FONTE: Priscila Tieppo, Do UOL, em São Paulo (economia.uol.com.br).
O interesse dos consumidores pelas frutas
amazônicas levou os pesquisadores da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), em Piracicaba (SP), a tentar
cultivá-las longe de seu ambiente quente e úmido, fatores que reconhecidamente
limitam sua produção.
"Por essa razão, elas são
normalmente consumidas em forma de doces e de polpa congelada em outras
regiões", diz a engenheira agrônoma Patrícia Maria Pinto.
Os pesquisadores decidiram escolher três
tipos de fruta: o camu-camu, pelo teor elevado de vitamina C, o abiu e o
bacupari pelo gosto adocicado, em vez de investir em frutas mais conhecidas,
como o cupuaçu. "Avaliamos que as escolhidas têm alto potencial de
exploração por produtores de diferentes lugares", diz a engenheira.
Durante o plantio, alguns cuidados
especiais precisam ser tomados. O abiu, por exemplo, necessita ser irrigado com
mais frequência.
"Por ser um fruto da região
amazônica, onde há maior incidência de chuvas, ele precisa de maior volume de
água. Em tempos de estiagem, são necessários cerca de 500 litros por
semana", afirmar o engenheiro agrônomo Júlio Shimazaki, do Sítio
Shimazaki, em Mirandópolis (a 594 km de São Paulo), onde o fruto foi plantado
para a realização da pesquisa da Esalq.
Os outros frutos, por sua vez, não
precisaram de grandes cuidados para adaptação –como irrigação o tempo todo, nem
solo especial- mas todos são sensíveis ao frio paulista.
Segundo Patrícia Pinto, a colheita dessas
frutas também é diferente da de seu lugar de origem. O abiu e o camu-camu
precisam ser apanhados antes do amadurecimento total e armazenados em uma
temperatura que varia de 6º C a 10º C, procedimento que aumenta o tempo em que
a fruta fica própria para consumo.
O bacupari, porém, é o único que deve ser
colhido maduro. "Verificamos que a fruta não dá continuidade ao processo
de amadurecimento depois de colhida", disse a pesquisadora.
VEJAS
AS CARACTERÍSTICAS DAS FRUTAS
Abiu
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Bem doce, tem
consistência pegajosa quando não maduro
|
Bacupari
|
Também apresenta
sabor bem doce
|
Camu-camu
|
Embora a comercialização das frutas
exóticas seja pouco relevante para as estatísticas da produção total de frutas
do país, o Ceagesp, em São Paulo –maior entreposto de alimentos frescos da América Latina– registrou aumento de 8,11%
(5.700 toneladas) nas vendas do ano passado em comparação a 2011.
Produtor faz experiência por tentativa e erro.
Muitas vezes, para adaptar o plantio de
frutas em diferentes regiões é preciso "trabalhar no escuro",
arriscando-se em tentativas.
Foi o que fez o empresário Douglas Bello,
dono do Sítio do Bello, localizado em Paraibuna (a 124 km de São Paulo). "Foi
observando essas plantas, que pude definir o tempo de colhimento e o
armazenamento. Foi por tentativa e erro mesmo", afirma.
Em suas plantações, Bello tem entre os
frutos amazônicos castanha-do-brasil, araçá-boi, camu-camu,
castanha-do-maranhão, buriti, jenipapo, açaí, bacupari e pupunha. Segundo o
produtor, alguns se adaptaram bem ao clima e outros, não.
"O clima é frio em Paraibuna por
conta da altitude. O camu-camu produz, mas é pouco. O açaí e o buriti não se
adaptaram muito bem. O araçá-boi vingou e produz muito. O jenipapo, por
exemplo, produz bem e se adapta em todo o país", contou Bello.
A empresa, porém, ainda vende muito pouco
dos frutos "in natura". A procura maior ainda é por polpa congelada e
doces. "A gente transforma em polpa congelada para ter o ano todo.
Faz doce, geleia, sorvete, vende para restaurantes, casa de sucos, empórios e
supermercados", disse. Entre os clientes, está o restaurante D.O.M, em São
Paulo, do chef Alex Atala.
A ideia de plantar esses frutos surgiu
com o projeto da empresa de recuperar o solo da propriedade e preservar
ecossistemas do Brasil. No sítio de dez hectares, Bello fez uma
"miniatura de floresta" para atingir este objetivo.
Atualmente são 60 espécies plantadas em
sete hectares e mais de 7.000 árvores.
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