FONTE: *** Bruno Villa e Bruno Wendel (CORREIO DA BAHIA).
Desde o dia 2 de outubro de 2008, quando a filha Stephany de Jesus, 6 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça, a doméstica Ivonete de Jesus, 32 anos, não tem coragem de olhar para uma foto da garota. Stephany foi baleada na frente da casa, no bairro de Santa Mônica.
O inquérito instaurado na 2ª Delegacia (Lapinha) sequer foi denunciado ao Ministério Público. O caso Stephany ilustra um dos problemas da violência em Salvador: a deficiência nas investigações de homicídios impede que os casos sejam enviados à Justiça e os criminosos, punidos. De janeiro a 30 de outubro de 2009, 1.054 mortes estão impunes. Nesse período, a Polícia Civil registrou 1.404 assassinatos, dos quais apenas 350 foram enviados à Justiça para serem julgados.
O número representa 25%. O percentual melhorou um pouco em relação a todo o ano de 2008, quando foram encaminhados à Justiça 310 dos 1.733homicídios registrados - 18%. Stephany foi baleada no dia 28 de setembro quando dois homens tentaram matar o irmão da menina, Emerson Santos, 16. Além de suportar a dor da perda, familiares reclamam de punição aos assassinos.
“O tempo passa, mas a dor ainda é muito grande A lembrança dói demais. Perdi minha vida”, diz a mãe. As investigações do assassinato de Stephany estão paradas na 2ª DP há mais de um ano. “Todo mundo sabe que ‘Porquinho’ participou dos assassinatos, mas um policial me disse que não pode prender ele porque não tem provas”, diz Ivonete.
MEDO
A falta de provas testemunhais é o principal problema dos inquéritos enviados ao MP, segundo o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais do MP, promotor José Oliva. “Quem viu o crime tem medo de falar e ser morto. Por isso que esses casos não avançam. As pessoas sabem quem foi, mas não testemunham”, explicou.
Contudo, ele reconhece o prejuízo às investigações provocadas pela falta de infraestrutura e condições de trabalho adequadas. “A nossa Justiça não é perfeita. Faltam delegados, promotores e juízes. Em casos de homicídio, esses problemas são mais sentidos, porque as investigações precisam ser rápidas”.
DESCRÉDITO
Os problemas nas investigações fazem com que familiares das vítimas percam esperança na polícia e na Justiça. “Nós não temos mais esperança na polícia, eles têm até medo de entrar aqui”, lamentou o pai de Stephany, o auxiliar de carga e descarga Joseval de Jesus.
Ele estava em um bar na frente da casa quando dois homens, identificados como Rogério e “Porquinho”, assassinaram a garota. “Não consigo tirar a imagem dela da minha cabeça. Até quando estou trabalhando lembro da minha filha”, desabafou.
Ivonete, que além de Stephany perdeu, no último dia 6, o filho Emerson, assassinado em Sussuarana, disse que tem medo de procurar a polícia. “A revolta é grande, mas não quero mexer nisso. Já perdi dois filho e não quero perder mais nenhum”, declarou.
MÁGOA
O sofrimento da dona de casa Rita de Cássia Santiago,41, não é diferente da dor de Ivonete. Mãe do estudante Claudionor Santiago de Jesus, 18, assassinado por traficantes por não cumprir o “toque de recolher” em Pero Vaz, em junho deste ano, Rita de Cássia ainda vara as noites chorando pela morte do filho. “Não sou a mesma mulher de antes”.
Como se não bastasse a perda do rapaz - fuzilado na ocasião que gangues promoveram o terror na capital - a mãe esbarra na lentidão das investigações, realizadas também por agentes da 2ªDP. “Desde que meu filho foi morto, nunca um policial esteve aqui”.
Questionada se acredita na possibilidade de algum dia os assassinos possam ser presos, a dona de casa mostrou-se decepcionada com a polícia. “A polícia tá nem aí pra a gente. Pra eles foi mais um que morreu. Mas meu filho estudava, não era envolvido com nada”.
Com olhos marejados, Rita de Cássia contou que, recentemente, o marido teve uma crise nervosa. “Ele disse que não aguentava mais tanto sofrimento”. Descrente da justiça dos homens, é na fé que ela consegue conforto para tanta dor. “Peço a Deus que nenhuma mãe passe pelo o que estou passando”.
A equipe do CORREIO esteve na sexta-feira (20/11), à tarde, na 2ªDP para obter informações sobre os dois casos citados, mas não havia delegado e nem agentes no Setor de Investigação.
EMPERRADO
Mesmo com alguns inquéritos denunciados ao Ministério Público, investigações ainda ficam estáticas. Filho do policial militar aposentado João Batista Cruz, 53,- assassinado em agosto de 2006, após ter sido reconhecido por ladrões -, o administrador Igor Pontes, 29, disse que eles continuam soltos.
“A gente escuta o boato de que eles circulam pelo bairro (Matatu, onde reside)”, disse Igor que em seguida desabafou: “Depois da morte de meu pai,outras tantas famílias sofreram com a perda de parentes e hoje vivem também angustiadas com a impunidade”.
*** Notícia publicada na edição do dia 29/11/2009 do CORREIO.
Desde o dia 2 de outubro de 2008, quando a filha Stephany de Jesus, 6 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça, a doméstica Ivonete de Jesus, 32 anos, não tem coragem de olhar para uma foto da garota. Stephany foi baleada na frente da casa, no bairro de Santa Mônica.
O inquérito instaurado na 2ª Delegacia (Lapinha) sequer foi denunciado ao Ministério Público. O caso Stephany ilustra um dos problemas da violência em Salvador: a deficiência nas investigações de homicídios impede que os casos sejam enviados à Justiça e os criminosos, punidos. De janeiro a 30 de outubro de 2009, 1.054 mortes estão impunes. Nesse período, a Polícia Civil registrou 1.404 assassinatos, dos quais apenas 350 foram enviados à Justiça para serem julgados.
O número representa 25%. O percentual melhorou um pouco em relação a todo o ano de 2008, quando foram encaminhados à Justiça 310 dos 1.733homicídios registrados - 18%. Stephany foi baleada no dia 28 de setembro quando dois homens tentaram matar o irmão da menina, Emerson Santos, 16. Além de suportar a dor da perda, familiares reclamam de punição aos assassinos.
“O tempo passa, mas a dor ainda é muito grande A lembrança dói demais. Perdi minha vida”, diz a mãe. As investigações do assassinato de Stephany estão paradas na 2ª DP há mais de um ano. “Todo mundo sabe que ‘Porquinho’ participou dos assassinatos, mas um policial me disse que não pode prender ele porque não tem provas”, diz Ivonete.
MEDO
A falta de provas testemunhais é o principal problema dos inquéritos enviados ao MP, segundo o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais do MP, promotor José Oliva. “Quem viu o crime tem medo de falar e ser morto. Por isso que esses casos não avançam. As pessoas sabem quem foi, mas não testemunham”, explicou.
Contudo, ele reconhece o prejuízo às investigações provocadas pela falta de infraestrutura e condições de trabalho adequadas. “A nossa Justiça não é perfeita. Faltam delegados, promotores e juízes. Em casos de homicídio, esses problemas são mais sentidos, porque as investigações precisam ser rápidas”.
DESCRÉDITO
Os problemas nas investigações fazem com que familiares das vítimas percam esperança na polícia e na Justiça. “Nós não temos mais esperança na polícia, eles têm até medo de entrar aqui”, lamentou o pai de Stephany, o auxiliar de carga e descarga Joseval de Jesus.
Ele estava em um bar na frente da casa quando dois homens, identificados como Rogério e “Porquinho”, assassinaram a garota. “Não consigo tirar a imagem dela da minha cabeça. Até quando estou trabalhando lembro da minha filha”, desabafou.
Ivonete, que além de Stephany perdeu, no último dia 6, o filho Emerson, assassinado em Sussuarana, disse que tem medo de procurar a polícia. “A revolta é grande, mas não quero mexer nisso. Já perdi dois filho e não quero perder mais nenhum”, declarou.
MÁGOA
O sofrimento da dona de casa Rita de Cássia Santiago,41, não é diferente da dor de Ivonete. Mãe do estudante Claudionor Santiago de Jesus, 18, assassinado por traficantes por não cumprir o “toque de recolher” em Pero Vaz, em junho deste ano, Rita de Cássia ainda vara as noites chorando pela morte do filho. “Não sou a mesma mulher de antes”.
Como se não bastasse a perda do rapaz - fuzilado na ocasião que gangues promoveram o terror na capital - a mãe esbarra na lentidão das investigações, realizadas também por agentes da 2ªDP. “Desde que meu filho foi morto, nunca um policial esteve aqui”.
Questionada se acredita na possibilidade de algum dia os assassinos possam ser presos, a dona de casa mostrou-se decepcionada com a polícia. “A polícia tá nem aí pra a gente. Pra eles foi mais um que morreu. Mas meu filho estudava, não era envolvido com nada”.
Com olhos marejados, Rita de Cássia contou que, recentemente, o marido teve uma crise nervosa. “Ele disse que não aguentava mais tanto sofrimento”. Descrente da justiça dos homens, é na fé que ela consegue conforto para tanta dor. “Peço a Deus que nenhuma mãe passe pelo o que estou passando”.
A equipe do CORREIO esteve na sexta-feira (20/11), à tarde, na 2ªDP para obter informações sobre os dois casos citados, mas não havia delegado e nem agentes no Setor de Investigação.
EMPERRADO
Mesmo com alguns inquéritos denunciados ao Ministério Público, investigações ainda ficam estáticas. Filho do policial militar aposentado João Batista Cruz, 53,- assassinado em agosto de 2006, após ter sido reconhecido por ladrões -, o administrador Igor Pontes, 29, disse que eles continuam soltos.
“A gente escuta o boato de que eles circulam pelo bairro (Matatu, onde reside)”, disse Igor que em seguida desabafou: “Depois da morte de meu pai,outras tantas famílias sofreram com a perda de parentes e hoje vivem também angustiadas com a impunidade”.
*** Notícia publicada na edição do dia 29/11/2009 do CORREIO.
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