FONTE: ***, CORREIO DA BAHIA.
Ao analisar
tecido cerebral de pacientes, pesquisadores descobriram que 35% dos casos era
de demência vascular, causadas por doenças evitáveis, como hipertensão.
Um
terço dos casos de demência diagnosticados no Brasil poderia ser evitado com o
controle de doenças crônicas como hipertensão e obesidade. É o que indica um
estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, depois da análise de 1.092 cérebros de pacientes com mais de 50 anos
mortos na capital.
Primeiramente,
os especialistas verificaram com familiares quantos dos pacientes tinham
sintomas e diagnóstico de demência, chegando a 480. Ao analisar o tecido
cerebral dessas pessoas, os pesquisadores descobriram que em 50% dos casos a
doença era causada pelo mal de Alzheimer, mas que em outros 35% a demência era
do tipo vascular, ou seja, associada a episódios de derrames geralmente
causados por doenças evitáveis, como a hipertensão.
"A
demência vascular pode ocorrer após um derrame grande, mas também acontece após
repetidos episódios de pequenos derrames cerebrais, que muitas vezes não têm
nenhum grande sintoma e podem passar despercebidos. Na maioria dos casos, esses
derrames podem ser prevenidos com uma boa saúde vascular, ou seja, controlando
a hipertensão, não fumando, praticando atividades físicas", explica
Claudia Suemoto, professora da disciplina de geriatria da FMUSP e uma das
autoras do estudo, publicado no periódico Plos Medicine.
O
que chamou a atenção dos pesquisadores foi que a proporção de demência do tipo
vascular é maior no Brasil do que em outros países. "Estudos
internacionais feitos principalmente nos Estados Unidos e na Europa mostram que
a demência vascular corresponde a 20% dos casos nessas populações, o que indica
que, no Brasil, as falhas na assistência à saúde podem deixar a população mais
suscetível a esse tipo de demência que poderia ser evitada", diz.
O
estudo descobriu ainda que, dos 612 pacientes que não tinham sintomas de
demência, 25% apresentaram, nos exames de imagem, lesões cerebrais indicativas
do problema. "Pode ser que a doença estivesse na fase pré-clínica (sem
sintomas) ou que os familiares achassem que os sintomas eram comuns da
velhice", diz Claudia.
Esquecimentos.
Com hipertensão, sobrepeso e pré-diabete, Gilda Quartim Barbosa, de 88 anos,
teve a demência diagnosticada há quatro anos. Além da causa vascular, o
problema foi agravado pelo mal de Alzheimer, detectado na mesma época.
"Ela sempre foi esquecida, trocava o nome das duas filhas, então só
notamos quando ficou mais intenso. Nunca tivemos coragem de contar. Ela morria
de medo de ter algo assim porque a irmã dela teve o mesmo diagnóstico",
relata a filha Maria de Lourdes Quartim Gotilla, advogada de 60 anos.
Mesmo
morando com uma empregada e um cuidador, Gilda começou a se perder dentro de
casa e a ligar pedindo ajuda para a filha, que a buscava, levava para dar uma
volta no quarteirão e a trazia de volta para a residência. "Só depois
desse ritual, ela percebia que estava mesmo no apartamento dela", diz.
Atualmente,
a idosa está com um diagnóstico de demência de moderada para avançada, de
acordo com a geriatra Elaine Biffi Alonso Vera, médica da unidade Butantã do
Lar Sant’Ana, onde Gilda passou a morar, na zona oeste de São Paulo. "A
doença é degenerativa, então o avanço é inevitável. Mas ela está muito bem, até
menos agitada do que quando chegou. Entende alguns pedidos, mantém pequenas
conversas", explica a médica, que também aponta a participação da idosa em
atividades como a pintura e encontros semanais com crianças de uma creche da
região.
"É
uma doença muito ruim para os familiares. Mas, quando a visito, veja que ela
está feliz. Ela sempre foi muito carinhosa, mas agora se tornou puro amor,
abana e manda beijo para todo mundo", relata a filha, que vê na atual vida
da mãe quase uma lição de como a alegria pode estar nas pequenas coisas.
***
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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