Desde o início da
pandemia do novo coronavírus, especialistas têm se preocupado com os efeitos da
covid-19 na saúde mental das pessoas. Há o receio de adoecer, de perder
pessoas queridas ou ficar sem dinheiro. Tem a solidão causada pelo isolamento,
a rotina alterada e os conflitos agravados pela convivência mais intensa com
familiares. Tudo isso tira as pessoas do equilíbrio, e alguns estudos já
mostram o impacto inicial.
Nos EUA, o número de
receitas de antidepressivos e medicamentos contra ansiedade e
insônia aumentou 21% entre 16 de fevereiro e 15 de março, quando a OMS
(Organização Mundial da Saúde) classificou a covid-19 como pandemia e já havia
mais de 4 mil casos confirmados no país. Os dados são da Express Scripts, um
tipo de empresa que atua como intermediária entre farmácias e planos de saúde.
Os populares calmantes
(principalmente benzodiazepínicos, que no Brasil são “tarja preta”) foram o
tipo de medicamento mais prescrito, com salto de 34% de um mês para outro. Para
antidepressivos e indutores de sono, os aumentos foram de 18,6% e 15%,
respectivamente.
Chama a atenção que
mais de três quartos de todas as receitas enviadas eram para novos usuários, ou
seja, pacientes que começaram a usar os medicamentos na ocasião. Isso contradiz
a ideia de que o crescimento foi apenas resultado do receio que muitos médicos
ou pacientes tiveram de que faltaria remédio no mercado.
É provável que o
aumento registrado entre os meses de março e abril seja ainda maior, já que o
período envolveu, ao mesmo tempo, a quarentena e a elevação explosiva de mortes
–enquanto eu escrevo este texto, o número ultrapassa 63 mil nos EUA, segundo
dados da Universidade Johns Hopkins.
A Express
Scripts ressalta que o salto no número de medicamentos contra ansiedade e
insônia é preocupante, uma vez que o país vinha conseguindo diminuir o uso
deles nos últimos anos. Medidas como terapia e mudanças no estilo de vida podem
evitar o consumo desses psicofármacos em muitos casos, mas tudo isso leva
tempo. Um levantamento feito com 21 milhões de pessoas com seguro saúde indicou
uma redução de 12%, de 2015 para 2019. Para os indutores de sono, a queda foi
de 11,3% no mesmo período.
Para os
antidepressivos, também indicados para casos de ansiedade e outros transtornos,
porém, houve aumento de 15% de 2015 a 2019. Para adolescentes (13 a 19 anos), o
salto foi de 38%, sendo que as garotas consomem duas vezes mais o medicamento
que os garotos. Estudos mostram que os jovens têm sofrido mais com transtornos
emocionais (o que preocupa), mas também têm buscado mais ajuda (o que é bom).
Este é um momento de
exceção para todo o mundo, em especial para os EUA, que chegou a registrar mais
de 2.000 mortes em 24 horas por diversos dias em abril. Essa semana, nosso novo
ministro da Saúde apontou que o Brasil pode alcançar mais de 1.000 mortes por
dia. Sintomas de ansiedade e depressão devem
ser levados a sério, não só porque causam sofrimento e incapacidade, mas também
porque interferem no autocuidado. Quem não consegue comer e dormir, ou então
abusa do álcool e do fumo para obter algum alívio pode ficar mais vulnerável a
infecções. E quem não consegue sair da cama não pode dar a atenção devida aos
filhos ou aos pais.
Mas é muito importante
lembrar que todos esses remédios possuem efeitos colaterais, e cada paciente
reage de uma forma diferente. Principalmente no início do tratamento,
antidepressivos podem causar sintomas como náusea, sonolência, insônia,
agitação e até pensamentos de suicídio, sendo que os benefícios demoram algumas
semanas para aparecer.
Drogas com efeito
sedativo podem afetar a memória e a concentração, e agravar quadros de apneia
do sono, o que é complicado para um idoso que vive sozinho.
E misturar essas drogas com álcool ou outras substâncias pode ser muito
perigoso.
A maior parte dos novos
usuários desses psicofármacos tem sido acompanhada apenas por telefone ou vídeo
com o médico, o que pode prejudicar a comunicação e fazer com que algum detalhe
importante escape da consulta. É por isso que a participação da família e das
redes de apoio (amigos e colegas próximos) é essencial, mesmo quando os
contatos são feitos só com ajuda da tecnologia.
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