Risco
de morrer também é elevado para os não casados em 42% de doença cardíaca
coronária.
A letra de um antigo
samba diz que “a vida de casado é boa, mas de solteiro é melhor”. Pode até ser,
mas não para o coração. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa do Departamento
de Cardiologia do Royal Stoke University Hospital, na Inglaterra. De acordo com
o estudo, nesse quesito o primeiro grupo está em vantagem. A conclusão do
levantamento é de que que ser casado até a velhice reduz significativamente os
riscos de infarto e derrame.
Acostumado com a
precisão das notas musicais, o técnico e afinador de pianos Júlio Ferreira, de
77 anos, garante que o seu coração nunca saiu do compasso. Bater mais forte, só
pela companheira de uma vida inteira, Maria Tereza Rodrigues, de 73 anos, com
quem está casado há 51. Ele acredita, que no seu caso e da esposa, a pesquisa
se confirma, já que ambos sempre viveram em harmonia e passaram longe dos
problemas vasculares.
— No nosso caso, a
pesquisa se confirma. A última visita que fiz ao cardiologista foi há um ano,
mas apenas para consulta de rotina e os exames deram tudo bem. O segredo para
ter uma vida saudável é, além de um casamento de sucesso como o meu, levar uma
vidra regrada, dormindo na hora certa, fazendo uma alimentação saudável, não
fumando nem bebendo demais —aconselha o morador de Jacarepaguá.
Aprender a driblar as
dificuldades da vida e deixar os problemas na rua, compartilhando com a família
apenas os momentos também são ingredientes da receita de Júlio para viver mais
e bem. Dono de uma loja de pianos no Centro há 38 anos, ele conheceu a esposa
quando ambos ainda eram crianças, em Portugal. As famílias, que eram vizinhas,
vieram para o Brasil em épocas distintas e aqui se reencontratam, mesmo morando
em bairros diferentes. Os dois jovens se casaram tempos depois, tiveram dois
filhos e três netos. Datas especiais, como aniversários de casamento nunca
deixaram de ser comemoradas pelo casal.
A pesquisa publicada na
revista médica “Heart” (coração, em inglês) foi conduzida nas últimas duas
décadas com mais de dois milhões de pessoas entre 42 e 77 anos. O levantamento
mostra ainda que na outra ponta, os divorciados, viúvos ou os nunca casados são
42% mais propensos a sofrer de males cardiovasculares e 16% mais chances de ter
doenças coronárias, como obstrução das artérias. O risco de morrer também é elevado
para os não casados em 42% de doença cardíaca coronária e em 55% de acidente
vascular cerebral, de acordo com a mesma pesquisa.
Entretanto, entre os
especialistas não há unanimidade sobre o resultado do estudo, enquanto o
cardiologista e professor Cláudio Benchimol diz não ver fundamento científico
nesse estudo, seu colega Cláudio Tinoco, diretor da Sociedade de Cardiologia do
Estado do Rio de Janeiro concorda com o levantamento. Segundo Tinoco, o
casamento garante suporte social, emocional e financeiro, fundamentais à saúde.
— O estudo reforça o
que a gente já sabia: o ser humano é uma figura altamente social e viver com
outra pessoa protege contra ocorrência de doenças como as cardiovasculares. É
aquele parceiro que recomenda procurar um médico ou ajuda a identificar os
sintomas de alguns males — aponta, acrescentando que é comum nos dois pirmeiros
anos o aumento de mortes por problemas cardíacos de parceiros que sobrevivem a
uma viuvez.
Já o professor da Uerj
e UFRJ afirma que independentemente de ser casado ou solteiro para garantir um
coração saudável, o fundamental é evitar os principais fatores que causam as
doenças cardiovasculares, como estresse, má alimentação e sedentarismo. A única
relação da vida conjugal com a saúde do coração, na sua opinião, é que pelo
menos na teoria as pessoas casadas levariam uma vida mais regrada.
— Mas isso também é
muito relativo. A única vantagem é que o casado tem uma companhia ao seu lado
enquanto o solteiro está sozinho e mais propenso a fazer besteiras e levar uma
vida desregrada, mas isso pode variar conforme o caso. Os hábitos da pessoa são
muito mais importantes do que o fator de ser casado ou não. O que protege mesmo
o coração é atividade física, ter uma alimentação saudável e uma vida sem estresse
— afirma o médico, que aponta ainda o histórico familiar como um dos fatores
preponderantes para as doenças cardíacas.
O estudo do
Departamento de Cardiologia do Royal Stoke University Hospital examinou
populações etnicamente variadas na Europa, América do Norte, Oriente Médio e
Ásia.
A propósito, a letra do
samba conclui que a vida de solteiro é melhor porque ele pode ir aonde quiser,
enquanto o casado tem de levar a mulher.
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