Na Índia, a maioria das pessoas prefere ter filhos
homens. Afinal, lá as filhas não herdam propriedades, e a família da noiva
precisa pagar um dote para que ela se case.
Essa preferência declarada por filhos fez com que o
país tenha cerca de 21 milhões de "meninas indesejadas", aponta
relatório do Ministério de Finanças do país.
Isso porque, segundo os autores do documento,
muitos casais continuam tendo crianças até a família alcançar a quantidade
desejada de meninos. "De alguma forma (...), a vida das mulheres está
melhorando, mas a sociedade ainda parece querer que menos mulheres
nasçam", diz trecho.
Estima-se ainda que faltem 63 milhões de mulheres
na Índia — considerando as que nem chegam a nascer diante dos abortos seletivos
e de menos cuidados a grávidas que carregam meninas.
"Talvez a área em que a sociedade indiana - e
isso vai além dos governos, da sociedade civil, das comunidades e das famílias
- precisa refletir é a chamada 'preferência por filhos', para a qual o
desenvolvimento não está provando ser um antídoto", conclui o relatório.
Na Índia, testes para saber o gênero do bebê são
proibidos, mas são feitos no mercado clandestino e muitas vezes culminam em
abordos seletivos.
Isso impacta na proporção de homens e mulheres na
sociedade. Em 2001, censo indiano indicou 933 mulheres para 1 mil homens. Em
2011, quando o levantamento contabilizou uma população de 1,2 bilhão de pessoas
no país, eram 940 mulheres para cada 1 mil homens - a proporção mundial era 984
para 1 mil.
No Brasil, por exemplo, a população feminina é
maior que a masculina: são 1.042 mulheres para 1 mil homens, como menciona um
relatório do próprio censo indiano.
Superstições.
Essa predileção por meninos é reforçada no dia a
dia. Um jornal indiano chegou a listar dicas — sem comprovação científica —
para aumentar as chances de ter meninos.
A publicação, da cidade de Mangalam, no Estado de
Kerala, publicou sugestões que desconsideravam completamente o fato de o sexo
do bebê ser determinado exclusivamente pelos cromossomos masculinos.
Entre as dicas do jornal para as mulheres que
querem ser mães de meninos estão: dormir olhando para o oeste, ter relações
sexuais em determinados dias da semana e não deixar de tomar café da manhã.
Para os pais, evitar comidas ácidas ajudaria a manter os espermatozoides mais
fortes.
O esforço para ter filhos e não filhas também está
relacionado com os direitos das mulheres na sociedade.
O relatório do Ministério das Finanças indica, por
exemplo, que a porcentagem delas que trabalha fora tem caído.
Ainda assim, a Índia melhorou em 14 de 17
indicadores relacionados à qualidade de vida para mulheres analisados no
relatório.
"Assim como a Índia se comprometeu melhorar os
indicadores que medem a facilidade de fazer negócios, talvez devesse fazer o
mesmo com as questões de gênero. Nesse caso, o objetivo deve ser mais
amplo", salienta o documento.
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