terça-feira, 3 de novembro de 2009

GAROTO DE PROGRAMA LEVOU FACA PARA MATAR APRESENTADOR DE TV...

FONTE: *** Jorge Gauthier e Bruno Wendel (CORREIO DA BAHIA).
Seria mais uma noite destinada ao sexo. O quarto nº 306 do Hotel Democrata (Largo Dois de Julho) seria o palco de mais uma aventura amorosa do apresentador de TV Jorge Luiz Lopes Pedra, 52 anos. Mas ele não contava com a malícia e a crueldade de um garoto de programa que escolheu para acompanhá-lo. O homem, identificado apenas como Rogério, levou para o quarto uma faca, que usou para desferir três golpes no apresentador.
Para o investigador Luiz Gomes, da Delegacia de Homicídios, que apura o caso em conjunto com a 1ª Delegacia (Barris), não há dúvidas de que o crime ocorrido na noite do último domingo foi premeditado. “O fato de a faca usada no homicídio não pertencer ao hotel indica que o assassino levou a arma com a intenção de matar o cliente”, afirmou o policial. Pedra esteve horas antes do crime no mesmo hotel com outro rapaz.
LUTA.
No quarto, cama ensanguentada, móveis revirados, alimentos e kits eróticos espalhados no chão. Pedra travou uma luta para sobreviver. A julgar pela cena do crime e as perfurações encontradas no apresentador, o policial Luiz Gomes, que há 11 anos trabalha no serviço de investigação, disse que o assassino estava de frente para a vítima quando desferiu o primeiro golpe, acertando-a na testa.
Pedra, ao tentar fugir ou alcançar algum objeto para defesa, recebeu o segundo golpe, desta vez nas costas. Mas a última facada, desferida próximo ao coração, foi a mortal. “A perfuração foi a mais profunda e provavelmente matou a vítima”, analisa Gomes.
O cabo da faca de cozinha partido e encontrado na cena do crime dá conta da fúria do agressor na ocasião. “Um crime brutal”. Mesmo se esvaindo em sangue, Pedra ainda tentou alcançar o assassino, que fugiu correndo do hotel. Funcionários do estabelecimento encontraram o corpo do apresentador no primeiro andar, sem roupas, a dez metros do quarto, por volta das 18h30.

A irmã caçula da vítima, Adelina Pedra, 46 anos, revelou que o corpo do irmão ainda tinha marcas de espancamento. “Foi uma barbárie. O assassino não teve piedade de meu irmão. poderia ter roubado, pedido dinheiro, mas preferiu receber pelo programa com a vida”.
PROVAS.
Ainda durante vistoria no quarto, peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) encontraram mais provas do crime. Sobre a cama estavam duas cuecas, possivelmente usadas pela vítima e pelo seu algoz. Pegadas marcadas com sangue estavam em toda parte do quarto, inclusive no corredor que dá acesso à recepção. Foram coletadas impressões digitais das maçanetas, telefone e de outros objetos do quarto. Anéis e correntes foram deixados para trás pelo assassino, que teria fugido com dinheiro da vítima (já que a carteira de cédulas foi encontrada aberta) e o celular (cuja a capa estava também sobre a cama). Os peritos não encontraram ainda a chave do Honda Civic conduzido pelo apresentador até o local.
PROGRAMA.
Segundo funcionários do hotel, o acompanhante do Pedra seria mais um garoto de programa que a vítima tinha o hábito de levar até o lugar. O domingo foi a segunda vez que a vítima teve relações sexuais com o rapaz. O jovem, que aparentava ter mais que 20 anos, moreno, de físico robusto, usando corte penteado do tipo rabo-de-cavalo e costuma fazer programas na Rua Carlos Gomes. Ele teria sido visto por donos de boates da Carlos Gomes, fugindo com uma camisa ensaguentada, enrolada em uma das nas mãos.
Ao ser questionado sobre os encontros de Pedra com garotos de programa, o cinegrafista Gilmar Pereira, 24 anos, com quem o apresentador morava desde 2007, preferiu não comentar. “Quero ficar com essa dor só para mim”.
CAMÊRAS.
Segundo funcionários, o Hotel Democrata não tem câmeras, o que dificulta a identificação do assassino. “Ainda não temos câmeras porque o hotel está em reforma”, disse a atendente.

Surpreso com a informação de que o hotel não possuía câmeras de segurança, Antônio Carlos Pedra, irmão do apresentador, acusou o estabelecimento de negligência. “Independentemente do fato de ele ser cliente fixo do lugar, a pessoa que estava com ele não era. Eles deveriam ter feito o cadastro e, se tivessem câmeras, o assassino já estaria preso”.
Uma outra atendente rebateu as denúncias de que o hotel não fazia controle de entrada e saída dos clientes exibindo algumas fichas cadastrais. “O que aconteceu é que demos um vacilo. Como Pedra é cliente vip da casa, não solicitamos a identificação do companheiro”. Ainda segundo a funcionária, a direção do hotel orienta os empregados a serem mais rigorosos com casais homossexuais. “Quando se recusam a preencher a ficha, seguramos a identidade”.
O presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira, diz que muitos homossexuais temem fazer os cadastros nos hotéis por conta do preconceito. “Quando a vontade de fazer sexo fala mais alto, é melhor buscar saunas gays, que são ambientes mais seguros. Se entrar no hotel, tem que fazer o cadastro, pois é melhor ser fichado no hotel do que ter o nome no obituário”.
ENTERRO SEM LUTA NEM GLAMOUR.
O caixão de madeira com alças metálicas em dourado envelhecido e a aparência suja no entorno da sepultura da quadra 16 do Cemitério Campo Santo nem de longe lembravam o luxo que norteou a vida do apresentador de TV Jorge Pedra.
Domingo à tarde (2), um cortejo com pouco mais de 30 pessoas encaminhou o corpo do apresentador para sua última morada. De valor material, no corpo, o homem, que chegou a ser candidato a vereador e frequentava as mais altas rodas da sociedade, levou apenas um medalhão de prata, colocado por sua irmã, Adelina Pedra.
O cortejo fúnebre foi regido por cânticos católicos, bem diferentes das músicas eletrônicas que tocavam no programa de Pedra, que era frequentador da Igreja Messiânica. A mãe do apresentador, Eunice Pedra, soube da morte do filho através da televisão. “Ela estava assistindo ao noticiário quando viu a foto dele. Ainda conseguimos enganá- la com a causa da morte. Para ela, Jorge morreu em um acidente”, contou Antônio Carlos Pedra, irmão do apresentador.
A aposentada, que mora com o filho Antônio em Mata de São João, teve que ser amparada durante todo o sepultamento. O irmão lembrou que dona Eunice era muito apegada a ele. “Ela tinha um carinho especial por ele. Sempre o tratou com atenção”.
Extremamente emocionada, durante a bênção do corpo, dona Eunice balbuciou algumas palavras em homenagem ao filho. “Meu querido, siga o caminho da luz”.
FASCÍNIO PELA FAMA.
O luxo e o glamour sempre foram seus focos. Os anéis dourados, os cabelos lisos trabalhados no gel eram a sua marca, acompanhados do bordão “com qualidade”. Nos últimos 15 anos, as mais badaladas festas da sociedade emergente baiana puderam ver seu famoso suspensório e gravata dourados.
Nascido em Salvador, há 52 anos, o jornalista Jorge Luiz Lopes Pedra sempre assumiu a homossexualidade, apesar de preservar as coisas mais íntimas da família.
Sua infância foi vivida no Tororó, onde ainda mantinha residência, mas foi no Rio de Janeiro que conquistou seus primeiros momentos de sucesso. “Chegou a ser colunista dos jornais O Globo e Última Hora. Ainda dançou em um quadro do programa Fantástico. Mas ele não gostava de falar dos tempos de dança. Tinha vergonha de comentar o passado”, conta a amiga Naiá Dolbeau (Totinha), produtora de TV.
A irmã caçula, Adelina Pedra, 46 anos, lembra que o apresentador resolveu regressar a Salvador para acompanhá-la. “Eu sofri um assalto violento no Rio de Janeiro e vim morar em Salvador. Nessa época, tínhamos uma revista de moda do Rio, mas ele não quis tocar sozinho. Veio para ficar junto a mim”, contou.
O gosto por relacionamentos com rapazes mais jovens foi oficializado em 2007, quando passou a morar com o cinegrafista do seu programa, Gilmar Pereira, 24 anos. “Nos conhecemos através de amigos em comum. Começou com uma brincadeira, foi ficando sério e estávamos juntos. Ele foi como um segundo pai. Me ensinou muita coisa, abriu minha cabeça para o mundo”.
O pai de Pedra morreu há mais de 30 anos e deixou a família com três filhos sob os cuidados da esposa Eunice Pedra. Avesso ao álcool, o jornalista tinha no cigarro seu único vício. “Mas quando infartou no ano passado, ele parou de fumar”, lembra a irmã.
Amigo de infância, José Carlos Gonzales conta que Pedra sempre gostou de roupas caras e de grife. “Ele só se sentia bem quando estava luxuoso. Sempre buscou a fama”, lembrou. Recentemente, em seu programa de TV, Pedra sintetizou sua personalidade. “Eu curto muito o dia, mas a noite é privilegiada”.
POPULAÇÃO HOMOSSEXUAL ESTÁ APAVORADA, DIZ GGB.
O presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, afirmou que o assassinato do apresentador de TV Jorge Pedra deixou a população homossexual da Bahia apavorada. “Mesmo sendo ele uma pessoa não muito dada a circular no meio gay, todos conheciam o apresentador e mesmo assim ele foi vítima”, afirmou o militante.
PARENTE LEVA CARRO DA VÍTIMA ATÉ DPT A MANDO DE DELEGADO.
Ao chegar à cena do crime, a delegada Patrícia Nuno, da 1ª Delegacia (Barris), teria pedido a parentes de Pedra que levassem do hotel o Honda Civic (JPP-8743), conduzido pela vítima, ao Departamento de Polícia Técnica, já que não tinha policial para fazer o serviço. A medida seria para evitar que o carro fosse roubado.

Um irmão da vítima teria conduzido o veículo até o DPT - o que pode comprometer uma das provas, que são as impressões digitais no veículo. “A gente coletou as digitais e os dados serão encaminhados ao Pedro Melo para fazer o comparativo”, informou o perito técnico Leonado Vita.
O carro chegou ao DPT por volta das 2h da madrugada de ontem (2), mas só foi periciado após as 11h. No entanto, um agente da Delegacia do Homicídios disse ter visto o carro ser rebocado em um guincho.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 03/11/2009 do CORREIO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário