FONTE: *** Cristiane Capuchinho, Do UOL, em Porto Alegre, (http://noticias.uol.com.br).
O mal de Alzheimer
costuma ser associado a momentos de falta de memória, no entanto, nem sempre a
memória é prejudicada no início da doença. Os sintomas podem se manifestar em
problemas na linguagem, desorientação espacial ou mesmo falta de motivação,
alerta Marek-Marsel Mesulam, diretor de neurologia cognitiva da Universidade de
Northwestern.
A descoberta muda o
diagnóstico clássico da doença, que afeta mais de um milhão de pessoas no
Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Uma boa memória passa a não ser
suficiente para descartar o Alzheimer como doença possível em seus primeiros
sintomas.
"Há uma
tendência de achar que Alzheimer é uma doença da memória que atinge os mais
velhos, mas na verdade há diferentes tipos de Alzheimer", afirma Mesulam.
"Algumas vezes a memória é o maior problema, mas não é sempre."
O neurologista
norte-americano explica que são quatro os tipos de Alzheimer diagnosticados
entre os 40 e 70 anos. Um deles afeta principalmente a memória, e é o tipo mais
conhecido. No entanto, em outras três formas, o paciente pode não ter qualquer
sintoma de falta de memória no início da doença.
O sintoma principal
pode ser a afasia, quando a pessoa não encontra as palavras sistematicamente na
hora de se expressar. Em outro tipo, há uma acentuada perda de motivação em
atividades pelas quais a pessoa costumava se interessar ou por pessoas de seu
círculo social, ou ainda elas estão fazendo coisas inapropriadas --"comprando
demais, comendo demais".
Em uma quarta forma
da doença, os primeiros sintomas aparecem com dificuldades de orientação.
"O paciente não encontra as coisas, em casos mais dramáticos não veem os
objetos mesmo quando estão à sua frente, parece que ele está sempre olhando
para o lugar errado. Às vezes, o paciente não consegue fazer a cama por não
achar a orientação correta do lençol", exemplifica Mesulam.
Mudança no diagnóstico,
alteração no tratamento.
A importância desse
novo olhar é a busca de um diagnóstico precoce correto --quanto mais cedo o
diagnóstico, antes é possível começar o tratamento que retarda a doença, tendo
em vista que ainda não há cura.
"É importante
saber que se nem todo Alzheimer é igual, os tratamentos psicossociais devem ser
diferentes", lembra Mesulam. A terapia usada para pessoas com problemas
graves de memória não vai funcionar para um paciente que tenha problemas de
linguagem, por exemplo.
A predominância dos
tipos de Alzheimer que não têm a memória como sintoma principal pode chegar a
metade dos casos entre pacientes de 40 a 70 anos, estima o pesquisador
norte-americano.
O quadro foi
apresentado no Congresso Mundial de Cérebro, Comportamento e Emoções, que
aconteceu em Porto Alegre.
Em relação aos
medicamentos, Mesulam diz que, teoricamente, as drogas devem funcionar para
todos os tipos. No entanto, são necessários estudos específicos.
Envelhecimento da
população acende alerta.
Em 2010, o Brasil
tinha 19,6 milhões de idosos (10% da população brasileira). A
estimativa do IBGE é de que essa população triplique até 2050, chegando a 66,5
milhões de pessoas.
A doença é mais comum
conforme a idade avança. Em um estudo brasileiro de 2004, Ricardo Nitrini,
professor da USP (Universidade de São Paulo), observou que, após os 65 anos, a
taxa de demência dobra a cada 5 anos.
O Alzheimer é
responsável por mais da metade dos casos de demência acima dos 65 anos, segundo
o Ministério da Saúde.
Ainda pouco se sabe
sobre como evitar o Alzheimer, no entanto, ao que parece, ter atividades
desafiadoras para a mente aumenta o número de conexões criadas entre as células
nervosas, e isso retarda os sintomas mais graves da doença.
*** A jornalista viajou a convite do Instituto de
Neurociências Integradas.
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