Algumas escolas nos Estados Unidos estão incluindo "educação amorosa" no currículo. Muitos educadores chegaram à conclusão de que a geração Snapchat+Instagram até sabe como evitar filhos e se proteger de doenças sexualmente transmissíveis, mas não tem a mais remota de ideia de como se namora alguém.
Segundo o Centers for Diseases Control (CDC), agência de proteção à saúde americana, quase 80% das escolas de ensino médio oferecem aulas de educação sexual —embora, em boa parte delas, isso se limite a ensinar a abstinência como única forma aceitável de contracepção.
Os alunos aprendem
sobre gravidez na adolescência, masturbação, iniciação sexual, violência
sexual. Na maioria das vezes, no entanto, ignoram completamente o significado
de "relacionamento".
Estão imersos na
cultura de "ficadas" e sua comunicação se limita a emojis, vídeos,
fotos e mensagens de texto. Contato pessoal, olho no olho, conversa —tudo isso
pode causar constrangimento, e constrangimento é tudo o que eles não querem.
Segundo Richard
Weissbourd, director do programa de Desenvolvimento Humano e Psicologia da
Universidade Harvard, muitos adolescentes não entendem, por exemplo, o que é um
namoro saudável e o que é um relacionamento tóxico. Não diferenciam amor de
paixão ou desejo sexual.
A boa notícia é que
esses jovens querem aprender mais sobre o que é namorar. Segundo pesquisa
divulgada por Weissbourd em maio, 70% dos jovens entrevistados gostariam de ter
recebido de seus pais mais informações sobre aspectos emocionais dos
relacionamentos, e 65% gostariam de ter aprendido na escola.
A professora Kerry
Cronin, do Boston College, foi mais longe. Ao longo dos anos, notou que os
alunos são absolutamente inaptos socialmente quando se refere a relacionamentos
amorosos, por isso a maioria só "fica", e não "sai" ou
"namora".
Na cultura do
"hookup", como "ficar" é chamado nos EUA, não há nenhum
compromisso e a "ficada" não deve gerar nenhuma expectativa.
"É uma interação
sexual ou física sem nenhum conteúdo emocional aparente e não há expectativa de
continuação", explica. Entre seus alunos, 7 de cada 8 só ficavam, sem
compromisso.
Pensando nisso, Cronin
introduziu uma atividade em seu curso introdutório de Filosofia. Para serem
aprovados no curso, os alunos precisam convidar alguém para sair. Tem que ser
pessoalmente, não vale mandar mensagem de texto. O aluno precisa estar
interessado "romanticamente" na pessoa, a "saída" ou
"date", tem que durar entre 60 e 90 minutos e ser durante o dia.
"A ideia é encarar
o constrangimento e descobrir que, mesmo se você for rejeitado, não é o fim do
mundo. Essa geração tem pânico de fracasso. Resiliência é uma questão
importante", disse Cronin em entrevista ao jornal da universidade.
*
No Brasil, onde
movimentos como o Escola
sem Partido tentam vetar
temas como orientação sexual das salas de aulas e
apenas a minoria das escolas oferece algum tipo de informação sobre o assunto,
imagine a dificuldade de emplacar "educação amorosa" no currículo.
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