Cerca de 41 milhões de
brasileiros têm obesidade hoje,
número que se torna alarmante quando percebemos que a manifestação do problema
aumentou quase 68% entre 2006 e 2018, de acordo com o Ministério da Saúde.
Quando olhamos para o sobrepeso em si, os dados assustam: 116 milhões de
pessoas, ao redor de metade da população, vivem nessa condição.
Mas números significam
pouco se não entendermos a complexidade da doença e seu impacto no dia a dia. A
falta de conhecimento sobre a obesidade contribui para o preconceito e
leva muita gente a se queixar de como é tratada pelos profissionais de saúde,
deixando inclusive de procurar tratamento adequado.
Médicos em geral
oferecem pouco mais que orientações do tipo “Coma menos e se exercite mais”. Um
caminho para reverter essa situação e conscientizar os brasileiros vem de
campanhas como a Saúde Não Se Pesa, promovida
desde 2016.
Para vencer a
obesidade, o primeiro passo é reconhecê-la como doença crônica, com fortes
componentes genético e ambiental, e não consequência exclusiva de maus hábitos
ou questão estética. As pessoas respondem de formas muito distintas às
intervenções de perda de peso — o que é excelente para um pode ser péssimo para
outro.
Daí a importância de
buscar profissionais especializados e capazes de traçar um plano
individualizado. Além disso, a ideia nem sempre é necessariamente levar o
paciente a um IMC “normal”. Perdas de 5 a 15% do peso já melhoram a
saúde.
Raramente dizer às
pessoas para comer menos e se mexer mais é o suficiente, porque o organismo é
altamente regulado: a cada quilo perdido, o gasto metabólico se reduz em média
30 calorias e a fome aumenta em 100 calorias.
É
como um elástico: quanto mais eu puxo, mais força tenho
que fazer para continuar puxando. Por isso o tratamento tem de ir além da perda
de peso. Devemos focar também em manter o peso perdido, um processo que é como
andar numa escada rolante ao contrário. Nesse sentido, o exercício físico é
crucial (até mais do que para perder peso), e a vigilância sobre a balança, pesando-se
com frequência e impondo limites, é outra tática bem-vinda.
Não
existe ex-obeso. Existe obesidade controlada. Para ter
sucesso no tratamento, precisamos ampliar a conscientização sobre o tema e
capacitar mais profissionais de saúde para que possam ajudar os pacientes nessa
jornada. Do contrário, a obesidade seguirá uma mão de via única e pouquíssimas
pessoas que estão com a doença conseguirão perder peso e mantê-lo no nível
ideal.
*** Dr. Bruno Halpern
é endocrinologista, diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
da Síndrome Metabólica (Abeso) e da Federação
Latino-Americana de Obesidade e chefe do Centro de Controle de Peso do Hospital
9 de Julho (SP).
Nenhum comentário:
Postar um comentário