FONTE: Thamires Andrade, Do VivaBem, em São Paulo, http://vivabem.uol.com.br
Já existe soro contra picada de cobra, aranha,
escorpião e lagarto, mas ainda não existia algo para combater o veneno das
abelhas. Após 20 anos de pesquisas, o soro antiapílico foi desenvolvido por
pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em parceria com o
Instituto Vita Brazil.
De acordo com o veterinário Rui Seabra, pesquisador
da Unesp que liderou as pesquisas para o soro, atualmente, são registrados
cerca de 15 mil acidentes com abelhas no Brasil, sendo 50 mortes registradas.
O veneno da abelha libera muitas substâncias
tóxicas, que provocam hemorragias, queda de pressão, tontura, visão turva,
destroem as células vermelhas e os músculos, castigam os rins. O novo antídoto age bloqueando
o efeito do veneno, evitando complicações mais sérias.
De acordo com o veterinário, ele é destinado
para os acidentes por múltiplas picadas (de 100 a 1.000). "Isso
acontece quando a pessoa é atacada pelo enxame todo e, nesse caso, ocorre um
envenenamento por conta da carga maciça de veneno que o paciente recebe de uma
única vez", explica Seabra.
Segundo Seabra, como o Brasil é um grande produtor
de mel e derivados, como o própolis, os acidentes não acontecem apenas nas
cidades produtoras. “Cidades próximas estão suscetíveis a esses acidentes, pois
algumas abelhas escapam e podem formar uma colmeia e atacar pessoas
desavisadas”, explica.
Desenvolvimento do soro.
Para fabricar o soro, feito com o próprio veneno da
abelha, os pesquisadores colocam um recipiente embaixo da colmeia e dão uma
pequena descarga elétrica, para contrair a musculatura do inseto, que assim,
libera parte do veneno. As abelhas não morrem durante o procedimento.
Uma das maiores dificuldades dos pesquisadores foi
reduzir o impacto do envenenamento nos animais soro produtores que, no caso do
Brasil, são os cavalos. “Nós precisamos aplicar uma certa quantidade de veneno
no animal para que ele produza anticorpos, só que o da abelha causava muita dor
e eles sequer conseguiam produzir anticorpos suficientes”, fala Seabra.
Os pesquisadores, então, usaram a tecnologia para
conseguir extrair em laboratório os componentes que causam dor e
alergia.“Assim, inoculamos os venenos com todas as outras substâncias
necessárias para a formação de anticorpos, mas sem causar problemas nos
animais”, explica Seabra.
Estudo para disponibilizar o soro.
Os pesquisadores, então, se uniram ao Instituto
Vital Brazil para estudar e fabricar ampolas cumprindo as regras da Anvisa. A
parceria permitiu que eles testassem o soro em humanos.
Segundo Seabra, a Anvisa determinou que 20 pacientes recebam o soro para atestar a segurança do produto. Ao todo, 17 já foram tratados por envenenamento e os resultados foram positivos.
“Um caso significativo foi um apicultor de 77 anos
de Tubarão (SC). Ele recebeu 150 picadas e chegou em estado de choque no
hospital. Duas horas depois de receber o soro já estava falando e bem
recuperado. Recebeu alto no dia seguinte”, conta Seabra.
A próxima etapa do estudo será para avaliar a
eficácia do soro. Para isso, o ensaio clínico deverá envolver mais pessoas,
cerca de 400 pacientes. “Esse soro vai salvar muitas vidas”, fala Seabra.
Atualmente, o soro está disponível em hospitais de
duas cidades do Brasil: Botucatu (SP), Tubarão (SC). E ele só é aplicado em
pacientes que aceitam participar da pesquisa. A previsão é que ele chegue aos
postos do SUS entre 2019 e 2020.
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