Um novo estudo realizado por
cientistas americanos revela pela primeira vez que a infecção por zika pode
causar problemas cardíacos. Os pesquisadores acompanharam nove pacientes com
zika - e sem histórico de problemas no coração - atendidos em um hospital de
Caracas, na Venezuela. Oito deles apresentaram uma perigosa arritmia e em dois
terços foram registrados sintomas de insuficiência cardíaca.
A pesquisa, liderada pela
cardiologista Karina Gonzalez Carta, pesquisadora da Clínica Mayo, nos Estados
Unidos, foi apresentada na reunião científica anual do
American College of Cardiology, em Washington.
"Nosso estudo fornece claras
evidências de que há uma relação entre a infecção pelo vírus da zika e
complicações cardiovasculares", afirmou Karina.
A pesquisadora recomenda que pessoas
com suspeita zika devem ficar atentas a sintomas relacionados às doenças
cardiovasculares. "A pessoa com sintomas de zika que também apresentar
sintomas como fadiga, falta de fôlego e palpitações no coração deve ver um
médico imediatamente", disse.
Segundo Karina, a equipe de cientistas não ficou surpresa com o
resultado do estudo, já que outras doenças semelhantes como dengue e
chikungunya também afetam o coração. Mas ela afirma que a severidade dos
problemas cardíacos e a rápida progressão das arritmias entre os pacientes não
eram esperadas.
Os cientistas acompanharam nove
pacientes do Instituto de Medicina Tropical de Caracas, na Venezuela, que
haviam relatado sintomas de zika uma semana antes e que em seguida relataram
sintomas de problemas cardíacos.
Os sintomas incluíam principalmente
palpitações, perda do fôlego e fadiga. Apenas um dos nove pacientes já havia
apresentado um problema cardiovascular no passado - uma alta pressão sanguínea
já totalmente controlada.
Depois de preencher um formulário
registrando todos os sintomas, os nove pacientes foram submetidos a um
eletrocardiograma. Oito deles apresentaram problemas na taxa - ou ritmo - de
batimentos cardíacos.
Com esse resultado, os cientistas
resolveram realizar uma bateria completa de exames cardíacos nos pacientes,
incluindo ecocardiogramas e monitoramento por ressonância magnética cardíaca.
Eles então foram monitorados por seis meses, a partir de julho de 2016.
As arritmias detectadas em oito dos
pacientes incluíam três casos de fibrilação atrial (caracterizada por
batimentos rápidos e irregulares), dois casos de taquicardia atrial não
sustentada (um tipo de arritmia benigna) e dois casos de arritmias
ventriculares (que pode ser mortal). Foram registrados seis casos de
insuficiência cardíaca.
Efeito disfarçado.
De acordo com Karina, os dados
revelaram que os sintomas de problemas cardiovasculares apareceram, em média,
10 dias após as primeiras queixas de sintomas de zika pelos pacientes.
"Como a maior parte das pessoas
com infecção por zika apresentam sintomas leves ou não-específicos, e como os
sintomas de complicações cardiovasculares podem não ocorrer imediatamente,
precisamos fazer um alerta sobre essa possível associação", disse a
médica.
Segundo a pesquisadora, é provável
que muito mais casos de sequelas cardíacas relacionadas à infecção pelo vírus
sejam diagnosticados no futuro.
"É provável que muita gente
tenha sido afetada, levando em conta que muitos médicos podem não ter feito a
conexão entre os sintomas. Precisamos agora de estudos maiores e sistemáticos
para entender o verdadeiro risco de problemas cardíacos relacionados à zika - e
descobrir o que leva alguns pacientes a serem mais suscetíveis", disse.
*** Fábio de Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário