As imagens de céu azul e ar respirável se tornaram um dos símbolos da
crise do coronavírus. A quarentena diminuiu a circulação de carros e a operação
da indústria, limpando a atmosfera. Pensando que a poluição do ar mata 4,2
milhões de pessoas por ano, é um alívio bem vindo. Mas pesquisadores americanos
estão tentando concluir o quanto a poluição do ar pode estar agravando os casos
de coronavírus. Há uma suspeita de que as partículas de poluição possam
conduzir o vírus mais facilmente. Isso reforça a importância de melhorar a
qualidade do ar no mundo pós-pandemia.
Um estudo recente descobriu que mesmo pequenos aumentos na quantidade de
material particulado, conhecido como PM2.5, tiveram impacto nos sintomas de
Covid19 nos Estados Unidos. O aumento de 1 micrograma por metro cúbico
correspondeu a 15% de aumento no número mortes por Covid-19, de acordo com os
pesquisadores, conduzidos por Xiao Wu e Rachel Nethery na Escola de Saúde
Pública T.H. Chan, na Universidade de Harvard.
A OMS propõe que um limite seguro seja 10
microgramas PM2.5 por metro cúbico, na média anual de um determinado local. São Paulo tem média de 17,3 (em 2016, último dado
disponível). De acordo com a pesquisa, os níveis de poluição de Nova York podem
ter tido um peso no alto número de mortes do estado. O estudo avaliou 3,080
condados nos Estados Unidos. As pessoas que viveram em locais mais mais
poluídos nos últimos 15-20 anos tiveram maior taxa de mortalidade.
O estudo ainda não passou por revisão científica ainda. Mas Wu diz que a
associação é provável por causa da presença mais alta de doenças respiratórias
e cardíacas em locais mais poluídos. Além disso, a poluição do ar enfraquece o
sistema imunológico e compromete a capacidade do organismo de combater
infecções, de acordo com a Aliança Europeia de Saúde Pública.
Um outro estudo da qualidade do ar na Itália também encontrou esta correlação.
A Lombardia é a região com mais mortos do país, com 13.325 perdas até 26 de
abril, enquanto a Emilia Romagna foi a província com o segundo maior número,
com 3.386. Os pesquisadores concluíram que os altos níveis de poluição do ar no
norte da Itália poderia ser considerado um fator adicional nos níveis de
letalidade da região.
Menos poluição do ar e
menos contato.
Na Europa, muitos países que foram obrigados a fazer severas quarentenas
estudam a reabertura, gradual e em fases. Muitos dos planos incluem incentivo a
mobilidade ativa. Enquanto pedalar e correr não são recomendados em lugares em
quarentena, com contágio descontrolado, estas formas de locomoção trazem
enormes benefícios na reabertura.
Trocar transporte público por bicicleta traz, de cara, grandes vantagens:
facilita o isolamento social, reduz a emissão de poluentes na atmosfera, e
melhora as condições gerais de saúde da população, ao melhorar as condições
cardiorrespiratórias de quem se transporta de forma ativa.
A França terá um pacote de 20 milhões de euros para incentivar o uso da
bicicleta no país. Parte desse valor será usado em manutenção: quem tem uma
bicicleta encostada na garagem poderá levá-la ao mecânico, que pedirá o
reembolso de 50 euros ao governo. Uma medida inteligente, já dois terços das 30
milhões de bicicletas da França estão sem uso. O investimento vai cobrir também
melhorias no estacionamento e educação no trânsito.
Em Berlim, algumas ciclovias dos bairros mais agitados, como Kreuzberg,
foram duplicadas, para que haja mais espaço de distanciamento entre quem está
pedalando. Milão, capital da Lombardia, vai mudar fortemente sua mobilidade: o
transporte público vai operar com capacidade reduzida, zonas 30 serão
implementadas, calçadas serão alargadas e a rede de ciclovias vai ser aumentada
em 35 km. O plano se chama “Ruas Abertas” e é a resposta da cidade ao “novo
normal”, pós-pandemia.
Durante a crise, o governo de Nova York vai implementar quase 65 km de
ciclovias e calçadas ampliadas para facilitar a vida de ciclistas e
pedestres — mas a ação tem prazo de validade e durará enquanto estiverem em
vigor as restrições de lockdown.
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