Doença atinge pessoas entre
40 e 70 anos.
Você já ouviu falar em Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)?
São episódios bruscos de vertigem, sensação que o ambiente está rodando, e que
tem duração de até um minuto.
As crises podem ser desencadeadas por atividades do dia a dia, quando o
indivíduo inclina a cabeça para olhar para cima (colocar um objeto em uma
prateleira mais alta, por exemplo, ou inclina-se para frente ao amarrar os
sapatos, deitar ou levantar da cama, virar de um lado para o outro na cama).
“Classicamente, o paciente desenvolve limitações e vícios posturais para
evitar os movimentos desencadeantes das crises de vertigem. Podem ainda referir
sintomas como cabeça leve, tontura, náuseas, desequilíbrio, instabilidade, até
vômitos antes, durante, após ou entre as crises. Pode haver zumbido associado,
que melhora após o tratamento”, explica a médica Jeanne
Oiticica, especialista em Otorrinolaringologia e Chefe do Grupo de
Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O termo “benigno” refere-se ao prognóstico favorável para recuperação,
que ocorre em 20% dos pacientes no prazo de um mês e em 50% em até três meses.
Apesar de benigna, ela pode ser extremamente incapacitante pelo risco de quedas
e por limitar a performance das atividades do dia a dia. O termo “paroxística”
refere-se ao caráter súbito, brusco e rápido de aparecimento do sintoma.
A VPPB é mais comum entre os 40 e 70 anos de idade, sendo duas vezes mais
frequente em mulheres do que em homens. É a doença vestibular mais comum ao
longo da vida e sua prevalência pode chegar a 9%, sendo rara em crianças.
Causas.
O labirinto (órgão do equilíbrio) possui pequenos
cristais de carbonato de cálcio (tipo pedras ou rochas ou cálculos muito
delicados) que são importantes para o bom funcionamento do ouvido, desde que
permaneçam no compartimento correto, em uma bolsa no centro do labirinto. Eles
ajudam a sinalizar informações de equilíbrio, aceleração e movimento da nossa
cabeça no espaço.
Segundo a médica Jeanne Oiticica, a VPPB ocorre toda vez que estes
cristais se desprendem da superfície sobre a qual normalmente encontram-se
aderidos. Esses cristais passam então a flutuar e ou aderem à sensores em
outros compartimentos (canais semicirculares) ou espaços do labirinto.
Os sintomas da VPPB dependem de quanto tempo leva para que os cristais ou
sensores se acomodem após a mudança da posição de cabeça ou corpo no espaço.
Enquanto não ocorre a acomodação, o cérebro continua a receber mensagens
intensas de rotação.
A VPPB pode estar associada a trauma, enxaqueca, doenças da orelha
interna, diabetes, doenças da tireoide, osteoporose, longos períodos de repouso
na cama, procedimentos cirúrgicos e ou dentários (que exijam muito tempo em uma
mesma posição) ou pode ocorrer sem razão aparente.
“Além disso, pacientes com VPPB apresentam maior prevalência de diabetes
mellitus (14% versus 5% quando a doença está controlada), ansiedade, trauma de
cabeça, enxaqueca (34% versus 10% controles), derrame (10% versus 1%
controles), hipertensão arterial sistêmica (52% versus 22% controles). Essas
doenças precisam ser diagnosticadas e corrigidas nos pacientes com VPPB tendo
em vista que impactam diretamente no tratamento e prognóstico”, alerta a
especialista.
É fácil diagnosticar?
Estima-se que o custo aproximado até que o diagnóstico de VPPB seja
firmado é de cerca de US$ 2 mil e que mais de 65% dos pacientes com VPPB sejam
submetidos a testes diagnósticos e ou intervenções terapêuticas desnecessários.
“O custo associado das seguradoras de saúde no diagnóstico da VPPB gira
em torno de US$ 2 bilhões ao ano. Apesar da história natural de melhora
espontânea em 27% a 50% dos casos, cerca de 86% dos pacientes interrompem suas
atividades diárias, com respectivos custos de falta ao trabalho, por causa da
VPPB”, de acordo com a médica.
Ela explica ainda que, na população geriátrica com queixa de
tontura, 40% dos idosos possuem VPPB, o que aumenta significativamente as
chances de queda, depressão, desabilidades e cuidados de enfermagem e/ou home
care nestes indivíduos, dispara o custo social da doença e reduz a
produtividade familiar.
Tratamento.
O tratamento é baseado nas características do nistagmo apresentado pelo
paciente quando colocado na posição ‘gatilho’ ou ‘desencadeadora’ da vertigem.
“O nistagmo é o batimento ou oscilações repetidas involuntárias rítmicas
dos olhos. A caracterização de sua componente rápida é fundamental já que
fecha o diagnóstico do canal semicircular (posterior, lateral, anterior) e do
ouvido (direito ou esquerdo) acometido. Tal informação é crucial para o
tratamento adequado”, conta Dra. Jeanne.
Conhecida como manobra de Eppley, é uma das formas de
tratamento que pode ser adotada para a VPPB, porém, alguns cuidados devem ser
tomados, já que serve apenas para tratar o canal semicircular posterior, e o
labirinto possui dois outros canais, o lateral e o anterior. “Se alguém
desavisado fizer a manobra de Eppley, mas o canal acometido for o lateral ou
anterior, o paciente estará com certeza seriamente encrencado. Portanto, antes
de mais nada é importante colocar o paciente em posição específica e determinar
o tipo de batimento de olhos que ele apresenta. São as características do
batimento dos olhos que vão definir o canal afetado e qual manobra deve ser
feita”, detalha a médica.
Existe a manobra de Lempert para os canais laterais e a manobra de
Yacovino para o canal anterior. Por isso, a manobra de Eppley só deve ser
realizada pelo especialista, médico otorrinolaringologista, com formação em
Otoneurologia.
Prevenção.
-- Controle do diabetes e tireoidopatias são
algumas das medidas que podem evitar a VPPB, mas a dieta adequada, exercícios
físicos regulares também são indicados.
-- Evitar jejum prolongado, excesso de doces, café, alimentos muito
salgados e ou condimentados, ter uma boa higiene do sono, cuidar bem dos ossos,
repor cálcio e vitamina D quando recomendado e o controle da ansiedade e
hipertensão arterial sistêmica são recomendações da médica Jeanne
Oiticica.
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