FONTE: Arthur Guimarães, do UOL Notícias, em São Paulo.
Aposentando os bloquinhos de anotação e os tradicionais sistemas de divulgação de resultados, os operadores do jogo do bicho em São Paulo digitalizaram o negócio. Foi-se o tempo em que, sentados em cadeiras nos cantos de bares, os funcionários dessa loteria ilegal anotavam apostas e distribuíam o número dos animais sorteados em pequenos pedaços de papel escritos com caneta.
Hoje, como a reportagem do UOL Notícias comprovou em vários pontos da cidade, os contraventores estão usando um sistema que lembra o utilizado em restaurantes para o pagamento de refeições com cartões de débito e crédito. Como visto, assim que o cliente chega com sua aposta, prontamente o anotador passa a digitar os números dos animais escolhidos no terminal eletrônico, chamado de POS (ponto de venda, da sigla em inglês).Em instantes, a engenhoca computa os dados e imprime, automaticamente, o recibo do jogo feito. Nesse comprovante, está escrito o nome do grupo - como "Juruna", "Gentil" ou "Paulinho", exemplos dos casos vivenciados - e outras informações, como "reclamações, 3 dias" e frases codificadas como "Mc cotadas 2008", além do valor total da "fezinha".Pelo o que os funcionários da loteria criminosa informaram ao repórter - sem saber que estavam sendo entrevistados -, todas as informações das apostas são enviadas, via "satélite ou telefone", para uma central, em que os cabeças do jogo do bicho na cidade montam um banco de dados para servir de garantia na hora de conferir e pagar os ganhadores.O caminho inverso também é feito pelo novo sistema de comunicação. O anotador informa que basta voltar no dia seguinte - "ou mais tarde" - para saber quais foram os animais sorteados. Dito e feito. Ao retornar ao local, o resultado estava impresso e era dado a quem requisitasse. No caso, para a modalidade "Para Todos" do dia 25 de novembro, lá estavam elencados: "Peru, Coelho, Leão, Tigre, Peru, Coelho e Cavalo".Apesar de parecer um sistema totalmente clandestino, a bobina de papel e os terminais utilizados pelo repórter eram de marcas conhecidas.
Hoje, como a reportagem do UOL Notícias comprovou em vários pontos da cidade, os contraventores estão usando um sistema que lembra o utilizado em restaurantes para o pagamento de refeições com cartões de débito e crédito. Como visto, assim que o cliente chega com sua aposta, prontamente o anotador passa a digitar os números dos animais escolhidos no terminal eletrônico, chamado de POS (ponto de venda, da sigla em inglês).Em instantes, a engenhoca computa os dados e imprime, automaticamente, o recibo do jogo feito. Nesse comprovante, está escrito o nome do grupo - como "Juruna", "Gentil" ou "Paulinho", exemplos dos casos vivenciados - e outras informações, como "reclamações, 3 dias" e frases codificadas como "Mc cotadas 2008", além do valor total da "fezinha".Pelo o que os funcionários da loteria criminosa informaram ao repórter - sem saber que estavam sendo entrevistados -, todas as informações das apostas são enviadas, via "satélite ou telefone", para uma central, em que os cabeças do jogo do bicho na cidade montam um banco de dados para servir de garantia na hora de conferir e pagar os ganhadores.O caminho inverso também é feito pelo novo sistema de comunicação. O anotador informa que basta voltar no dia seguinte - "ou mais tarde" - para saber quais foram os animais sorteados. Dito e feito. Ao retornar ao local, o resultado estava impresso e era dado a quem requisitasse. No caso, para a modalidade "Para Todos" do dia 25 de novembro, lá estavam elencados: "Peru, Coelho, Leão, Tigre, Peru, Coelho e Cavalo".Apesar de parecer um sistema totalmente clandestino, a bobina de papel e os terminais utilizados pelo repórter eram de marcas conhecidas.
Os bilhetes, por exemplo, são os mesmos usados nos pagamentos com cartão de débito ou crédito. Aliás, no verso de todos os recibos obtidos pelo UOL Notícias, estava impresso o logotipo da Redecard, empresa que explora as transações bancárias à distância.Os aparelhos também tinham selos que indicavam seus fornecedores. Alguns eram da Verifone e outros eram estampados pela marca da Ingenico, ambas empresas estrangeiras que vendem os chamados POS para o mercado legal.
JOGO DE EMPURRA
Todos os envolvidos na investigação desse tipo de crime, assim como os principais prejudicados pela exploração ilegal do jogo, recusaram-se a dar entrevista sobre a modernização do sistema. A primeira a silenciar foi a Caixa Econômica Federal (CEF), empresa estatal ligada ao governo federal. Pelo decreto-lei 204, de 1967, a instituição tem a exclusividade na criação de novas loterias, o que automaticamente deixa o jogo do bicho na ilegalidade. Dessa forma, cada centavo que entra ilegalmente no caixa deixa de somar nos cofres da União.Mesmo assim, apesar de procurada por dois dias, a Caixa não disponibilizou nenhum representante para comentar o caso. A nova tentativa foi na Polícia Federal (PF), órgão que tem como finalidade proteger as instituições federais, como a Caixa. Em nota, a PF informou que não falaria sobre o assunto, sugerindo que fosse procurada a Polícia Civil de São Paulo.Após solicitada uma entrevista com algum policial paulista que tivesse experiência na investigação desse tipo de ilicitude, a resposta da Secretaria Estadual de Segurança Pública foi a de que não haveria ninguém especializado no assunto. Informada dos endereços dos pontos que a reportagem fez as apostas nos terminais eletrônicos, no entanto, a pasta enviou os dados para o 1º Distrito Policial (DP), na Sé, que mandou homens para checar a denúncia.Após a ação, foi enviada uma nota oficial, em que a secretaria de Segurança Pública informa que o delegado responsável, Marcel Druziani, encaminhou uma "equipe de investigação à rua Regente Feijó, que localizou e deteve um aposentado de 71 anos, acusado de possuir e operar uma máquina eletrônica própria para realização de apostas". Foram também apreendidos "o equipamento e 20 extratos com resultados das apostas, além de duas pules e uma agenda". O detido, segundo o órgão, foi liberado após a elaboração do Termo Circunstanciado, já que nas ocorrências de jogos de azar não cabe prisão. "Os casos são encaminhados diretamente para o Juizado Especial Criminal (Jecrim)", disse a nota, que ainda esclareceu que "a Polícia Civil trabalha no combate ao jogo do bicho, assim como todos os jogos de azar" e que "há poucas ocorrências envolvendo o jogo do bicho".
MAIS SILÊNCIO.
As empresas que comercializam os equipamentos encontrados pela reportagem nos pontos de aposta também não quiseram prestar esclarecimentos, para explicar como seus produtos chegaram na mão dos criminosos. Tanto a Verifone como a Ingenico, que vendem os terminais, não indicaram nenhum funcionário para discutir o mau uso dos POS, dizendo que só os vendem para grandes firmas e que, portanto, seriam elas as responsáveis por prestar esclarecimentos sobre eventuais desvios. Uma dessas empresas, a Redecard, negou entrevistas, divulgando uma nota afirmando que "somente credencia estabelecimentos que apresentem documentos que comprovem suas atividades" e que "fornece bobinas para os estabelecimentos credenciados para que sejam utilizadas nas suas operações de crédito e débito". A Visanet, concorrente nesse mesmo ramo, foi procurada mas também não retornou ao pedido de entrevista.
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