FONTE: RICARDO FELTRIN, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(www1.folha.uol.com.br).
Pessoas que usam o
remédio topiramato, descoberto nos EUA em 1979 para combater convulsões, como
emagrecedor relatam efeitos colaterais como adormecimento e formigamento em
várias partes do corpo, náuseas, problemas de memória e muitas dificuldades com
o reflexo motor, além de sonolência e dificuldade de concentração.
O uso com essa
finalidade se tornou mais comum há dois anos, quando a Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de emagrecedores à base de anfetaminas
e restringiu a venda de sibutramina.
A proibição foi
derrubada recentemente pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania
(CCJ) da Câmara dos Deputados, mas essas substâncias ainda não voltaram às
farmácias.
Enquanto isso, muitas
pessoas com problemas de excesso de peso têm resolvido procurar o topiramato
(Topamax). O remédio já tem sites criados por fãs e grupos de discussão.
Os efeitos colaterais
relatados por usuários do remédio indicam risco para quem dirige automóveis ou
máquinas ou que esteja envolvido em atividades que exijam alto grau de
concentração.
Médicos afirmam que,
como acontece com todo medicamento, o uso de topiramato requer atenção e
cuidados por parte do profissional que o indica, mas também apontam que a droga
pode de fato trazer benefícios a pessoas com excesso de peso.
DEPRESSÃO E PESO.
A jornalista e
especialista em comunicação Adriana Santos, 41, coordenadora do canal Minas
Saúde, afirma ter começado a tomar topiramato por indicação de um psiquiatra.
Ela diz ter sido sempre uma mulher magra, mas teve um aumento de peso durante
um período de depressão. A doença, somada a medicamentos para combatê-la, fez com
que Adriana engordasse quase 10 quilos.
"Tive formigamento
nos pés e nas mãos e alterações de memória já nas primeiras semanas de uso.
Mas, em compensação, o topiramato me ajudou no sono", afirma a jornalista,
que perdeu rapidamente seis quilos e abandonou o medicamento após um ano.
"Embora tenha me ajudado em uma fase da minha vida, eu acho que não
tomaria o remédio novamente", diz.
Jaqueline da Silva
afirma que está tomando o medicamento de 12 em 12 horas por prescrição de um
endocrinologista. Ela relatou em um grupo de discussão os benefícios e efeitos
colaterais que o medicamento vem causando.
"Tomo o remédio há
cerca de um mês e já perdi 3,2 quilos. Mas, com os quilos, também se foi a
paciência. Mas esse remédio realmente tira a fome", postou.
Já Fernanda Costa, 30,
relatou sua infelicidade em ter de deixar o medicamento após perceber que ele a
estava prejudicando ao ponto de impedir que tirasse o carro da garagem. Ela
afirma que chegou a bater no carro do marido, durante uma manobra, e atribuiu o
acidente ao uso do medicamento.
"Infelizmente
tenho de usar os carros todos os dias para ir à faculdade", conta.
AÇÃO DA DROGA.
O anticonvulsivante
agiria numa área do cérebro que controla a saciedade, mas a substância também
tem sido usada como coadjuvante no tratamento de transtornos de humor e até no
combate à dependência de álcool e outras drogas.
Na história da
medicina, vale dizer que não são incomuns medicamentos descobertos com uma
finalidade que passam a ter uso completamente diverso.
Para o médico Henri
Bischoff, especialista em controle do metabolismo, a proibição de anfetaminas
pela Anvisa deixou os médicos "à mercê de medicamentos que não têm como
objetivo o emagrecimento, mas como um de seus efeitos colaterais".
"As anfetaminas,
bem ou mal, cumpriam seu papel de controle da compulsão alimentar", afirma
Bischoff. "O topiramato tem como principal efeito [colateral] a retirada
da fome à noite. Ele deve ser sempre iniciado em dose baixa para minimizar os
efeitos [ruins]", declara.
O médico afirma que só
indicaria o topiramato para emagrecer se o paciente tivesse índice de massa
corporal maior que 30 (o que indica obesidade) e fosse refratário a outros
medicamentos.
Segundo Danilo Antônio
Baltieri, professor da Escola de Medicina Fundação ABC e integrante do Grupo
Interdisciplinar de Estudos sobre o Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria
do HC, estudos apontam que usuários do topiramato têm redução de peso que vai
de 6% a 16% nos primeiros quatro meses de uso.
Para o médico e
psiquiatra, a atenção que o topiramato vem recebendo como emagrecedor é
justificável, mas faltam registros científicos sobre o abuso dessa medicação.
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