Cirurgia
pode ajudar quem quer tanquinho, mas só é indicada para quem tem peso ideal.
São Paulo - Ter uma
barriga tanquinho demora: são meses de dieta persistente, treinos na academia,
quilos levantados e muita dedicação. Mas existe um grupo de pessoas que, mesmo
depois de se submeter a todo esse circuito de suor por meses, não consegue
alcançar o tão sonhado abdômen trincado.
O que será que elas
estão fazendo de errado no caminho rumo ao six pack?
A resposta costuma
estar na alimentação. Há, obviamente, quem tenha maior estoque de gordura por
questões genéticas, mas, no geral, é o que colocamos para dentro do corpo que
faz com que ele construa adiposidades onde ninguém quer.
E, entre os maiores
vilões à mesa, um dos campeões é o álcool. A nutricionista e gastróloga,
especialista em nutrição clínica e esportiva Gabriela Cilla explica que não há
erro maior do que, depois de se matar na academia, abrir uma cerveja para
descontrair. “Se a pessoa tem essa atitude, tudo que ela fez antes foi em vão,
porque ela deixa de absorver a testosterona gerada no treino.”
Cilla explica que,
quando a ideia é eliminar a barriguinha persistente, o ideal é cortar ao menos
70% do álcool da dieta.
“Não é para parar de beber, mas diminuir”,
resume. “A gente acha que bebe cerveja e faz bastante xixi e, por isso, estaria
eliminando o álcool, mas, não, estamos apenas desidratando”, completa Maria
Flávia Sgavioli, especializada em nutrição clínica funcional. “Isso atrapalha o
ganho de massa magra. Fora que as bebidas são extremamente calóricas”.
Além de deixar de lado
os drinques, as nutricionistas recomendam, também, pegar mais leve nos
carboidratos. “Não é para, de forma alguma, cortá-los da alimentação, mas
ajustar o consumo. Para quem pratica atividade física, o ideal é ter em torno
de 40% da dieta focada neste grupo”, ensina Sgavioli, que conta que, na
alimentação média do brasileiro, esta porcentagem costuma ser de 60%, algo que
ela considera muito alto.
“A pessoa pensa assim:
‘Quero perder barriga, então vou cortar só os carboidratos’. Só que tudo que
ela ingere em excesso também vira carboidrato no corpo. A proteína, por
exemplo, quando em excesso vira carboidrato”, afirma Cilla.
Sobre os suplementos, a
médica orienta que se ingira o whey protein no pós-treino ou como um lanche
avulso e que se deixe a maltodextrina de lado. “É um açúcar totalmente
desnecessário”, justifica. O ideal, porém, é que a indicação para a
suplementação de proteína seja feita por um especialista.
E, por falar em açúcar,
ela lembra que até mesmo as pequenas doses que adoçam o cafezinho, quando acumuladas,
também contam —e muito. Portanto, o ideal é diminuir a quantidade, cortando,
especialmente, os refrigerantes das refeições, e beber também mais água. “As
pessoas até treinam bem, porém a alimentação delas não é adequada. Elas erram
muito por não ter orientação.”
Na opinião do
preparador físico especialista em treinamento de força e musculação Marcelo
Santana, quando combinada à alimentação adequada, a atividade física sempre
oferece caminhos até o corpo dos sonhos —inclusive no caso do “tanquinho”.
“São necessários
regularidade e exercícios intensos e pontuais, o que não quer dizer
necessariamente muita carga. Algumas pessoas respondem muito bem e rapidamente;
outras, menos, por conta da individualidade biológica”, explica.
“Mas não conheço nenhuma
pessoa que não tenha feito tudo dentro deste cronograma e não tenha conseguido
resultado. Às vezes é preciso recorrer à modulação hormonal, o que não tem nada
a ver com anabolizantes, e até nestes casos é possível chegar ao que se
espera”.
Ainda assim, há quem
tenha pressa e prefira optar pela solução mais rápida: a cirurgia plástica. No
cardápio dos consultórios há procedimentos que prometem desde um abdômen
“rasgado” de cima a baixo, como é o caso da operação para construir um ab
crack, até a chamada lipo 3D, quando são esculpidos os tão desejados “gominhos”
na parede abdominal.
“A lipo 3D está
indicada para pessoas eutróficas, ou seja, com o peso próximo ao ideal para sua
idade e altura. Não é indicada para pessoas que sofrem de sarcopenia (perda de
massa muscular) nem para pacientes com flacidez de pele ou com muitas estrias.
Também não está indicada para obesos, porque não é um método de emagrecimento”,
explica a cirurgiã plástica pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Márcia Freire.
Segundo o cirurgião
Pedro Lozano, especializado em cirurgia plástica pela Faculdade de Medicina do
ABC (FMABC), o método vem se aperfeiçoando nos últimos anos.
“Inicialmente o aspecto
não era natural. Com o passar do tempo, muitos destes casos evoluíram com irregularidades”.
Para ele, é recomendável, ainda, que apenas quem já tem o abdômen ligeiramente
definido opte pela lipo de alta definição, que pode custar alguns milhares de
reais.
O presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica Niveo Stessen, professor de cirurgia
plástica da Santa Casa de Porto Alegre e mestre pela Unifesp, recomenda
parcimônia antes de se submeter a uma lipo 3D.
“Essa cirurgia tem um
apelo sedutor, mas é importante informar que ela não é uma técnica diferente”,
alerta. “Os pacientes pensam que quem fala que faz lipo 3D está em outro
patamar de conhecimento e de possibilidade de resultado melhor. É uma venda de
ilusões”, completa.
O preparador físico
Marcelo Santana afirma que não é contra a cirurgia, mas ela é indicada para
aqueles que desejam algo mais rápido e direto. “Conquistar um tanquinho é
possível. Só precisa ter acompanhamento médico, de um nutricionista e um bom
treino para alinhar os resultados.”
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