Pode parecer invenção,
mas é verdade: o jornal americano The New York Time's revelou que uma
adolescente misturou as cinzas do seu avô em uma receita de cookies e
distribuiu as bolachas entre seus colegas na escola. O caso aconteceu na
Califórnia.
Segundo o jornal, a
estudante era de uma escola pública e dividiu os biscoitos com ao menos outros
nove alunos. Alguns sabiam das cinzas e toparam o desafio, mas outros
ficaram horrorizados ao descobrir o ingrediente secreto.
Testemunhas contaram
que quando a aluna dizia que havia uma surpresa na bolacha, os colegas
suspeitaram de maconha. Porém, assim que comiam, a jovem "cozinheira"
mostrava a urna onde estavam os restos mortais do avô. Além disso, de acordo
com a reportagem
americana,
os biscoitos tinham manchinhas cinzas e textura de areia.
Além do susto, há
perigo ingerir cinzas em bolachas?
Não vamos questionar
eticamente o que aconteceu, é óbvio que foi uma atitude absurda e
desrespeitosa. Mas podemos indagar o que se passa no nosso organismo ao ingerir
cinzas.
Pelo bem dos amigos
enganados, é provável que ninguém passe mal ou fique doente por comer os
restos humanos. "Não existem vírus ou bactérias que sobrevivam ao fogo
dessa maneira, podem até ter restado alguns minerais, mas não vão causar
absolutamente nada", afirma Paulo Olzon, infectologista e clínico da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
"É só pensar que
para esterilizar objetos fervemos a cem graus, a cremação por sua vez passa de
mil graus. Toda doença contagiosa não sobrevive, toda substância que poderia
causar irritação desaparece, toda toxina queima", completa Alexandre
Sakano, gastrocirurgião da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Além disso, a
quantidade também importa. Como a aluna quis disfarçar o conteúdo do biscoito,
provavelmente salpicou as cinzas na receita, o que diminui ainda mais o risco
de complicações. Grandes quantidades poderiam causar reações como diarreia,
o corpo estranharia. Mas comer cinza ao ponto de passar mal é praticamente
inviável, o gosto e a textura são muito ruins, seria difícil ingerir
tanto", diz Sakano.
Mesmo se o avô da
garota tivesse metais pesados no corpo, como os usados em obturações dentárias,
não afetaria as crianças. "Esses metais e próteses normalmente são
removidos na cremação, e mesmo que não fossem retirados, estariam em
quantidades minúsculas que não trariam consequências graves em um
biscoito", avalia Sakano.
Com certeza, o
efeito seria mais psicológico, todo mundo ficaria aflito ao saber que comeu
partículas do avô de alguém.
"É como você estar
bebendo água e alguém falar que o líquido está contaminado. Você não sentia
nada de estranho antes e estava saudável, mas a reprovação do outro vai deixar
você aflito e fazer com que imagine diversos sintomas, como ânsia de vômito ou
diarreia. Imagine então a reação que a cabeça cria ao ser informada que ingeriu
cinzas", explica Olzon.
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