segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ESTRANGEIRISMO E XENOFOBIA...

FONTE: *** ÚLTIMA INSTÂNCIA.
REFÚGIO – Antônio, Benedito, Bento, Carlos, Francisco, Geraldo, José, João, Joaquim, Luiz, Manoel, Pedro, Raimundo, Severino, etc., etc.
Creio que somente aqueles que já tenham ultrapassado as três décadas de vida, pelo menos, têm os nomes da lista. Tudo mudou. A moda agora são nomes inventados, macaquices, mistura de nomes de pai e mãe e outras aberrações.
Antônio, creio que ainda está por aí o mais famoso deles, nas últimas décadas: Antônio Delfim Neto, o todo poderoso ministro do “milagre econômico” dos tempos da ditadura militar.
Bento, Benedito ou Bendito – tudo significa a mesma coisa – somente se conhece um: o Papa.
Ocorre no Brasil um fenômeno interessante quanto à escolha de nomes que os pais fazem para os seus filhos.
Depois dos nomes antigos e tradicionais, como esses da lista do início, a mania eram os nomes de apóstolos de Cristo, como Lucas, Daniel, Pedro, Tiago, Tomé. E por aí vai. Ainda são usados, mas a moda quase passou.
Ainda em época recente, surgiu a mania esdrúxula de inventar nomes para os filhos, combinando os nomes do pai e da mãe. Saíram as coisas mais estrambóticas. Querem um exemplo: a prefeita da cidade de Natal, chamada Micarla, é a combinação de Mirian e Carlos. Este é até tolerável. Mas existem alguns que, é muito provável, os filhos abominam e todos os dias devem imaginar onde seus pais estavam com a cabeça. Listas que circulam, retiradas de registros de Cartórios, mostram anomalias. Há casos de mistura que resulta em pornografia. Outros marcam para a vida inteira os seus donos. São motivos para piadas e chacotas.
Há, no entanto, um fenômeno que, certamente, merece um estudo de cientistas sociais ou de ciências que tratem das manias da população.
Sãs os nomes de jogadores de futebol, no Brasil. Há uma infinidade de nomes de craques (outros nem tanto assim), terminados com a palavra “son”, que em inglês significa filho.
Há, também, uma mania de escolher para os filhos nomes, supostamente em língua estrangeira, terminados em “ton”.
Navegando na internet, encontrei um site de uma entidade que reúne os notários e os tabelionatos, brasis afora, onde consta uma imensa lista de nomes de jogadores de futebol, todos brasileiros. Em tom de piada, diz o editor do site:
“A seleção da coluna entrará em campo para o próximo compromisso com a seguinte formação: Glédson; Joílson, Halisson, Acleisson e Richarlyson; Vanderson, Kléberson, Glaydson e Taison; Wallyson e Keirrison. No banco de reservas ficarão Wanderson (goleiro), Jadilson, Maylson, Leanderson, Cleverson e Roberson.
A seleção adversária, armada no três-cinco-dois, se apresentará com: Weverton; Adailton, Heverton e Welton; Arilton, Cleiton, Éverton, Uelliton e Neilton; Washington e Elton. Os reservas serão Dalton (goleiro), Erivelton, Hamilton, Wellington, Hélton e Jailton.”
Garante o portal notarial que, sem exceção, todos são nomes verdadeiros, pinçados nos livros de registro.
Para complementar, ainda aparecem outros nomes de jogadores, como “Weverton, goleiro do Vila Nova, de Goiás e Acleisson, volante do Mirassol, clube do interior paulista”, dizem os notários.
Vai distante o tempo em que os jogadores mais conhecidos, notadamente aqueles da seleção do Brasil, tinham apelidos como Pelé, Didi, Dida, Pepe, Telê, Zico. E por aí seguia. Os nomes mudaram, mas a história mostra que os antigos eram melhores.
O que explicaria o fenômeno?
Dizem alguns estudiosos que os pais, quando escolhem os nomes extravagantes, têm o intuído de dar aos filhos nomes que os tornem importantes. Para tanto, entendem que o meio mais apropriado são os nomes em inglês. Não querem que os filho sejam iguais a todos os outros, ou um “João ninguém”.
Há, ainda, um outro detalhe interessante: vários jogadores de futebol brasileiros têm o nome de Maicon. É um deles o lateral direito da seleção brasileira, titular do Internacional, de Milão, apontado como o melhor do mundo em sua posição.
As hipóteses aventadas para explicar são várias. Diz a maioria que seria uma corruptela do nome, também em inglês, Michael. Poderia levar, dessa forma, a vincular os “Maicon” ao Michael Jackson, o astro pop recentemente falecido. Outro detalhe é que, além da grafia mais usada, Maicon, existem, ainda, registros indicando que há pessoas chamadas Maycon, Maykon e Maikon.
Tenho minhas dúvidas quanto à explicação sobre o uso do Maicon como uma imitação (ou homenagem) ao Michael Jackson. Existem alguns “Maicon” (como o lateral direito já aludido) que têm idade em torno de trinta anos. Ora, há três décadas o astro norte-americano ainda não era assim tão famoso no Brasil.
Outros nomes chamam a atenção. Em outra pesquisa, encontrei listas de pessoas que têm nomes esquisitos. Por exemplo, ainda com a mania do estrangeirismo, embora muitos sejam difíceis de acreditar, há pessoas com os seguintes nomes: Gabrielly, Rayssah, Fillypy, Marcelly, Karollyne, Kammilly, Gennyfer,Jhenyffer,Jenifer; Wellynton,Welyntone, Ueliton, Wellston, Klésya; Wuesclein; Keylliannys, Willybur, Welcon, Jheysi, etc., etc. A maioria dos nomes desta última lista foi encontrada em uma pesquisa feita por estudantes de sociologia, em comunidades de grandes cidades do Brasil.
Há, ainda, um outro aspecto que pode determinar estudo para explicar por que existem tantos brasileiros obcecados por palavras estrangeiras. Há, até, um detalhe. Ninguém pode desconhecer que, no Brasil e em muitos outros lugares do mundo, existe uma aversão aos americanos e, por conta disso, são até hostilizados. É uma xenofobia que a cada dia mais se acentua. Não são bem vistos até os brasileiros que residem nos Estados Unidos, como é o meu caso.
No entanto, há uma mania de usar expressões em inglês, certamente com o propósito de impor mais status.
Não se usa mais “entrega”. Agora é “delivery”. A antiga liquidação ou queima de estoque mudou para “sale”. Ninguém mais dá descontos. Agora usa-se o “off” para indicar redução nos preços.
E por aí vai!

*** Josué Maranhão é jornalista e advogado aposentado. Iniciou-se como jornalista no Nordeste, na década de 1950. Atuou durante 15 anos, tendo exercido diversas funções em redações de jornais. Formado em direito pela UF-RN, advogou em Natal e foi juiz em Recife, nos anos 1960 e 70. Em São Paulo, trabalhou como advogado durante mais de 20 anos. Mudou-se para o exterior em 1996. Morou na Indonésia e na Malásia. Reside em Boston (EUA) desde 1998, quando voltou ao jornalismo. É autor de Jacarta, Indonésia, Fazer a América e Um Repórter à Moda Antiga, todos à venda na Livraria Última Instancia.

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