FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Homens de meia idade que mantêm
alto consumo de bebidas alcoólicas podem apresentar perda de memória antecipada
em seis anos. Estudo realizado com um grupo de mais de sete mil pessoas, com
média de idade de 56 anos, mostrou que aqueles que ingeriam mais de 36 gramas
de álcool por dia - ou mais de duas latas e meia de cerveja, ou duas
taças e meia de vinho, ou 100 ml de destilado - apresentaram antecipadamente
perda de memória e problemas em outras funções cognitivas, como a execução de
tarefas cotidianas e fluência verbal.
O estudo comparou os resultados de duas
baterias de testes cognitivos realizados ao longo de dez anos. De acordo com
Severine Sabia, pesquisadora do departamento de Saúde Pública da University
College London e autora do estudo publicado no periódico científico Neurology,
a comparação mostrou que houve “notável” declínio de todas as funções
cognitivas em todos os grupos de alto consumo de álcool.
“Os mecanismos que associam o consumo
de álcool e a perda de memória são complexos. A hipótese principal está no fato
de o consumo abusivo de álcool estar ligado ao maior risco de doença vascular,
que, por sua vez, pode aumentar o risco de comprometimento cognitivo. Além
disso, o consumo excessivo de álcool tem efeitos no curto e longo prazo
prejudiciais para o cérebro”, disse Severine Sabia.
A médica psiquiatra brasileira
Camila Magalhães Silveira, da Unidade de Dependência Química do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que além da relação
cérebro-doença vascular, o álcool age diretamente no cérebro de duas formas.
“Ele estimula neurotransmissores inibitórios da função cerebral, ocasionando
uma diminuição da função cerebral. Fora isso, a ação direta do álcool na célula
promove uma desidratação nas células, prejudicando neurônios de determinadas áreas do
cérebro, como aqueles ligados à memória”, disse.
Camila, que não participou da
pesquisa, afirma ainda que os resultados dos estudos realizados no Reino Unido
não a surpreenderam. “Você nota isso no dia a dia. Geralmente essas pessoas se
queixam de falta de memória. Cinquenta e seis anos é uma idade precoce para
isto aparecer, mas não é o tipo de caso que não se encontre por aí”, disse.
O estudo também mostrou que não
houve diferença no que se refere à memória e funções cognitivas entre o grupo
de abstêmios e o de pessoas de consumo baixo ou moderado de álcool. “É sabido
que o consumo baixo ou moderado pode ser benéfico para o
coração, e o que é bom para o coração é bom para o cérebro. Porém, se aumentar
a dose, o quadro muda”, disse Severine.
A pesquisadora afirma que ainda é preciso
fazer mais estudos com mulheres para saber como o álcool atinge a memória
delas. No estudo, no caso das mulheres, o alto consumo de álcool (mais de
19 gramas de álcool por dia para elas) foi associado não à perda de memória mas
ao declínio da execução de funções. “É preciso fazer mais estudos com mulheres.
Acredito que este resultado pode estar relacionado ao baixo número de mulheres
que consumem muito álcool, o que reduz a chance de encontrar uma associação”,
disse.
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