FONTE: DAVID TULLER, DO "NEW YORK
TIMES"
(www1.folha.uol.com.br).
Michael Rubio, 28 anos,
lembra-se de como quatro amigos se tornaram soropositivos por fazerem sexo sem
proteção no espaço de um ano. Essas notícias o levaram a experimentar uma nova
forma de evitar o HIV: uma pílula diária que previne a infecção.
"Com meu círculo de
amigos tão afetado no último ano, foi fácil optar por isso."
Especialistas esperavam que o
remédio, o Truvada (combinação de dois antirretrovirais usados para tratar
pessoas com HIV desde 2004), fosse adotado com entusiasmo por homens gays saudáveis.
Em vez disso, a droga está demorando para "pegar" nesses 18 últimos
meses desde que foi aprovado como terapia profilática pela FDA (agência
reguladora de remédios nos EUA).
No Brasil, o tratamento está
passando por testes ainda.
Por 30 anos, a camisinha foi
anunciada como única forma eficaz, além da abstinência, de evitar a transmissão
do HIV. Mesmo assim, 50 mil novas infecções ocorrem a cada ano nos EUA. A
transmissão entre homens representa metade desse total.
Médicos saudaram o Truvada
como oportunidade de reduzir novas infecções entre jovens gays, pessoas cujos
parceiros estão infectados e prostitutas. A FDA pediu que as receitas do
Truvada fossem acompanhadas de aconselhamento, testes de HIV e promoção do sexo
seguro.
Mas menos pessoas vêm usando
a profilaxia pré-exposição do que se esperava. Segundo a Gilead Sciences, que
fabrica a droga, 1.774 pessoas compraram Truvada nos EUA para prevenção contra
o HIV entre janeiro de 2011, quando esse uso ainda era off-label (fora das
recomendações da bula), e março de 2013.
Surpreendentemente, quase
metade das receitas era de mulheres. Deborah Cohan, obstetra e ginecologista da
Universidade da Califórnia, já receitou o Truvada para muitas mulheres cujos
parceiros têm HIV, inclusive uma que quer ficar grávida.
Então por que mais homens não
adotaram o tratamento? Alguns relataram ter recebido reações negativas dos
médicos quando falaram sobre o assunto. O uso da droga como prevenção também
carrega um estigma entre os gays. O termo "Truvada whore" (prostituta
de Truvada) já apareceu em redes sociais. Efeitos colaterais como perda de
densidade óssea, apesar de raros, preocupam.
Outra questão é que, com os
avanços no tratamento, muitos jovens não viveram os piores anos da epidemia e
têm menos medo da doença. E as drogas atuais baixam tanto os níveis virais nos
infectados que o risco de transmissão se reduz muito, diminuindo a percepção de
que a profilaxia seja necessária.
SEM CAMISINHA.
Damon Jacobs, um
psicoterapeuta de Nova York, começou a tomar o Truvada depois de terminar um
relacionamento. "Percebi que não usava mais a camisinha com tanta
frequência e isso me assustou", afirmou Jacobs, 42, que mantém uma página
no Facebook promovendo a profilaxia pré-exposição. Ele disse que nunca se
esqueceu de tomar uma só dose do remédio nos últimos dois anos, mas reconhece
que agora ele usa camisinha ainda menos.
Esse comportamento preocupa
os médicos. A parcela dos gays que dizem ter feito sexo anal sem proteção nos
últimos 12 meses cresceu de 48% em 2005 para 57% em 2011, segundo pesquisa do
governo americano.
A adesão ao tratamento é
outro problema. Um estudo mostrou que muitos homens não tomavam a pílula todo
dia, o que os deixava mais vulneráveis à infecção.
Para Kenneth Mayer, professor
de medicina em Harvard, é cedo para pessimismo. "Vai levar tempo [para que
mais gente use o remédio]. Estamos só no início."
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