.FONTE: MARIANA VERSOLATO, EDITORA-ASSISTENTE
DE "CIÊNCIA+SAÚDE" (www1.folha.uol.com.b).
Uma nova droga para
repor testosterona em homens com baixos níveis do hormônio deve chegar ao
Brasil no próximo mês. A novidade é o formato: o medicamento é aplicado nas
axilas, como se fosse um desodorante.
Hoje, existem três
remédios de reposição hormonal masculina no país, todos injetáveis. Dois deles
são aplicados a cada três semanas e o outro, a cada três meses.
Já o novo medicamento,
de uso tópico, deve ser usado diariamente pela manhã, depois do desodorante
comum.
Dessa forma, a droga
tenta imitar a produção natural da testosterona --que tem níveis mais altos no
começo do dia. Com os remédios injetáveis de longa duração, podem ocorrer picos
do hormônio logo após as aplicações e níveis baixos no fim do período.
O remédio é colocado em
um aplicador usado diretamente nas axilas, o que evita que o produto entre em
contato com as mãos e diminui os riscos de contaminar outras pessoas com o
hormônio. A dose pode variar de acordo com a recomendação médica. Cada
"bombeada" do produto tem 30 mg, e a dose máxima diária, segundo a
bula, é de 120 mg. Uma unidade com 110 ml custará R$ 283,93, o que é suficiente
para um mês, em média, a depender da dose indicada.
INDICAÇÃO.
Segundo Miguel Srougi,
professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, a diminuição do
hormônio masculino é um processo natural que ocorre a partir dos 40 anos.
Mas não são todos os
homens que precisam do medicamento. O urologista afirma que a reposição
hormonal só é indicada para homens com níveis baixos de testosterona --os
valores normais vão de 300 a mil nanogramas por decilitro-- e queixa de
sintomas.
De acordo com estudos,
de 3% a 30% dos homens podem ter níveis baixos de testosterona. Desses, só um
terço tem sintomas relacionados a essa queda e, portanto, seria candidato ao
uso da reposição hormonal.
"Há só três
problemas que a reposição pode melhorar: perda de libido, perda de massa
muscular e osteoporose. Há médicos que acreditam que há um ganho na memória,
que a pessoa vai ficar mais bem disposta, mas não há evidências disso. É tudo
ficção", afirma Srougi.
Segundo ele, a queda do
hormônio masculino pode ter um efeito desfavorável para a saúde, mas não é
responsável por problemas cognitivos decorrentes da idade. A reposição também
não é um "elixir" para males como irritabilidade e insônia.
"Há um grupo de
críticos que afirma ainda que há um mercado de reposição hormonal que lucra com
essa ideia. Surgiu todo um comércio em torno disso. É preciso ter cuidado na
indicação", diz.
A reposição hormonal
masculina tem seus riscos. Em doses exageradas, pode causar o crescimento das
mamas, toxicidade para o fígado, aumento de colesterol "ruim", maior
risco de hipertensão e apneia do sono.
O risco de o tratamento
causar câncer de próstata foi levantado e já descartado, segundo Srougi, mas,
se o paciente já tiver um tumor, a droga fará com que ele cresça mais rapidamente.
Por isso, é preciso descartar a hipótese da doença antes de começar o
tratamento.
O médico diz ainda que
a forma de aplicação do novo medicamento, não injetável, pode aumentar o número
de pessoas que farão uso indevido da testosterona, incluindo os adeptos da
medicina "antiaging" (que usa hormônios para tentar atrasar o
envelhecimento, sem evidências científicas).
Bernardo Soares,
diretor médico da Eli Lilly, diz que o risco existe, mas que a droga será
vendida com receita. Efeitos adversos e uso fora da indicação da bula serão
monitorados pela farmacêutica.
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