Na Semana do Orgulho
LGBT, a Secretaria da Saúde do Município de São Paulo anuncia que, a partir de
agora, a vacinação contra o vírus da Hepatite A passará a ser fornecida na
capital, gratuitamente pelo SUS, também para homens gays, bissexuais e que
fazem sexo com outros homens, e para mulheres transexuais e travestis.
Atualmente, no Brasil,
recebiam gratuitamente essa vacina somente crianças de até 5 anos de idade e
adultos em situações especiais, como aqueles submetidos a algum transplante,
vivendo com HIV, portadores de hepatites virais crônicas e de algumas doenças
crônicas.
Essa é a primeira vez
que a orientação sexual e/ou a identidade de gênero de uma pessoa são usadas
como critério para uma campanha de vacinação, e mostra avanço nas políticas
públicas de prevenção da capital paulista.
A Hepatite A é
transmitida, sempre de uma pessoa para outra, através de vírus que são
eliminados nas fezes da pessoa doente e ingeridos pela susceptível. Dessa
maneira, o saneamento básico, com tratamento de água e esgotos, teve importante
papel na redução de casos da doença nas últimas décadas. Entretanto, o vírus
pode ser transmitido também por via sexual, principalmente no contexto da
prática do sexo anal e oro-anal.
Desde o ano de 2016, 22
países europeus, os Estados Unidos, o Chile e o Brasil passaram a identificar
um surto, caracterizado pelo aumento de casos de Hepatite A entre homens gays e
jovens. Só no município de São Paulo, no ano de 2017, foram notificados 786
casos da doença, dos quais 88% ocorreram em homens, levando 2 indivíduos a
óbito. Até agora, no ano de 2018, já foram identificados mais 301 casos novos
na capital, por enquanto sem óbitos.
A Hepatite A na maior
parte das vezes é autolimitada, não precisando de nenhuma intervenção
terapêutica, além de sintomáticos. Pode causar náuseas, dor de barriga,
amarelamento da pele e dos olhos e escurecimento da urina. E os sintomas
costumam se resolver dentro de algumas semanas a meses. Em poucos casos mais
graves apenas, o vírus provoca uma hepatite fulminante, podendo levar o
indivíduo ao transplante de fígado e até a morte.
Para a prevenção da
transmissão sexual da Hepatite A, a estratégia mais eficaz é a vacinação, uma
vez que o uso da camisinha é ineficaz na prevenção dessa doença. O esquema
vacinal é feito em adultos com duas doses separadas por um intervalo de 6
meses. Duas doses da vacina conferem proteção por toda a vida contra a doença.
Em São Paulo, as
vacinas serão oferecidas nos endereços informados pela Secretaria da Saúde
nesse link.
Aqueles que tiverem
vacinas faltando em sua carteirinha, como as de Hepatite B, HPV ou tétano,
podem aproveitar e resolver suas pendências, seguindo os critérios de indicação
de cada uma delas.
Fique esperto!
Vacinação atualizada também é Prevenção Combinada contra Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs).
Parabéns à população de
São Paulo e boa semana do orgulho LGBT!
Sobre o autor.
Médico Infectologista
formado pela Faculdade de Medicina da USP, Rico Vasconcelos trabalha e estuda,
desde 2007, sobre tratamento e prevenção do HIV e outras ISTs. É atualmente
coordenador do SEAP HIV, o ambulatório especializado em HIV do Hospital das Clínicas
da FMUSP, e vem participando de importantes estudos brasileiros de PrEP, como o
iPrEX, Projeto PrEP Brasil, HPTN083 (PrEP injetável) e na implementação da PrEP
no SUS. Está terminando seu doutorado na FMUSP e participa no processo de
formação acadêmica de alunos de graduação e médicos residentes no Hospital das
Clínicas. Também atua na difusão de informações dentro da temática de HIV e
ISTs no Brasil, desenvolvendo atividades com ONGs, portais de comunicação,
agências de notícias, seminários de educação comunitária e onde mais existir
alguém que tenha vida sexual ativa e possua interesse em discutir, sem
paranoias, como torná-la mais saudável.
Sobre o blog.
Com uma abordagem
moderna e isenta de moralismo sobre HIV e ISTs, dois assuntos que
tradicionalmente são soterrados por tabus e preconceitos, Rico Vasconcelos
pretende discutir aqui, de maneira leve e acessível, o que há de mais atual e
embasado cientificamente circulando pelo mundo. Afinal, saber o que realmente
importa sobre esse tema é o que torna uma pessoa capaz de gerenciar sua própria
vulnerabilidade ao longo da vida sexual. Podendo assim encontrar as melhores
maneiras para manter qualidade no sexo, e minimizar os prejuízos físicos e
psicológicos associados ao HIV e ISTs.
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