FONTE: Thais Borges (thais.borges@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.
Novos casos
foram relatados na Chapada Diamantina. A pesquisadora Roberta Caldeira, da
Fiocruz de Minas Gerais, é uma das responsáveis por um estudo sobre o genoma do
caramujo que é um dos principais vetores da doença.
Os
novos casos de esquistossomose contraídos na Chapada Diamantina podem estar
associados a diferentes motivos. De acordo com a pesquisadora Roberta Caldeira,
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais, uma delas é justamente o
crescimento do ecoturismo – que tem acontecido em todo o Brasil.
“Pessoas
que são urbanas e nunca tiveram contato com rio, cachoeira, começam a procurar
locais que têm esse tipo de coleção hídrica, como lagoas e poções. Quando essa
pessoa procura esses locais, ela nunca é informada, porque a gente também não
tem conhecimento de todas as doenças que podem ter ali”, explica Roberta. Ela é
uma das responsáveis por um estudo que sequenciou o genoma do Biomphalaria
glabrata, o caramujo que é o principal hospedeiro do Schistosoma mansoni, o
causador da esquistossomose.
Mesmo
assim, ela reforça que o caramujo – o vetor da doença, no caso – não é o vilão
aqui. Segundo Roberta, o problema acontece quando uma pessoa entra em locais
onde não deveria entrar. “Se você tem essa invasão seja por lazer, trabalho ou
qualquer motivo, você pode estar exposto a esse parasita”.
Além
disso, eventos naturais também podem provocar um aumento no número de casos. No
ano passado, por exemplo, uma cheia do Rio Santo Antônio, que passa por
Lençóis, chegou a invadir casas da região. “Se esse rio transbordou, a primeira
coisa que deveria ser feita é investigar se há presença do molusco no rio. Se
existia, muito provavelmente, quando o rio transbordou, levou o molusco até
locais onde ele não existia. Essa é uma das formas pelas quais o molusco migra,
além das aves”.
Se,
nesses novos locais, o caramujo tiver encontrado um ambiente favorável, ele vai
ficar por lá. E não importa se apenas um desses animaizinhos tiver migrado: por
ser hermafrodita (tem órgãos reprodutores feminino e masculino), um único
caramujo pode dar início a uma nova população inteira em uma nova área. E, assim,
mais pessoas são infectadas.
A
pesquisadora cita, inclusive, um caso que aconteceu em Porto de Galinhas (PE),
alguns anos atrás. Após fortes chuvas, uma lagoa da região transbordou. “Essa
lagoa tinha vários caramujos e foco de esquistossomose. Quando ela transbordou,
espalhou água doce para a areia, perto das pousadas. Inundou tanto que as
pegadas humanas ficaram cheias de água e, nessas águas, tinham caramujos.
Pessoas que nem entraram na lagoa, apenas andaram na areia, se infectaram. Não
era lago, não era poção, eram pegadas cheias de água”.
Caramujo transgênico.
O estudo conduzido pela pesquisadora Roberta, assim como pelos pesquisadores Omar Carvalho e José Amorim da Silva foi divulgado em maio deste ano e publicado na revista científica Nature Communications. Durante 15 anos, o grupo deles sequenciou o genoma do caramujo Biomphalaria glabrata. A investigação começou na Fiocruz de Minas, mas, ao longo dos 15 anos, envolveu instituições de 11 países.
O estudo conduzido pela pesquisadora Roberta, assim como pelos pesquisadores Omar Carvalho e José Amorim da Silva foi divulgado em maio deste ano e publicado na revista científica Nature Communications. Durante 15 anos, o grupo deles sequenciou o genoma do caramujo Biomphalaria glabrata. A investigação começou na Fiocruz de Minas, mas, ao longo dos 15 anos, envolveu instituições de 11 países.
“Quando
começamos, em 2002, sequenciar o genoma era o boom da ciência. Só que o genoma
dele (o caramujo) foi um pouco mais complexo e demorou por falta de recursos
financeiros. Etão, as sequências eram feitas aos poucos”, diz ela. Com o passar
dos anos, o grupo também foi realizando desdobramentos dos estudos – a exemplo
das diferentes proteínas do Biomphalaria, micro RNAs e vias de processamento
diferentes genes.
“Primeiro,
como ciência, a gente busca ter maiores informações sobre o organismo, na busca
sempre de ampliar os conhecimentos e ter uma aplicação”. O genoma, como a
pesquisadora explica, é uma sequência de quatro nucleotídeos – chamados pelas
letras A, C, G e T (representando, respectivamente, adeninas, citosinas,
guaninas e timinas).
Ela
faz uma associação com o alfabeto. Só que, ao invés de formar palavras, quando
essas letras são combinadas no genoma, elas têm funções específicas – uma
dessas funções pode estar ligado ao fato de o Biomphalaria se infectar pelo
Schistossoma. “Ele (o caramujo) tem alguma coisa diferente e essa coisa tem que
estar no DNA. Agora, a gente vai continuar procurando e comparando com espécies
que não transmitem o Schistossoma e ver qual é o gene a que está ligada a
resistência do caramujo ao parasita”.
Se
esse gene for identificado, os pesquisadores podem tentar suprimi-lo. Assim,
seria ‘criado’ um caramujo transgênico, sem esse gen e que não se infectasse
mais. “E a gente pode colocar esses caramujos onde não existem focos na
natureza”. No entanto, essa fase da pesquisa pode levar até 10 anos, segundo
ela, a depender dos investimentos.
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