FONTE: CLÁUDIA COLLUCCI, DE SÃO PAULO
(www1.folha.uol.com.br).
A incidência de algumas
infecções hospitalares aumenta até 57% no verão, segundo estudo da Unesp
(Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, interior de SP.
A pesquisa envolveu 5.000
exames de sangue de pacientes internados no HC de Botucatu com infecção
sanguínea, geralmente associada ao uso de cateteres. Desses, 1.500 tinham
infecções adquiridas dentro do hospital.
Após testes estatísticos, os
pesquisadores identificaram que as bactérias gram-negativas, principais
causadoras de infecção hospitalar, têm comportamento sazonal.
No caso das bactérias do
gênero Enterobacter, responsáveis por infecções respiratórias e
urinárias, o aumento de casos foi de 57% entre outubro e março em relação ao
período de abril a setembro.
Já os casos de Acinetobacter
baumannii, bactéria causadora de infecções graves e resistentes a
antibióticos, tiveram crescimento de 41% no período mais quente.
"Ela, ao lado da KPC, é
o terror das UTIs", diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital
Edmundo Vasconcelos, em São Paulo.
Segundo Carlos Magno
Fortaleza, professor da Unesp e orientador do trabalho, para cada 1º C a mais
na temperatura média mensal, aumentou em 13% a incidência da Acinetobacter.
Prevenção.
Prevenção.
A pesquisa é resultado da
tese de doutorado da enfermeira Silvia Caldeira e será publicada como artigo
científico na edição deste mês da revista "Infection and Hospital
Epidemiology".
O estudo sugere que as
campanhas de prevenção da infecção hospitalar ocorram no verão, entre dezembro
e março, e não em maio, como acontece hoje.
As campanhas orientam sobre a
importância da lavagem correta das mãos (com água e sabão ou usando álcool-gel)
e do controle da infecção hospitalar com isolamento de pacientes.
Segundo Timerman, a
preocupação com as infecções por bactérias multirresistentes é tamanha que já
existe uma proposta internacional de colocar em unidades de isolamento todos os
pacientes de UTI, mesmo que eles não estejam infectados.
"É uma medida extrema,
já que as soluções mais simples, como a higiene adequada das mãos, continuam
falhando", diz o infectologista.
SAZONALIDADE.
São várias as hipóteses que
podem explicar a sazonalidade das infecções hospitalares, segundo Carlos
Fortaleza, da Unesp.
Entre elas está a
possibilidade de algumas proteínas da bactéria se expressarem mais no verão,
tornando-a mais agressiva. Como há mais umidade no verão, isso pode favorecer a
proliferação dos micro-organismos.
O fato de as bactérias
aumentarem a capacidade de invadir tecidos corpóreos quando expostas a
temperaturas altas também levaria ao aumento das infecções.
Outra hipótese já levantada
em outros países é o chamado subdimensionamento de enfermagem, ou seja, poucas
enfermeiras cuidando de muitos pacientes. "Pode haver descuido na lavagem
das mãos ou na observação de isolamento dos pacientes", diz Fortaleza.
Ele afirma que ainda existe a
possibilidade de os profissionais de saúde trazerem as bactérias –mais
abundantes no ambiente externo– em suas mãos ou roupas quando chegam ao
hospital.
A próxima etapa do estudo
será analisar dados de hospitais de outras regiões do país para verificar se
nesses locais há sazonalidade semelhante à verificada no Hospital das Clínicas
de Botucatu.
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