A longevidade é
uma das grandes obsessões do ser humano. Viver mais tempo
e envelhecer com saúde são dois desafios constantemente enfrentados
pela medicina e pela ciência, que já conseguiram grandes avanços, com ganhos
para a expectativa de vida, mas ainda se sabe muito pouco sobre o processo
de envelhecimento em si. Um novo
estudo da área, publicado essa semana na revista Nature,
conseguiu relacionar o processo de envelhecimento com a velocidade
com que os mamíferos conseguem processar o lixo celular: quanto mais
rápida for a faxina, maior a longevidade.
A pesquisa, liderada
por Salwa Sebti e Álvaro Fernández, pesquisadores de pós-doutorado do Center
for Autophagy Research da Southwestern Medical Center da
Universidade do Texas, descobriu que ratos com melhores níveis de
auto-fagocitose (o processo pelo qual as células descartam substâncias tóxicas
ou não desejadas que prejudicam a saúde celular) vivem mais e com uma melhor
saúde. Ou seja: quanto mais rápido o corpo se livrar do seu lixo, maior o
tempo e a qualidade de vida.
Beth Levine, diretora
do Center for Autophagy Research e uma das participantes do
estudo, explica que os ratos com fagossomos (que são as células que realizam a limpeza
do organismo) mais eficientes viveram cerca de 10% a mais e estavam menos
sujeito a desenvolver cânceres e doenças cardíacas e do fígado relacionadas com
o envelhecimento. A conclusão é baseada em vinte anos de estudos
realizados no centro de pesquisa, o que permitiu a criação de ratos
geneticamente modificados para ter um organismo mais eficiente.
O primeiro passo se deu
quando o grupo descobriu a enzima beclin, que ajuda os fagossomos a acelerar
sua velocidade, tendo um papel muito importante na auto-fagocitose - e
consequentemente no envelhecimento. Desde então, o centro de pesquisa já
conseguiu provar que a auto-fagocitose desempenha um papel fundamental para a
saúde humana, sendo capaz de prevenir doenças neurodegenerativas, câncer e infecções.
O que ficou claro é que melhorar o rendimento da auto-fagocitose é uma forma
importante de expandir a expectativa de vida. O processo perde performance
com o envelhecimento, o que contribui para o envelhecimento em si, em um
ciclo vicioso.
Agora, os pesquisadores
provaram que, além de aumentar a expectativa de vida, ter um mecanismo
de faxina corporal, como uma reciclagem do lixo celular, também
melhora a qualidade de vida em mamíferos. A resposta veio por meio de
alterações genéticas na enzima beclin, que tem seu funcionamento freado por um
inibidor chamado BCL2. A alteração genética do beclin fez com que esse inibidor
não conseguisse mais se ligar à enzima, permitindo um processo de
auto-fagocitose mais rápido e eficiente. Ou seja: uma limpeza profunda e
rápida.
A partir daí, eles
criaram ratos transgênicos com essa enzima melhorada e observaram seu ciclo de
vida. Como esperado, esses ratos tiveram melhores níveis de auto-fagocitose
desde o nascimento em todos os seus órgãos. Esses animais tiveram um maior
índice de proteção contra uma espécie de Alzheimer presente em ratos e, agora,
ficou provado que a melhor limpeza celular fez com que esses animais
vivessem mais e melhor.
No experimento, os
cientistas deixaram um grupo de 102 ratos mutantes e 68 normais envelhecerem
naturalmente. Os normais ficaram velhos e começaram a morrer aos 15 meses. Após
30 meses, todos os ratos normais estavam mortos. Já os mutantes começaram a
morrer mais tarde, aos 22 meses, e todos estavam mortos aos 40 meses. O
resultado indica que as alteração realizadas no beclin aumentaram a sobrevida
dos ratos em cerca de 5 meses, o equivalente a um aumento de 16% na duração da
vida. Em um humano com expectativa de vida de 80 anos, isso seria
equivalente a viver cerca de 12 anos a mais.
O estudo aponta
um caminho importante para a saúde humana e para o desenvolvimento de
novas drogas capazes de melhorar nosso mecanismo de reciclagem celular. Da
mesma forma que a ciência pode ajudar a melhorar nosso mecanismo de faxina
interior, também o cuidado com a quantidade de lixo que colocamos
para dentro do nosso corpo continua sendo importante. O grupo de pesquisadores
agora deve trabalhar em remédios capazes de melhorar o mecanismo de
auto-fagocitose, em busca de ganhos para a humanidade em qualidade de
vida e longevidade.
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