FONTE:- Juliana Carreiro,http://leiamais.ba
Veja dez mitos que já
foram citados e que continuam rondando as casas brasileiras.
Em mais de dois anos de blog,
venho tentando desmistificar algumas ideias erradas sobre alimentação saudável,
que aparecem na internet ou nas rodas de conversa País afora, sempre com a
consultoria técnica da nutricionista Denise Madi Carreiro, autora de treze
livros sobre o tema e que também é minha mãe. No primeiro post de 2018 reuni
dez mitos que já foram citados em publicações anteriores e que continuam
rondando as casas brasileiras.
01 – Os alimentos
naturais são mais caros do que os industrializados.
Uma das principais desculpas de
quem não quer melhorar os hábitos alimentares é o alto custo dos alimentos mais
saudáveis, os naturais. Eles são de fato os que sofrem mais variações de preço,
principalmente as frutas e as hortaliças, porque são atingidos pelo aumento do
custo dos transportes, por exemplo e por condições climáticas adversas,
enquanto o dos ultraprocessados segue mais estável. Mas vamos analisar alguns
exemplos simples, 1kg de batata inglesa custa em média 4 reais, enquanto isso,
um pacote com 100gm de chips de batata custa 4,89.
O que alimenta mais, um quilo de
batata in natura ou um pacote de 100gm de chips? A resposta
está subentendida. Em um hipermercado nacional, 2kg de banana nanica saem por
cerca de 5,38 reais e um pacote de 140gm de bolacha recheada por 1,69. O valor
da bolacha é mais baixo mas, proporcionalmente, vemos que as bananas são mais
baratas. No caso do macarrão instantâneo com pouco mais de 1 real você pode
fazer o almoço para uma pessoa ou pode comprar uma dúzia de ovos por 4,75 e
complementar as refeições de toda a família por uma semana. Aparentemente
os valores dos produtos prontos são mais baixos, mas é só analisarmos as
quantidades de comida para notarmos que isso não é verdade.
02 – Arroz com feijão
engorda.
O arroz e o feijão têm
separadamente os seus benefícios, mas é quando estão juntos que eles são
imbatíveis. Em conjunto, este cereal e esta leguminosa nos fornecem
carboidratos, proteínas, vitaminas, minerais e fibras. Podem até substituir as
carnes para aqueles que são vegetarianos.
Outra grande vantagem é que
quando você consome uma leguminosa junto com um carboidrato, por exemplo, ela
faz com que a glicose dos carboidratos seja absorvida mais lentamente e isso
nos mantém saciados por mais tempo e com mais energia. E também nos ajuda a
perceber quando estamos saciados mais cedo, o que nos faz comer as quantidades
adequadas. Se você deseja reduzir ainda mais o índice glicêmico do arroz, pode
usar a sua versão integral.
O importante é não retirá-lo da
sua rotina alimentar, juntamente com as outras fontes de carboidrato, elas são
importantes para o funcionamento do nosso organismo. Este recurso utilizado por
quem quer perder peso pode até funcionar a curto prazo, mas a médio e
longo prazos trará reflexos negativos no nosso funcionamento geral, entre eles
a volta do quilinhos perdidos.
03 – O ovo aumenta o
colesterol e, por isso, deve ser evitado.
70% do nosso colesterol é
produzido pelo organismo e apenas 30% vem de fontes externas, como carnes, ovos
e leite de vaca. O ovo realmente possui colesterol na sua composição e ainda
que ele interfira no aumento desta substância, trata-se do HDL, conhecido como
bom colesterol. Mesmo o LDL, chamado de mau colesterol, tem a sua importância
para o nosso organismo. O problema é quando ele aparece em alta quantidade,
enquanto o HDL está mais baixo do que deveria. O colesterol é determinante para
inúmeras funções, é a principal matéria-prima para a formação de hormônios
femininos e masculinos e para a formação da vitamina D e da bílis, presente no
fígado, por exemplo.
É claro que precisamos ficar
atentos à forma como o ovo é preparado, não vale deixá-lo submerso no óleo de
soja ou na manteiga ou acrescentar queijos ou creme de leite à omelete ou aos
ovos mexidos, assim, o seu consumo estará ligado à substâncias alergênicas ou
gordurosas. Na hora de fritá-lo, por exemplo, basta um fio de azeite de oliva.
A proteína presente nos ovos é a mais completa de todas, mesmo considerando as
de origem animal e ele também é rico em nutrientes.
04 – As proteínas de
origem animal são fundamentais para a nossa saúde.
É perfeitamente possível retirar
as proteínas de origem animal do cardápio sem prejudicar a saúde, mas para isso
é necessário variá-lo bastante e colori-lo o máximo possível com um grande leque
de frutas, verduras, legumes, cereais e leguminosas. A diferença é que as
proteínas de origem animal são completas e as de origem vegetal, presentes
principalmente nos cereais, tubérculos e leguminosas, contém os mesmos
aminoácidos, porém são incompletas e por isso necessitam umas das outras para
nos fornecerem tudo que precisamos, como a combinação do arroz com feijão, por
exemplo.
Existem também grãos como a
quinoa e o amaranto que têm uma quantidade proteica excelente. Além disso, vale
lembrar que o consumo excessivo de proteína de origem animal não faz bem para
ninguém. Não precisamos comer mais do que 100 a 120gr de carne por refeição.
Quando ultrapassamos muito estas quantidades, o que acontece muito entre os
brasileiros, podemos acidificar o ph sanguínio, que deve ser levemente
alcalino, sobrecarregando o fígado e os rins. A única vitamina que precisamos
suplementar, quando retiramos as carnes da rotina, é a B12, que pode ser
facilmente suplementada entre os adultos e até entre as crianças.
05 – Suco de frutas é uma
ótima opção para as crianças.
A Organização Mundial da Saúde
não recomenda o consumo de açúcar e de alimentos ultraprocessados entre os
pequenos até que eles completem dois anos, pois o pico de formação do sistema
nervoso central ocorre entre o terceiro trimestre de gestação e o décimo oitavo
mês de vida, e o açúcar é prejudicial para esse processo.
Neste período temos uma grande
necessidade de vitaminas e minerais e estas substâncias ocupam o espaço que
deve ser dos nutrientes necessários para o desenvolvimento. Vale ressaltar que
até o sexto mês o bebê só deve ter contato com o leite materno, mesmo depois
disso, o ideal é que ele coma as frutas in natura, pois junto com
a frutose, o seu açúcar natural, também terão acesso às fibras, importantes
para o funcionamento do intestino. Mesmo os sucos naturais, feitos sem adição
de açúcar devem ser evitados porque quando os ingerimos, o açúcar natural das
frutas aparece em grande quantidade.
06 – Gelatina é saudável.
Assim como todos os ultraprocessados,
a gelatina não conta com praticamente nenhum nutriente na sua composição, é o
resultado de uma mistura de aditivos químicos nocivos à nossa saúde. É
considerada uma boa opção para quem deseja emagrecer porque tem poucas
calorias, porém também não tem fibras, vitaminas, minerais, nem gorduras boas,
que colaboram com o processo de emagrecimento. Se for consumida com
frequência, seus aditivos podem corromper as barreiras do intestinos,
prejudicando o seu funcionamento, o que atrapalha a perda de peso. Além disso,
já expliquei aqui que o aumento de peso também pode ser causado pela falta de
vitaminas e minerais no organismo e não só pelo excesso de gordura e
carboidrato.
07 – Refrigerantes ‘zero’
podem ser consumidos à vontade.
Algumas dietas que só levam em
consideração as calorias dos alimentos, costumam liberar a ingestão de
refrigerantes sem açúcar, como se o seu único problema fosse este ingrediente.
Porém, o excesso de sódio, de corantes, de cafeína e de aditivos químicos
também são grandes inimigos da nossa saúde. Eles podem destruir as células de
defesa do intestino prejudicando o sistema imunológico como um todo. Assim como
o excesso de açúcar, o destas substâncias também é relacionado cientificamente
com casos de hiperatividade, distúrbios de comportamento e déficit de atenção.
Entre os que querem emagrecer também há desvantagens nesse consumo, o excesso
de sódio, por exemplo, retém muito líquido, o que ajuda a aumentar as medidas,
os adoçantes artificiais podem causar resistência à insulina, que também
contribui com o aumento de peso. Além disso, esse tipo de bebida não possui
nenhum nutriente, mas ao mesmo tempo, ocupa bastante espaço no estômago, por
isso diminui a quantidade de nutrientes que seriam ingeridas em seu lugar, para
fazer o organismo funcionar.
08 – As frutas podem
engordar.
Além de não nos fazer engordar,
as frutas são grandes aliadas dos processos de emagrecimento e manutenção do
peso, além de garantirem o bom funcionamento do organismo de maneira geral. São
ótimas fontes de vitaminas, minerais e fitoquímicos – substâncias que têm ação
antioxidante, anti-inflamatória e desintoxicante, contêm enzimas digestivas,
principalmente o abacaxi e o mamão e também são ricas em fibras, que alimentam
as boas bactérias do intestino.
Ainda são uma maneira gostosa de
matar a sede e atingir a nossa cota diária de água, porque, em média, 80% de
sua composição é formada por ela. Se não bastasse, ajudam a reduzir o índice
glicêmico da refeição em que for consumida, no café da manhã e nos lanches intermediários,
principalmente. Isto porque, nestes momentos ela normalmente é acompanhada de
um carboidrato, que pode ter um alto índice glicêmico, mas as fibras presentes
nelas serão fermentadas pelas boas bactérias do nosso intestino e isso faz com
que a absorção tanto do açúcar presente nelas, a frutose, quanto o dos
carboidratos sejam mais lentas.
O que é bom para o organismo. O
que tem ocorrido recentemente em muitos consultórios médicos é uma certa
confusão entre a frutose presente nas frutas e a sua versão industrializada. Há
muitos profissionais receitando que os pacientes deixem de comê-las por conta
deste açúcar natural. Porém, o organismo absorve a frutose de formas diferentes
quando ela é consumida no meio da fruta ou isoladamente. No primeiro caso, além
da dose ser menor, ela também vem acompanhada das fibras e isto não acontece
quando a frutose é industrializada e utilizada para adoçar as preparações,
neste caso é absorvida mais rapidamente.
09 – Pães e biscoitos
integrais são mais saudáveis do que os refinados.
Quem se aventura a fazer um pão
verdadeiramente integral em casa sabe que ele costuma ficar bem mais duro do
que o tradicional e que estraga bem mais rápido. Então por que a
indústria consegue fazer com que eles fiquem com a mesma textura dos refinados?
O que acontece é que para os ingredientes integrais adquirirem a mesma
consistência dos tradicionais eles precisam acrescentar mais glúten à fórmula.
O acréscimo de glúten acaba com
os benefícios que as fibras presentes nestes produtos poderiam trazer ao
intestino e também acaba com a ideia de que os integrais têm índice glicêmico
mais baixo do que os refinados. Isto porque o glúten, como eu já escrevi
detalhadamente em outros posts, gera processos inflamatórios no nosso
intestino, alterando a sua permeabilidade e desencadeando processos
inflamatórios no organismo. Uma das consequências destes processos, para
aqueles com tendência genética, é o aumento da resistência à insulina, que
provoca o aumento de peso. Uma pesquisa realizada pelo Idec, o Instituto de
Defesa do Consumidor, com 14 marcas de biscoitos “integrais” revelou que apenas
3 continham farinhas integrais ou cereais integrais como ingredientes
principais, 5 delas não tinham ingredientes integrais e nenhuma possuía um alto
teor de fibras.
10 – Leite de vaca é uma
boa fonte de cálcio para os ossos.
Para explicar um assunto tão
polêmico vou até recorrer à química. O ph do nosso sangue deve ser levemente
alcalino, ou seja, básico. O leite de vaca possui três vezes mais proteína do
que o leite materno, mas esse excesso de proteína faz com que o sangue fique
mais ácido do que deveria. Para que ele volte a ficar equilibrado, um dos
recursos que o nosso organismo utiliza é retirar o cálcio de dentro dos nossos
ossos, que é onde ele deveria ficar, para devolvê-lo à corrente sanguínea. Isso
porque ao lado do magnésio, este mineral ajuda a alcalinizar o sangue.
Quem também tem esta função
alcalinizadora e que, portanto, ajuda a manter o cálcio no seu devido lugar são
as frutas, as verduras e os legumes. Estudos da Organização Mundial da Saúde
verificaram que os índices de fratura óssea e de osteoporose são menores em
países onde há um menor consumo de cálcio vindo de fontes animais, como o leite
de vaca. Isso porque nestes lugares há um grande consumo de outras fontes de
cálcio, como legumes, verduras escuras e leguminosas, como feijão, ervilha,
lentilha ou grão de bico, que são cada vez menos consumidos por aqui.
Esses alimentos têm menos cálcio
do que o leite, é verdade, porém, eles são ricos em todos os nutrientes, que
trabalham em conjunto com esse importante mineral para que ele seja melhor
absorvido e utilizado pelo nosso organismo. Por outro lado, em países como os
Estados Unidos, onde há um baixo consumo de frutas, verduras e legumes e onde a
média de consumo diário de leite é de cinco copos, a frequência destes tipos de
deficiência óssea é a maior do mundo. Infelizmente, o Brasil está indo por este
mesmo caminho. De acordo com o IBGE, o nosso consumo atual de vegetais e frutas
corresponde a menos de um terço do mínimo recomendado pela OMS, de 400 gramas
por dia.
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