A
alegação de tratar os pacientes da melhor forma possível não justifica o uso
indiscriminado de remédios e exames. Até porque essa prática está por trás de
consequências nada saudáveis: a Organização das Nações Unidas divulgou que, em
2016, o consumo abusivo de medicações controladas já superou o de heroína,
ecstasy e cocaína juntos.
Para
controlar o excesso de tratamentos, surgiu o conceito de prevenção quaternária.
Em resumo, estamos falando de ações que pretendem identificar pacientes sob
risco de sofrerem com a utilização abusiva de fármacos ou testes diagnósticos
e, a partir daí, oferecer alternativas em nome de sua qualidade de vida.
Em
visita ao Brasil, a médica escocesa Maureen Baker, ex-presidente do Royal
College of General Practitioners,
discursou sobre o assunto no 4º Congresso Nacional Unimed de Atenção Integral à
Saúde. E, depois, conversou com a SAÚDE sobre o tema para você entender
melhor a questão e qual o seu papel nela:
SAÚDE:
Como a senhora explicaria a chamada prevenção quaternária?
Maureen
Baker: A prevenção
quaternária também é conhecida como a prevenção de sobrediagnóstico ou excesso
de medicina/remédio. Isso ocorre ou quando há poucos benefícios para o paciente
de certo tratamento, ou ainda quando o prejuízo da medicação supera as
vantagens. Um exemplo é o do idoso que toma um fármaco para lidar com uma
pressão ligeiramente alta e, aí, sofre de tonturas como efeito colateral, que
fazem ele cair e quebrar o quadril.
Como
identificar uma pessoa em alto risco de ser medicada em excesso?
Qualquer
um pode sofrer com isso, mas quem está passando por múltiplos problemas está
mais suscetível, porque pode acabar tomando muitos remédios, que então
interagem entre si, provocando danos.
Quais
as principais dificuldades em implementar a prevenção quaternária?
O
maior desafio é pensar nos pacientes como indivíduos, que podem ter vários
problemas, e não como pessoas que precisam de tratamentos para doenças
específicas. A maioria dos sistemas de saúde foram desenvolvidos para tratar
doenças isoladamente ou um único órgão. Há um serviço de diabetes, por exemplo,
ou um serviço de aparelho digestivo. Acontece que os sistemas de saúde devem
ter uma aproximação mais generalizada, em que as pessoas são tratadas de
maneira holística. Um jeito de fazer isso é contratar mais clínicos gerais,
focados justamente na observação geral.
Iniciativas
como “What matters to you”, que pensam em atendimento humanizado, podem ajudar na
prevenção quaternária?
Sim,
sem dúvida. No fim das contas, o paciente é a pessoa que decide se vai aceitar
ou não determinado tratamento. Ao tomar essa escolha, ele precisa ser apoiado
pelos profissionais de saúde. Esses, por sua vez, deveriam usar técnicas de
decisão compartilhada para explicar os benefícios e os malefícios de um
procedimento em particular.
Como
combater o uso excessivo de remédios e exames sem estimular o abandono de
tratamentos em todo e qualquer cenário?
De
novo, aqui é onde as decisões compartilhadas podem ser especialmente úteis. O
paciente deve ser auxiliado para entender potenciais benefícios e riscos do
tratamento. Aí, é uma questão de pesar esses pontos e decidir se, para você, as
vantagens superam ou não as desvantagens.
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