De acordo com
informações do Ministério da Saúde, as pessoas com idade acima dos 70 anos são
as que mais cometem suicídio no Brasil. Essa triste e preocupante estatística
indica que a atenção ao bem-estar dessas pessoas durante o período de
isolamento social imposto pelo novo coronavírus deve ser dobrada. "Se essa
situação de estresse continuar, pode gerar uma série de transtornos
mentais", alerta o psiquiatra Renato Araújo, da Clínica Mangabeiras, em
Belo Horizonte.
De acordo com ele, além
do risco de suicídio, problemas como a ansiedade e a depressão podem surgir nos
idosos, que, além de serem mais propensos a esses transtornos, ainda carregam
um peso extra por estarem no grupo de risco da Covid-19. Por isso, o
especialista destaca que a família precisa ficar atenta a sinais de que alguma
coisa está errada. "É mais difícil diagnosticar a depressão em idosos
porque há mais falta de apetite e alteração do sono do que transtorno de humor.
Assim a doença pode passar despercebida", explica Renato Araújo.
O psiquiatra ressalta
que os idosos que moram sozinhos, e não têm família por perto, necessitam de
mais atenção. Neste caso, segundo ele, o ideal é que vizinhos façam um
acolhimento, fazendo compras de supermercado, por exemplo, e verificando
frequentemente se está tudo bem por meio de ligações telefônicas, uma vez que
muitos não conseguem utilizar equipamentos eletrônicos para contato via
internet. "As famílias não podem deixá-los por conta própria, achando que
são autossuficientes. Ninguém é", alerta o médico.
Já para os idosos que
vivem com suas famílias, Renato Araújo recomenda que eles sejam incluídos no
contexto familiar, participando das atividades da casa e também atividades
lúdicas, como jogos de quebra-cabeça e palavras cruzadas, e leituras. Se houver
quintal ou varanda na residência, é importante que a família leve o idoso para
um banho de sol, nos horários apropriados (antes das 10h ou depois das 16h),
onde é importante reservar um tempo para ouví-los. "Eles têm sabedoria,
história de vida, já passaram por privações e podem muito nos ensinar",
comenta o psiquiatra.
Resistência ao
isolamento social.
Um levantamento on-line
realizado pelo Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental, em parceria com a
empresa de monitoramento de mercado, Hibou, mostra que, no Brasil, 30% dos
idosos não seguem rigorosamente as medidas de isolamento e distanciamento social.
Renato Araújo aponta
duas hipóteses principais para o que foi constatado pela pesquisa: necessidade
de trabalhar e sentimento de que já viveram o suficiente e, por isso, não
querem ficar confinados. Além disso, o especialista destaca a forma como os
idosos são julgados pela sociedade. "De tanto as pessoas falarem que os
idosos são negligentes, só vemos idosos nas ruas", lamenta o psiquiatra.
"Eles vivem com medo do vírus, do julgamento da sociedade e dos
transtornos ocasionados por tudo isso", completa o médico.
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