De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 800 mil pessoas vivem
com o vírus HIV no Brasil. O número por si só não é tão grande
assim quando pensado em um contexto nacional, já que representa menos de 1% de
nossa população de 207 milhões. O que chama a atenção e é alarmante é o fato de
que, deste total, 112 mil pessoas desconhecem ter o vírus. Ou seja, 14% dos
brasileiros que vivem com o HIV não têm ideia disso.
O principal motivo é o desconforto que muitos sentem só de pensar em ir a
um laboratório para fazer um exame de sangue, receber um resultado positivo e
ter que encarar todo o desdobramento da situação sem a chance de se preparar.
Com a proposta de eliminar um possível constrangimento e de reduzir o
número de pessoas que ficam sem saber que são portadoras do HIV – e acabam
transmitindo o vírus em relações sexuais ou compartilhamento de seringas –, a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) registrou o primeiro
autoteste para triagem do HIV no Brasil. Supersimples e seguro, ele pode ser comprado
em farmácias e custa entre R$ 70 e R$ 90.
Como funciona o teste
de HIV de farmácia?
É bem fácil usar o autoteste de HIV. O que é vendido em farmácias
brasileiras usa uma pequena amostra de sangue para detectar (ou não) a presença
de anticorpos contra o vírus.
Ele traz um dispositivo de teste, um líquido reagente, uma lanceta para
furar o dedo, um sachê de álcool e um tubinho para coletar o sangue (chamado
capilar).
O resultado sai dentro de 15 a 20 minutinhos e é 99,9% seguro se
todas as instruções do fabricante tiverem sido seguidas e não tiver havido
mistura de nada com o sangue – estar em um ambiente livre de interferências
externas é essencial.
Se você foi mãe de 2015 para cá, é bem possível que conheça o exame:
muitas maternidades, especialmente as privadas, vêm utilizando-o antes dos
partos (normais ou cesáreas).
Posso fazer o autoteste
de HIV um dia depois de uma relação sexual desprotegida?
É melhor economizar seu dinheirinho; prazo é muito importante quando o
assunto é autoteste de HIV. “É preciso esperar a janela imunológica, que é de
30 dias. Neste período, o corpo produz anticorpos contra o HIV, e só depois
dele poderá haver a detecção do vírus”, explica Beto de Jesus, gerente da AHF
Brasil (AIDS Healthcare Foundation Brasil).
Por mais encucada que você esteja caso tenha tido uma relação sexual
desprotegida, respire fundo e espere. “Antes disso, o resultado pode ser um
falso negativo”, esclarece Carlos Restrepo, presidente da ONG Impulse SP, que
trabalha a conscientização do HIV e da AIDS.
O que se deve fazer
depois do resultado de um autoteste de HIV?
Claro que você sabe que existem apenas dois resultados possíveis:
negativo e positivo (mas não custa reforçar, né?).
Se der negativo e você continuar encanada, pode repeti-lo depois de 30
dias e outra vez depois de mais 30 dias, até completar 120 dias da suposta
exposição ao vírus. Negativo em todas? Vida que segue e não se descuide
novamente. “A camisinha tem que estar na cabeça e na bolsa sempre”, defende
Carlos.
Em caso de resultado positivo, o próximo passo é procurar um serviço de
saúde e fazer um exame de sangue para confirmá-lo. “O autoteste não é
diagnóstico, é apenas indicativo, de triagem”, destaca Beto. “Ele dá autonomia
para a pessoa evitar um possível constrangimento, mas precisa ser confirmado o
quanto antes”,
complementa.
A rapidez tem motivo, como ele detalha: “Quanto mais cedo uma pessoa
souber de sua sorologia, mais sucesso terá com os medicamentos e mais chances
terá de tornar a carga viral indetectável. Isso significa que essa pessoa não
transmitirá o vírus e o ciclo será quebrado ali.”
De quanto em quanto
tempo se pode repetir o teste de HIV de farmácia?
Respeitando a janela imunológica de 30 dias, você pode fazer sempre que
quiser, sem nenhum problema. De toda forma, Beto afirma que uma vez por ano é
uma boa frequência para quem tem vida sexual ativa, e uma vez a cada três meses
para quem troca bastante de parceiro.
Isso vale para homens e mulheres heterossexuais, homossexuais ou
bissexuais, sem distinção. O HIV não escolhe sexo, gênero ou orientação
sexual. Há um aumento
significativo nos casos de sífilis, gonorreia e clamídia no Brasil, o que significa que muito sexo sem proteção
vem sendo feito. Verificar se você foi infectada por algum deles é
imprescindível.
“Mulheres heterossexuais com vida
sexual ativa estão sujeitas a qualquer infecção sexualmente transmissível. É
preciso ter essa consciência e saber que não tem nada a ver com ‘ser
vagabunda’, como muitas acreditam. Tem a ver com cuidar da sua saúde e do seu
corpo”, finaliza Beto.
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