FONTE: Fernando Arbex, Colaboração para o UOL, http://noticias.uol.com.br
Estudos realizados nos
Estados Unidos em 2017 indicam que o uso de maconha pode elevar o risco no
aparecimento de doenças cardíacas. De acordo com a pesquisa promovida pelo
National Institutes of Health (NIH), a ativação dos receptores canabinoide 1
(CB1) nas células do sistema cardiovascular pode causar hipotensão e arritmia,
além de, em caso de altas doses, promover mudanças crônicas nesses receptores,
que resultariam em patologias como aterosclerose, diabetes e síndrome
cardiometabólica.
Um dos integrantes da
equipe que promoveu o estudo, Pal Pacher defende o banimento de canabinoides
sintéticos, criados em laboratórios para emular os efeitos do THC, o princípio
ativo da maconha. O pesquisador afirma que são de 100 a 200 vezes mais potentes
esses tipos de agonistas, substâncias capazes de se ligarem a receptores
celulares para ativá-los e causar uma reação biológica.
"Em contraste com
o THC, que é um agonista parcial, o canabinoide sintético é um agonista total e
muito viciante", afirma. Além dos efeitos cardiovasculares, o pesquisador
lista outras possíveis complicações, como para o sistema nervoso central
(delírios, alucinações e tonturas) e lesão renal aguda.
Já um trabalho
publicado pelo Einstein Medical Center indica que o uso contínuo de maconha
eleva em 26% o risco de AVC e em 10% o de falha cardíaca. Foram analisados 20
milhões de fichas de pacientes entre 18 e 55 anos, que deram entrada em
hospitais norte-americanos nos anos de 2009 e 2010. Do total, 316 mil, ou 1,5%,
apresentavam na corrente sanguínea resquícios de THC.
Membro da Sociedade
Brasileira de Cardiologia, Rui Ramos afirma ser raro que usuários confessos de
maconha relatem alterações nas funções cardíacas, mas pondera que esses casos
existem e que identificar essa relação em brasileiros poderia ser maior.
Enquanto nos Estados Unidos é permitido fazer exame de drogas sem a permissão
do paciente, no Brasil é proibido.
Para Ramos, pessoas que
apresentam cardiopatias deveriam evitar a substância. "O THC é um
desencadeador. É um fator de risco para quem tem doença arterial coronariana,
angina, possibilidade prévia de infarto", disse. Também de acordo com ele,
não existem trabalhos acadêmicos no Brasil que relacionem o uso de maconha com
doenças do gênero.
Maconha
medicinal.
Doutor em
Neurologia-Neurociências pela Unifesp, Renato Filev não acredita que essas
pesquisas recentes impactem programas de estudo que envolvam o uso
farmacológico do THC. "Toda droga tem um efeito colateral, mas já foi
constatado potencial terapêutico da substância para doenças neurológicas, Mal
de Parkinson, Mal de Alzheimer, câncer, aids, entre outras. Não nos prejudica,
até aumenta nossa capacidade de investigar", afirma.
O pesquisador diz que
vai participar de um estudo em 2018 que testará em usuários de crack um
tratamento à base de canabinoide e que só serão aceitos pacientes que estiverem
com as funções coronarianas em bom funcionamento. "Todos os candidatos vão
passar por um eletrocardiograma. Essa metodologia foi proposta antes da
publicação do estudo de Pacher, em setembro", conta.
Em acordo com o
trabalho do NIH, Filev diz que a dose de THC é fundamental para desencadear
qualquer efeito adverso. "O indivíduo que não faz uso rotineiro vai
apresentar uma resposta diferente daquele que faz ingestão habitual", diz.
O próprio Pacher lembra
que a maconha pode ter consequências conflitantes. "O THC também pode
ativar os receptores canabinoide 2 (CB2), anti-inflamatórios às células imunes,
o que pode contrabalançar algumas das consequências indesejáveis crônicas da
ativação do receptor CB1 – com exceção dos efeitos cardiovasculares agudos. Em
grande parte, vai depender da dose, da sensibilidade individual e da
preexistência de doenças cardíacas, diabetes, obesidade etc", afirmou.
O pesquisador sugere
que mais trabalhos para investigar os efeitos da substância sejam feitos.
"São necessários ensaios clínicos bem controlados com cepas padronizadas
de maconha medicinal e THC puro para determinar seus benefícios médicos reais e
possíveis consequências adversas a longo prazo", afirmou.
Ainda
assim, Pacher alerta: "Baseado em dados pré-clínicos, casos
relatados, pesquisas disponíveis e o aumento do teor de THC na maconha, minha
previsão é que o uso recreacional pode causar severos problemas à saúde, não só
ao sistema cardiovascular".
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