A sete meses da data
reservada para o carnaval, a incerteza ainda dá o tom no mundo do samba. Por
conta da pandemia de coronavírus, pouco se sabe sobre a festa do ano que vem.
Por conta da pandemia de Covid-19, grandes escolas do Rio, cujos representantes
vão se reunir hoje na Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa),
adiantaram ontem ao EXTRA que não desfilarão em 2021, a menos que seja
desenvolvida uma vacina. Mangueira, Imperatriz Leopoldinense, Vila Isabel,
Beija-Flor e São Clemente vão votar juntas pelo adiamento da festa por tempo
indeterminado.
A possibilidade de
transferência da data de início da folia de 14 de fevereiro para meados do ano
que vem já não parece uma opção segura aos olhos de dirigentes. As agremiações
lembram que dependem do trabalho de centenas de pessoas fechadas em barracões para
confeccionar fantasias e carros alegóricos. Uma das hipóteses estudada seria
transferir os desfiles para os feriados da Semana Santa, em abril, ou de Corpus
Christi, em junho. A mudança no calendário está sendo capitaneada pelo prefeito
de Salvador, ACM Neto (DEM), que defende uma solução conjunta para todos
estados do país.
— Sem vacina, é
inviável realizar o carnaval em qualquer data, seja em fevereiro ou junho.
Hoje, as decisões judiciais têm muita força. Há o risco de fazermos
investimentos altos e, lá na frente, o contágio voltar a subir e a Justiça
determinar a suspensão. O carnaval é um evento de aglomerações, da produção à
realização na Sapucaí. Como seria? Componentes a dois metros de distância?
Cantando com máscaras no rosto? — questiona o presidente da Vila Isabel,
Fernando Fernandes.
Para o presidente da
Mangueira, Elias Riche, o momento é de concentrar esforços na luta contra o
vírus. A Verde e rosa defende o adiamento do carnaval para 2022.
— Como ficaria a
consciência de um dirigente caso acontecesse a morte de, por exemplo, 50
componentes que tenham desfilado na sua escola? — reflete.
Os barracões das
agremiações seguem parados. Apenas o planejamento dos desfiles — desenhos de
fantasias e alegorias, projetos gráficos e construção das sinopses — está em
andamento. Os diretores de carnaval da Imperatriz Leopoldinense, Marquinhos
Fernandes, e da Beija-Flor de Nilópolis, Dudu Azevedo, também apontam a vacina
como requisito para a realização do carnaval. Renatinho Gomes, presidente da
São Clemente, faz coro:
— É simples: se chegar
a vacina, teremos samba. Como vamos lidar com a multidão sem imunização
coletiva? O adiamento para 2022 será inevitável, porque não teremos tempo hábil
para arrumar a casa.
A proposta de
estabelecer um calendário nacional comum para o carnaval, feita por ACM Neto,
esbarra nas diferenças de estágio da pandemia nas cidades, alerta o
infectologista e professor da Universidade Iguaçu (Unig), Roberto Falci Garcia.
— Cada cidade tem o seu
tempo na pandemia. No Rio, hoje, por exemplo, há uma tendência de queda no
número de casos, enquanto outras cidades ainda não chegaram ao pico da doença.
Essa mesma discrepância pode acontecer no ano que vem, numa possível segunda
onda de contaminação do novo coronavírus, caso não tenhamos uma vacina eficaz.
A Prefeitura do Rio
disse, em nota, que a sugestão de ACM Neto será analisada tão logo chegue. Já a
Prefeitura de Olinda destaca que não há uma decisão sobre o carnaval 2021,
“pois ainda faltam sete meses para a data”.
A Riotur estuda alternativas
e suspendeu, a pedido da Liesa, a divulgação dos preços dos ingressos na
Sapucaí para o público estrangeiro. Também foi suspensa a liberação do caderno
de encargos para as empresas interessadas em disponibilizar a infraestrutura do
carnaval de rua, evento que reúne milhões de pessoas e exige, segundo a Riotur,
um planejamento complexo e cuidados especiais. “O carnaval precisa de uma
análise incluindo o número de casos, a evolução no tratamento da doença, a
prevenção e até uma vacina, para garantir a viabilidade”, diz a nota.
Segundo Rita Fernandes,
presidente da associação de blocos do Rio Sebastiana, a festa de rua também tem
futuro incerto:
— Sem vacina, é
complicado, pela natureza do carnaval, que é pura aglomeração. A imunização
coletiva é a primeira condição. Além disso, temos algumas outras variáveis:
vivemos um ano de eleição, com possível troca de comando na prefeitura, não
sabemos como estará o mercado e a oferta de patrocínios para os cortejos, e
também não sabemos qual será a resposta do público sobre a realização do
carnaval. Hoje, não temos condições de dizer como e quando será o próximo
carnaval.
Oito escolas do Grupo
Especial já têm enredo.
Das 12 escolas do Grupo
Especial, oito já divulgaram os enredos. A Viradouro, atual campeã, vai contar
o carnaval carioca de 1919, conhecido como o maior do século passado, quando a
população foi às ruas para comemorar o fim da gripe espanhola. Já a Paraíso do
Tuiuti levará uma mensagem de proteção aos animais com o enredo “Soltando os
bichos”, na volta do carnavalesco Paulo Barros à escola após 18 anos.
Na Mocidade e na Grande
Rio, dois orixás serão temas centrais: Oxossi na escola de Padre Miguel, com
“Batuque ao caçador”, e Exu na agremiação de Caxias, com “Fala, Majeté! Sete
chaves de Exu”. A Vila Isabel fará homenagem a Martinho da Vila; a Portela
contará a história dos baobás, as gigantescas árvores originárias da África; e
a Beija-Flor quer enaltecer as glórias dos negros com “Empretecer o pensamento
é ouvir a voz da Beija-Flor”. Já o Salgueiro, com “Resistência”, vai falar da
luta dos negros para preservar a cultura e a fé.
— Não divulgamos a
sinopse do enredo por não ter um horizonte concreto. Estamos diante de um
cenário de incerteza, trabalhando com várias projeções para o próximo desfile,
seja em fevereiro ou em datas futuras. A resposta para isso será debatida com a
Liesa e as autoridades públicas. Tudo isso vai passar — diz o diretor de
carnaval da Grande Rio, Thiago Monteiro.
São Clemente,
Mangueira, Unidos da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense ainda não divulgaram os
enredos a serem levados para a Sapucaí.
— A carnavalesca Rosa
Magalhães tem uma ideia já fundamentada, mas a diretoria decidiu esperar —
afirma Marquinhos Fernandes, da Imperatriz.
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