Uma
equipe científica diz ter encontrado a primeira evidência direta de que o mal
de Parkinson pode ser "autoimune". Segundo cientistas, o sistema
imunológico atacaria células do cérebro em pessoas que sofrem da doença.
Essa
hipótese surgiu pela primeira vez há quase um século, mas até agora não havia
informações suficientes para confirmá-la.
A
descoberta foi publicada em detalhes na revista científica Nature e mostra que medicamentos
indicados para o sistema imunológico podem ajudar a controlar a doença.
O
mal de Parkinson causa danos progressivos no cérebro, que geram tremores e
dificuldades de movimento. Em paralelo, o cérebro dos pacientes que sofrem da
doença acumula níveis muito altos da proteína alfa-sinucleína.
Os
pesquisadores do centro médico da Universidade Columbia e do Instituto de La
Jolla para Alergia e Imunologia, nos EUA, descobriram que as células-T, que
fazem parte do sistema imunológico, atacam a alfa-sinucleína.
Isso
significa que o sistema imunológico de quem sofre do mal de Parkinson identifica
essa proteína como um invasor estranho, como se fosse uma bactéria ou vírus, e
ataca-a para defender o organismo.
Os
cientistas acreditam que, nesse processo, o sistema imunológico acaba matando
também células cerebrais boas que acumulam essas proteínas.
"A
ideia é que uma falha no sistema imunológico contribui para o mal de Parkinson.
Isso é algo que já se suspeitava havia quase cem anos", disse à BBC David
Sulzer, um dos pesquisadores da Universidade Columbia. "Até agora, porém,
ninguém havia conseguido conectar os pontos".
A
pesquisa foi feita com análise do sangue de 67 pacientes com Parkinson para
tentar encontrar evidências de autoimunidade.
Outras hipóteses.
Sulzer
acredita que esse estudo tem forte elo com outra hipótese sobre o mal de
Parkinson: a de que a doença poderia ter início no intestino.
"Suspeitamos
que as células-T primeiro identificam a alfa-sinucleína no sistema nervoso do
intestino, o que não causa nenhum problema. O problema começa quando as
células-T entram no cérebro", explicou Sulzer.
"Nossos
resultados sugerem a possibilidade de utilizar-se uma estratégia com
imunoterapia para aumentar a tolerância do sistema imunológico com relação à
alfa-sinucleína, o que poderia ajudar a melhorar ou prevenir o agravamento dos
sintomas do mal de Parkinson", agregou o médico Alessandro Sette, da La
Jolla.
Para
David Dexter, da organização beneficente Parkinson UK, a descoberta dá maior
peso à ideia de que o mal de Parkinson pode envolver uma "falha" ou
"confusão" do sistema imunológico, que acaba danificando células boas
do cérebro para combater a proteína que identifica como invasora.
No
entanto, ele faz uma ressalva. "Ainda temos que entender muito mais sobre
como esse sistema imune pode estar envolvido na complexa cadeia de eventos que
contribuem para o mal de Parkinson."
"Essa
descoberta apresenta uma nova via para explorar o desenvolvimento de novos
tratamentos que podem amenizar ou até controlar o progresso da doença",
afirmou Dexter.
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