Através de uma carta endereçada à Marielle Fracno, o delegado Brenno
Carnevale fez um desabafo sobre as precárias condições de trabalho na
Divisão de Homicídios da Capital (DH), que investiga o assassinato da vereadora
e do motorista Anderson Gomes em 14 de março.
“Diante do caos programado, sinto muito confessar-lhe que a solução do
seu caso pressupõe a paralisação de uma infinidade de investigações de outras
mortes, pretas e brancas, ricas e pobres, todas covardes. Escolha de Sofia”,
escreveu ele.
O delegado, que já foi titular da DH da Baixada e da
Capital, atualmente trabalha na inteligência da Polícia Civil. “Não
precisamos de heróis. Mas escrevo-lhe a verdade, Marielle. Poucos se preocupam
com as mortes diárias. São muitas as agruras das investigações policiais em
homicídios no Rio de Janeiro”, escreveu o policial, discorrendo em seguida
sobre problemas da divisão.
Segue um trecho da carta: “As viaturas, por exemplo, estão sucateadas e
sem manutenção. A quantidade de investigadores é pífia diante do volume de
vidas humanas ceifadas. As escutas telefônicas, quase uma caixa-preta, muitas
vezes inacessíveis a alguns delegados. Algumas armas somem, outras não
funcionam. Nunca presenciei deputados ou outros poderosos lutando por
equipamentos que permitam encontrar evidências em perícias no Instituto
Médico-Legal. Aliás, esse mesmo instituto não tem impressora para permitir que
uma testemunha seja ouvida imediatamente quando vai liberar o corpo de seu ente
querido. Sim, muitos veículos apreendidos ficam abandonados e sem qualquer
vigilância. Ouse chamar atenção para este fato e a resposta será sempre a
mesma: ‘É assim mesmo’.”
A Polícia Civil alegou que não vai comentar a carta do delegado, já que
se trata de um posicionamento pessoal.
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