FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
A partir de 2014, meninas de 10 e 11
anos receberão, gratuitamente, a vacina contra o papilomavírus (HPV), usada na
prevenção de câncer de colo do útero. A decisão, anunciada esta semana pelo
Ministério da Saúde, vai beneficiar 260.623 meninas na Bahia. No Brasil, a meta
é vacinar 80% do público-alvo, estimado em 3,3 milhões. Serão investidos R$
360,7 milhões na aquisição de 12 milhões de doses.
”Está é mais uma medida para enfrentarmos o problema do câncer de colo
do útero, um problema que ainda é grande no país, em especial na região norte.
Vamos preparar muito bem este público (meninas de 10 e 11 anos), suas famílias,
e reforçar a estratégia envolvendo as escolas e os professores para provocar
uma grande sensibilização”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele
destacou ainda que a vacinação reduz a circulação do vírus no país.
A vacina que estará disponível na rede pública é a quadrivalente, usada
na prevenção contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Dois deles (16 e 18)
respondem por 70% dos casos de câncer. No escopo do acordo entre Ministério da
Saúde e os fabricantes da vacina - Butantan e Merck Sharp & Dohme (MSD),
que atuarão em parceria tecnológica – está prevista a possibilidade de uso da
versão nonavalente, que agregará outros cinco sorotipos à vacina.
Em relação ao câncer de colo do útero, a cada ano, 270 mil mulheres no
mundo morrem por conta da doença. No Brasil, 5.160 mulheres morreram em 2011 em
decorrência da doença, dessas 342 eram da Bahia. Para 2013, o Instituto
Nacional do Câncer estima o surgimento de 17.540 novos casos no país.
A vacina para prevenção da doença tem eficácia comprovada para pessoas
que ainda não iniciaram a vida sexual e, por isso, não tiveram nenhum contato
com o vírus. A escolha do público-alvo levou em consideração evidências
científicas, estudos sobre o comportamento sexual e a avaliação de especialistas
que atuam no Comitê Técnico Assessor de Imunizações (CTAI) vinculado ao
Ministério da Saúde.
A incorporação da vacina complementa as demais ações preventivas do
câncer de colo do útero, como a realização do Papanicolau e o uso de camisinha
em todas as relações sexuais. “É uma vacina para proteger para o futuro, mas
que não elimina as medidas de saúde que já estão sendo tomadas pelas mulheres
para se proteger do vírus”, reforçou o secretário de Vigilância em Saúde,
Jarbas Barbosa.
O Ministério da Saúde orienta que as
mulheres dos 25 aos 64 anos façam o exame preventivo, o Papanicolau, a cada
três anos. Em 2012, foram 11 milhões de exames no SUS, o que representou investimento de R$ 72,6
milhões. Do total, 78% foram na faixa etária prioritária. Na Bahia, foram
realizados 788,9 mil exames no mesmo período ao custo total de R$ 5,2 milhões.
No ano passado, o investimento no atendimento e expansão dos serviços
para tratamento de câncer na rede pública de saúde do Brasil foi de R$ 2,4
bilhões, 26% maior que em 2010.
O Ministério da Saúde também está desenvolvendo o Plano de Expansão dos
Serviços de Radioterapia, com aplicação de R$ 506 milhões na criação de 41
novos serviços de radioterapia e ampliação de outros 39. Cada um dos 80
serviços de radioterapia receberá um aparelho Acelerador Linear. Existem,
atualmente, 277 estabelecimentos disponíveis para o atendimento e tratamento do
câncer. Em 2011 foram habilitados dez hospitais, em 2012 foram onze e em 2013
já são nove novos hospitais habilitados.
Estratégia de vacinação.
A imunização será feita em três doses, aplicadas com autorização dos
pais ou responsáveis das pré-adolescentes, de acordo com o seguinte esquema:
após a aplicação da primeira dose, a segunda deverá ocorrer em dois meses e a
terceira, em seis meses a contar da primeira dose.
Para chegar com mais agilidade ao público-alvo e ampliar a adesão à
proteção contra o HPV, a estratégia será mista: a imunização ocorrerá tanto nas
unidades de saúde quanto nas escolas. Após o primeiro ano de imunização, a
oferta deverá passar de 12 milhões de doses para 6 milhões de doses por ano,
pois parte do público-alvo já estará imunizado.
A introdução da vacina no SUS foi possível por conta de acordo parceria
para o desenvolvimento produtivo (PDP), com transferência de tecnologia entre o
laboratório internacional Merck Sharp & Dohme (MSD) e o Instituto Butantan,
que passará a fabricar o produto no Brasil. “A medida confirma o esforço do
governo brasileiro em aliar inovação tecnológica às necessidades sociais.
Estamos produzindo uma vacina, desenvolvendo tecnologia e gerando economia aos
cofres públicos”, disse o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do
ministério, Carlos Gadelha.
O Ministério da Saúde pagará cerca de R$ 30 por dose, o menor preço já
praticado no mercado – 8% abaixo do valor do Fundo Rotatório da Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAs). A expectativa, em cinco anos, é de um valor 34%
menor ao custo atual. Com isso, será possível economizar cerca de R$ 200
milhões (ou US$ 91 milhões) no período, com a queda do custo de US$ 543 milhões
para US$ 452,5 milhões. Nesse período, o laboratório público passará a ter
domínio de todas as etapas para a produção do insumo.
Além disso, a produção do imunobiológico contará com investimento de R$
300 milhões para a construção de uma fábrica de alta tecnologia pelo Instituto
Butantan, baseada em engenharia genética. “A incorporação dessa vacina vai
representar muito em termos de desenvolvimento tecnológico. Foi um processo
muito transparente em que se buscou o interesse nacional”, ressaltou o diretor
do Instituto, Jorge Kalil.
O Ministério da Saúde oferta 26 vacinas através do Programa Nacional de
Imunizações. Destas, 98% já são fabricadas no Brasil ou estão em fase de
incorporação da tecnologia.
A vacina contra o HPV é mais um dos produtos biológicos que será
fabricado pelo Brasil por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo
(PDP) articulada pelo Ministério da Saúde. Com esse novo acordo, o país passará
a produzir 26 biológicos. Além da vacina para HPV, destacam-se medicamentos
para câncer de mama, leucemia e artrite reumatoide.
Atualmente, os biológicos consomem 43% dos recursos do Ministério da
Saúde com medicamentos, cerca de R$ 4 bilhões por ano, apesar de representarem
5% da quantidade adquirida.
O HPV é capaz de infectar a pele ou as mucosas e possui mais de 100 tipos.
Do total, pelo menos 13 têm potencial para causar câncer. Estimativa da
Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 291 milhões de mulheres no mundo
são portadoras do HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16, 18 ou
ambos. No Brasil, a cada ano, 685.400 pessoas são infectadas por algum tipo do
vírus.
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