FONTE: Aretha Yarak, Colaboração para o
UOL, http://noticias.uol.com.br
Fazer uma simples remoção de dentes
há mais de dois séculos poderia ser um exercício de tortura. Cirurgias mais
complicadas e severas, como a remoção de um membro ou abertura da cavidade
torácica, por exemplo, eram realizadas apenas em último caso. Antes da
descoberta dos anestésicos, em 1846, os procedimentos cirúrgicos eram tão
extremos que chegavam a ser comparados às práticas da inquisição.
Em alguns relatos
históricos do Hospital Geral de Massachusetts, médicos diziam não
conseguir se esquecer dos gritos e berros e do terror dos pacientes, mesmo
depois de anos após os procedimentos. Até a primeira metade do século 19, no
entanto, o ópio e o álcool eram os únicos agentes considerados
como realmente úteis e eficazes para diminuir as dores.
No geral, as drogas
e a bebida conseguiam causar um estado de dormência, mas não eram
suficientes para bloquear a dor ou mesmo apagar a memória da sensação.
O problema, entretanto, era que as
quantidades de álcool necessárias para um efeito real tendiam a causar náusea,
vômito e, por vezes, até a morte do paciente.
Para tentar amenizar a tortura,
alguns médicos faziam uso de uma série de táticas criativas e até mesmo
inusitadas, como o uso de saporíferos e narcóticos extraídos de plantas (como
machona e beladona) para induzir o sono. Outros, apostavam em técnicas de
hipnose ou "apagavam" o paciente com um soco na mandíbula. Para
tentar criar um estado de distração, podia-se, ainda, esfregar algumas regiões
do corpo do paciente com plantas urticárias.
Como funciona a anestesia no corpo.
Com a invenção da anestesia, os
procedimentos cirúrgicos se tornaram mais seguros – e menos com toque de
tortura. No Brasil, ela foi usada pela primeira vez em 1847 pelo médico Roberto
Jorge Haddock Lobo. De modo geral, a anestesia é feita com uma combinação de
medicamentos usados para diminuir a sensação de dor, amnésia, sedação e
hipnose, imobilidade e bloqueio de reflexos.
"Nenhum tipo de anestésico é
perfeito ou superior no geral. Na prática, ele é melhor ou pior quando
pensamos em situações específicas", comenta o médico Gabriel Magalhães
Nunes Guimarães, anestesiologista do Hospital Universitário de Brasília.
A anestesia local é
usada para impedir a transmissão de sinais entre uma parte específica do corpo
e o cérebro. Ela age bloqueando os canais de sódio nos neurônios, o que barra a
transmissão do impulso nervoso para o cérebro – assim, a pessoa "não
sabe" que algo dolorido está acontecendo. Esse tipo é usado para impedir a
dor em locais bem específicos, como durante a remoção de uma unha encravada ou
de um dente.
"Os anestésicos locais também
podem ser injetados no canal medular, a conhecida raquianestesia. Quando
isso é feito na região lombar, causa analgesia completa e imobilidade a partir
de um ponto para baixo, como da linha do umbigo para os dedos dos pés",
comenta Guimarães.
Esse tipo de anestesia é inserida na
medula com o uso de uma agulha muito fina e, geralmente, é utilizada para
cirurgias nas pernas ou em procedimentos ginecológicos e urológicos. Ela
bloqueia todos os tipos de sinais. O que não acontece na peridural, em que
o anestésico também é injetado na coluna, mas de modo mais superficial.
Assim, ele é suficiente apenas para eliminar a dor, e mantém a sensação tátil.
Já a anestesia
geral é usada para induzir o coma, o paciente fica inconsciente, sem responder a
estímulos e podendo ter episódios de amnésia.
Ela, geralmente, é administrada
por inalação ou por via venosa e ocorre em três estágios: indução (entre a
administração da droga e a perda de consciência), estado de excitação (período
prévio à perda de consciência) e o estado de anestesia, quando ocorre o
relaxamento muscular, depressão respiratória, redução dos movimentos oculares e
o paciente está pronto para a operação.
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