A feirante Elisabete Ferreira Lopes,
de 43 anos, luta há 15 anos por uma cirurgia bariátrica. Ela própria compara a
espera pela operação a uma batalha. Começou em Rondônia, onde vivia. O cenário
de combate agora é São Paulo, para onde se mudou há onze meses, na esperança de
finalmente conseguir passar pela cirurgia. Tinha 110 quilos, quando tudo
começou. Hoje, ela já chegou a 152.
A primeira vez em que Elisabete se
candidatou à cirurgia bariátrica foi em 2002. O processo não andou e ela
continuou ganhando peso. Até que em 2006 a coluna travou. Tinha o peso limite
para que passasse pelo equipamento convencional de ressonância magnética. Agora
a feirante precisa de equipamento especial para obesos. Os exames revelaram
espondilodiscoartrose - degeneração que afeta os discos da coluna vertebral.
Desde então, está afastada do trabalho. Além da doença na coluna, o laudo
atesta obesidade mórbida grau 3, o mais elevado.
Em 2010, depois de muito pressionar,
descobriu que todos os seus documentos haviam sido perdidos. Então teve de
começar o processo todo novamente. Pediu ajuda até a um deputado federal. No
ano passado, desistiu da peleja em Rondônia, que não tem centro do SUS (Sistema
Único de Saúde) que realize a cirurgia, e jogou a toalha. Mudou-se para São
Paulo e deu início a um novo round.
"Eu tenho laudo até de perito do
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pedindo urgência por risco de morte.
Mas não consigo ser operada", afirma. "Até me surpreendo quando sei
de alguém que passou pela cirurgia no SUS. Não sei como conseguem",
comenta.
Elisabete sofre de hipertensão e
apneia. O peso afetou os joelhos e tornozelos. "Minha vida é dentro de
casa. Não aguento fazer serviço doméstico de uma vez. No dia em que eu lavo
roupa, não arrumo a casa. A gente se restringe a muitas coisas. Tenho uma
máquina de costura, para você ter ideia de como odeio comprar roupa. Não fica
bonita (a roupa), mas é confortável. A última calça jeans que comprei, tive que
andar muito, paguei caro, usei e encostei. Corta a pele. É muito sofrido
comprar roupa", conta.
A feirante começou a ganhar peso na
primeira gravidez, aos 16 anos. Tem três filhos, de 27 anos, 22 anos e de 13
anos. O caçula, Gabriel Expedito, nasceu depois da laqueadura de trompa.
"Só descobri a gravidez aos cinco meses de gestação. Estava tratando como
mioma."
Na fila.
Quando chegou a São Paulo, Elisabete
foi atendida na Unidade Básica de Saúde (UBS) perto de casa. Saiu com
encaminhamento para o cirurgião gástrico e há quatro meses aguarda ser chamada
para uma consulta na rede pública.
Elisabete faz parte de um grupo no
Facebook chamado Cirurgia Bariátrica pelo SUS, que reúne 6,6 mil pessoas.
"A ansiedade pela cirurgia é tão grande que tem gente que adoece. Uns
comem mais. Outros bebem."
A feirante tem a expectativa de
voltar a fazer atividades simples do cotidiano depois da cirurgia. "Quero
poder comprar um carro sem pensar se vai caber minha bunda. Entrar numa roupa.
Poder dormir com um travesseiro só, porque hoje eu vou dormir e por causa da
apneia não sei se vou acordar... Coisas bobas, que a pessoa que é magra não
pensa", brinca. "Tento levar no bom humor."
*** As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
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