FONTE: , Jean-Louis Santini, em Washington (noticias.uol.com.br).
As pessoas que fumam
ou que têm câncer de pulmão devem pensar duas vezes antes de tomar suplementos
vitamínicos, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira (29) que mostrou
que certos antioxidantes podem impulsionar o crescimento de tumores malignos.
Os suplementos de
vitaminas antioxidantes aceleram o desenvolvimento de lesões pré-cancerosas e o
câncer de pulmão em fase precoce, destacou o estudo sueco publicado na revista
médica americana Science Translational Medicine, que pela primeira vez
esclareceu esse mecanismo.
Os antioxidantes,
como as vitaminas A, C e E, permitem neutralizar os radicais livres produzidos
pelo organismo que são prejudiciais, porque seu alto poder oxidante pode causar
danos às células, acelerar o envelhecimento e provocar câncer.
Paradoxo.
Durante muito tempo,
os cientistas acreditaram que os antioxidantes poderiam ajudar a evitar tumores
cancerígenos, mas vários estudos clínicos recentes sugerem que não têm efeito
algum para evitar o câncer de pulmão em particular. Pior ainda, podem inclusive
aumentar o risco em grupos vulneráveis, como o dos fumantes.
A razão desse
paradoxo era desconhecida até agora, afirmou o professor Martin Bergö, da
Universidade de Gotemburgo, Suécia, principal autor deste trabalho.
Para a pesquisa,
ratos geneticamente modificados para desenvolver pequenos tumores receberam
suplementos de vitamina E e um remédio antioxidante.
"Constatamos que
esses antioxidantes triplicaram o número de tumores e também aceleraram em
grande medida a sua agressividade", afirmou Bergö durante coletiva por
telefone.
"E os
antioxidantes causaram a morte desses ratos duas vezes mais rápido",
acrescentou, ressaltando que os efeitos destas substâncias dependem da dose.
Assim, quanto maiores as doses, maiores os efeitos.
Estas descobertas
foram replicadas em dois modelos de pesquisa diferentes, em ratos e em células
cancerosas de pulmão in vitro, destacou o pesquisador.
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"Um
efeito prejudicial"
Os antioxidantes
impulsionam o avanço do câncer, ao diminuir a quantidade de uma proteína-chave,
denominada "p53", cuja função principal é destruir as células
tumorais para que não causem danos ao DNA.
"Quando
eliminamos esta proteína em ratos e nas linhas celulares de câncer de pulmão
humano, os antioxidantes não tiveram nenhum efeito", disse.
Os antioxidantes têm
um efeito prejudicial na redução dos níveis de radicais livres nos tumores, o
que diminui a quantidade de proteína p53 no sangue e abre a via para a
multiplicação das células cancerosas, explicou.
Este mecanismo sugere
que as pessoas com lesões pequenas ou tumores não diagnosticados nos pulmões, o
que é mais provável nos fumantes, devem evitar os suplementos de antioxidantes,
disse o professor Bergö.
Falta determinar se
este efeito adverso dos antioxidantes também ocorre em outros tipos de câncer,
e se estas substâncias são benéficas em pessoas com baixo risco para evitar
tumores cancerosos.
"Ainda não está
claro, se os antioxidantes podem reduzir o risco de câncer em pessoas
saudáveis", disse.
Um estudo feito por
cientistas do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI, na sigla em
inglês), publicado em 2011 e feito com 28 mil homens de 55 a 74 anos, já tinha
mostrado uma relação entre o betacaroteno, um poderoso antioxidante encontrado
em muitas plantas e também usado como suplemento alimentar, e uma forma
agressiva de câncer de próstata.
Os pesquisadores também
lembraram que os tratamentos contra o câncer buscam oxidar as células
cancerosas para destruí-las. Portanto, os antioxidantes podem debilitar sua
ação terapêutica, esclareceram.
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