transplante, as células doentes são
substituídas, evitando expor o paciente aos riscos de transfusões contínuas. Os
principais sintomas são lesões nos órgãos atingidos, crises de dor,
principalmente nos ossos ou articulações, no tórax, no abdômen, e icterícia. O
transplante é a única opção de cura da doença e, para muitos pacientes, a única
chance de sobreviver.
O coordenador da
Associação de Falciforme de Brasília, Elvis Magalhães, 49 anos, foi o primeiro
paciente com doença falciforme transplantado no Brasil, em regime de pesquisa,
em 2005. Ele conta que nos 38 anos de internações, até fazer o transplante,
todos os amigos com a doença que conheceu no hospital em que se tratou morreram.
"E somente do
ano passado, perdemos 170 pessoas que conhecíamos de movimentos sociais pelo
país com falciforme. Tenho certeza que muitas delas poderiam ter sido salvas. A
inclusão do transplante é uma questão de justiça social para as pessoas com doença
falciforme", declarou.
"No meu caso,
foram 38 anos de uma luta enorme. Tinha dores terríveis. Com 13 anos comecei a
apresentar úlceras no tornozelo, que demoravam anos a cicatrizar, fazendo
curativo todos os dias, tinha ereção involuntária, fazia transfusão de sangue a
cada 40 dias", relatou. "Sofri muito preconceito por causa dos olhos
amarelados, confundidos com hepatite. E muita gente com falciforme passa por
isso ainda hoje, por não ter a oportunidade do transplante".
Para Elvis, os
transplantes vão gerar enorme economia ao SUS, já que a doença demanda, em
muitos casos, internações, consultas. exames frequentes e medicamento contínuo.
"Depois que me transplantaram, todos esses gastos deixaram de
existir".
Atualmente, o
tratamento no SUS é feito com o uso de vacinação e penicilina nos primeiros 5
anos de vida, como profilaxia às infecções, uso regular de ácido fólico,
medicamentos para a dor, uso de hidroxiuréia e, em alguns casos, transfusões de
sangue de rotina. A maioria dos pacientes consegue tratar os sintomas com a
hidroxiureia, mas alguns pacientes não respondem bem a essa terapêutica, como
era o caso de Elvis. O medicamento ainda pode levar a uma sobrecarga de ferro
no organismo.
O transplante de
medula óssea já beneficiava pacientes com doenças oncohematológicas, como
linfomas, leucemias e mielomas. Membro da Sociedade Brasileira de Transplante
de Medula Óssea, a pesquisadora da USP-Ribeirão Preto, Belinda Simões, acredita
que com a inclusão do transplante no SUS, o Brasil possui hoje o programa
de saúde mais completo do mundo para esse tipo de doença. "Vai desde a
triagem neo-natal até todo um programa de educação familiar, antibiótico
profilático, medicação. Dentro do que já era oferecido, faltava esse aspecto,
pois não são todos que precisam do transplante, mas muitos não têm outra
opção", disse ela, que foi uma das médicas que participou da cirurgia de
Elvis.
A médica destacou que
em torno de 4% a 5% da população brasileira carrega o gene da doença, que mais
prevalente em afrodescendentes. A doença se manifesta, na maioria das vezes,
após os seis meses de vida do bebê, sendo o "Teste do Pezinho" a
melhor forma de diagnóstico.
A partir de
publicação da portaria, o Sistema Nacional de Transplantes tem até 180 dias
para incluir a doença falciforme em seu regulamento técnico, de forma a
garantir o acesso gratuito dos portadores que se encaixarem em critérios
definidos.
O procedimento é
indicado para pacientes com doença falciforme em uso de hidroxiureia que
apresente, pelo menos, uma das seguintes condições: alteração neurológica
devido a acidente vascular encefálico, alteração neurológica que persista por
mais de 24 horas ou alteração de exame de imagem, doença cerebrovascular
associada à doença falciforme, mais de duas crises vasoclusivas (inclusive Síndrome
Torácica Aguda) graves no último ano; mais de um episódio de priapismo (ereção
involuntária e dolorosa), presença de mais de dois anticorpos em pacientes sob
hipertransfusão; ou osteonecrose em mais de uma articulação.
O transplante de
células-tronco hematopoéticas é feito entre parentes a partir da medula óssea,
de sangue periférico ou de sangue de cordão umbilical.
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