Dormir mais horas do que o necessário traz mais riscos
de problemas cardiovasculares do que dormir pouco. O
alerta foi feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) e do Instituto do Sono na última edição do World Congress on Brain,
Behavior and Emotions, congresso sobre o cérebro realizado em Porto Alegre entre os dias 14 e 17
deste mês.
Em
um dos painéis do evento, os cientistas apresentaram evidências de uma
série de estudos nacionais e internacionais que identificaram os riscos à saúde
associados à prática de ter muitas ou poucas horas de sono por noite.
Em
pesquisa da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, e publicada no periódico Sleep
Medicine neste ano, os autores concluíram que dormir de duas a quatro
horas por noite aumenta em duas vezes o risco de sofrer infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Já entre os que dormem mais de dez horas, esse risco é
sete vezes maior.
Pesquisadora
da Unifesp e palestrante do congresso, Lenise Jihe Kim explica que o fenômeno
pode estar associado às características do sono de quem dorme demais.
“Basicamente, os grandes dormidores teriam maiores despertares durante a noite,
ou seja, um sono mais fragmentado. E a cada despertar a gente eleva a pressão
arterial e a frequência cardíaca. Isso, cronicamente, leva à hipertensão e à
inflamação, alterações cardiometabólicas que favorecem um AVC ou um infarto”,
diz ela.
A
especialista explica que, até há poucos anos, os estudos dessa temática ficavam
mais restritos aos riscos da privação do sono e não do excesso dele. “O assunto
dos grandes dormidores é muito recente. Temos registros de alguns estudos um
pouco mais antigos, mas pesquisas epidemiológicas com evidências populacionais
são de 2016 para 2017”, diz.
Muitas horas de sono.
Um
dos primeiros estudos que já apontavam os riscos de passar muitas horas na cama
— conduzido por pesquisadores de Baltimore, nos Estados Unidos, e publicado em
2009 no periódico Journal of Sleep Research — mostrou que o
risco de morrer por uma doença cardiovascular era 38% maior entre os que dormem
muito em comparação com quem dorme oito horas por noite. O índice é bem maior
do que o encontrado entre os que dormem pouco. Nesse grupo, o risco de
mortalidade era 6% maior.
Lenise
explica que uma das hipóteses para o dado é que a pessoa que dorme demais, ao
contrário daquele que sofre com insônia, não enxerga em si um problema de
saúde. “Ela não reconhece bem os sintomas, acha que, por ter a oportunidade de
dormir mais, não tem problemas e não procura serviços médicos. Mas a verdade é
que os que dormem mais horas costumam sofrer mais com problemas como ronco e
apneia do sono”, relata.
A
especialista ressalta que não é só o número de horas que define um “grande
dormidor”. “São aquelas pessoas que dormem mais do que a média da população,
que é de sete a oito horas por noite, mas que fazem isso porque precisam dessa
quantidade de horas. Não é simplesmente porque têm uma oportunidade de dormir
mais em um fim de semana, por exemplo, é porque têm a necessidade de dormir
muito para se sentirem bem no dia seguinte”, afirma.
Outros riscos.
No
outro extremo, o dos que passam poucas horas na cama, os pesquisadores
apontaram como riscos problemas cardiovasculares, obesidade e outras doenças
associadas ao excesso de peso.
“Dormir
de duas a quatro horas por noite eleva o risco de ganhar peso em 200%. O motivo
é que a restrição de sono provoca alterações metabólicas que alteram hormônios.
Isso aumenta a nossa fome e diminui a sensação de saciedade. Ou seja, sem
dormir direito, você vai comer mais do que comeria em um dia normal e vai
preferir comidas calóricas, ricas em gordura e açúcares”, explica Monica L.
Andersen, diretora do Instituto do Sono, professora da Unifesp e também
palestrante do congresso.
Tumor.
O
sistema de defesa do organismo também fica mais frágil com a privação de sono,
segundo Sergio Tufik, presidente do instituto e também professor da Unifesp.
“Dormir pouco prejudica o sistema imunológico e deixa nosso corpo mais
suscetível até mesmo ao crescimento de células tumorais. Essas células estão
presentes em todas as pessoas, mas, com o sistema de defesa funcionando bem, a
chance de as combatermos é maior”, explica.
*** Com Estadão
Conteúdo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário