O consumo de álcool per capita no
Brasil aumentou 43,5% em dez anos e agora supera a média internacional. Em
2006, cada brasileiro a partir de 15 anos bebia o equivalente a 6,2 litros de
álcool puro por ano. No ano passado, a taxa chegou a 8,9. Com isso, o País
figura na 49.ª posição do ranking entre os 193 avaliados. Os dados foram
divulgados ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a pesquisa, o país com o
maior índice per capita de consumo de álcool é a Lituânia, onde os habitantes
bebem o equivalente a 18,2 litros de álcool puro (medida que leva em conta o
porcentual de álcool na bebida) por ano. A Bielorrússia aparece na sequência,
com 16,4 litros por ano, seguida pela Moldávia (15,9) e Rússia (13,9). Dos dez
países que ocupam as primeiras colocações, nove estão no Leste Europeu.
A média mundial é de 6,4 litros por
ano. Na África, o consumo é, em média, de 6 litros por ano. Nas Américas, a
taxa é de 8,2 e na Europa, de 10,3, puxada pelos países do leste.
A OMS não vê o consumo do álcool em si
como um problema, mas considera que o uso excessivo e a falta de controle em
certas situações podem se transformar em ameaça. Um total de 3,3 milhões de
pessoas morrem todos os anos pelas consequências da bebida - 5,9% de todas as
mortes no mundo. No grupo das pessoas entre 20 e 39 anos, 25% das mortes têm
uma relação direta com o álcool.
Levantamento da OMS também constatou
que o álcool pode causar mais de 200 doenças, incluindo mentais.
Responsabilidade.
Para a OMS, "governos têm a
responsabilidade de formular, implementar, monitorar e avaliar políticas
públicas para reduzir o uso excessivo do álcool". Entre as medidas, a
entidade sugere regular o marketing de bebidas, o acesso à compra e elevar
impostos.
Clarice Madruga, psicóloga da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Levantamento
Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), concorda. Segundo ela, o principal motivo
para o aumento do consumo de álcool no País é a falta de uma política de
prevenção universal. "O Brasil não adota as políticas eficazes que fizeram
outros países reduzirem o consumo."
A psicóloga ressalta que, no Brasil,
diferentemente da maioria dos países, não há uma licença específica para a
venda de álcool. "Todo lugar com alvará - padaria, loja de conveniência,
posto de gasolina - pode vender bebida. Isso sem falar na venda informal e para
menores."
Segundo Clarice, entre as mulheres
houve o maior aumento de consumo nos últimos anos. Com a inserção no mercado de
trabalho, o acúmulo de papéis sociais e a elevação do estresse, elas estão mais
expostas ao álcool e, pior, têm mais propensão à dependência. "Por causa
dos hormônios, o efeito do álcool e de outras drogas é muito mais prazeroso
para a mulher." Clarice ressalta que o alto consumo de álcool traz mais
prejuízos para a sociedade do que para o indivíduo.
O publicitário Décio Perez, de 58
anos, viu a vida ser destruída por causa do álcool, mas reagiu. "É uma
coisa lenta e progressiva. Você acha que está no controle, mas é engano. Você
perde a família, amigos, o emprego."
O Ministério da Saúde diz já adotar
uma política que enfoca no "fortalecimento de fatores de proteção e
redução de fatores de risco e vulnerabilidades que possam levar ao uso
prejudicial de álcool e outras drogas". "Entre 2013 e 2016, as ações
dos programas alcançaram mais de 10 mil crianças, 47 mil adolescentes e mil
famílias."
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