Na quinta-feira (31) o Ministério da Saúde lançou uma campanha de
prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) com filme que destaca as reações das pessoas ao verem
fotos dos sintomas que algumas doenças provocam. O objetivo, segundo a pasta, é
instigar a curiosidade dos jovens para pesquisarem imagens das mesmas na
internet e, como informou o ministro Luiz Henrique Mandetta na coletiva à
imprensa, fazer com que as pessoas tenham medo de não usar preservativo. “Se
ver já é desagradável, imagine pegar. Sem camisinha você assume esse risco”, é
o conceito enfatizado.
O problema é que muitas das ISTs são assintomáticas, ou seja, não
envolvem sintomas ou eles não são identificados por quem as contrai. Em muitos
casos, as manifestações aparecem semanas ou meses após o contato com o
micro-organismo, o que também pode dificultar a associação com uma relação
desprotegida. É justamente por isso que essas infecções são tão difíceis de ser
evitadas. Segundo documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
este ano, a cada dia há mais de 1 milhão de novos casos de ISTs curáveis entre
pessoas de 15 a 49 anos. As principais delas, segundo a OMS, são clamídia,
gonorreia, tricomoníase e sífilis.
Segundo dados do Sistema de Saúde do Reino Unido (NHS), cerca de 50% dos
homens e 70% das mulheres não apresentam qualquer sintoma de clamídia. Cerca de
10% dos homens e 50% das mulheres também são assintomáticos para a gonorreia.
No caso da sífilis, as primeiras manifestações podem surgir semanas após a
infecção e nem sempre são óbvias. Para piorar, elas somem depois de um tempo. A
tricomoníase, que segundo a OMS é a infecção mais comum entre as ISTs curáveis,
é assintomática para metade dos homens e das mulheres.
Muita gente só descobre que contraiu uma IST ao enfrentar alguma
complicação grave, como doença inflamatória pélvica, infertilidade, problemas
detectados no feto durante o pré-natal, câncer (no caso do HPV) ou quadros
neurológicos (resultantes da sífilis). Isso só ocorre porque, na maioria das
vezes, a pessoa nem desconfiava da infecção. Quem apresenta sinais marcantes,
como os sugeridos pela campanha, costuma correr ou ser levado ao médico antes
de ter problemas mais graves.
Outra questão é que, ao retratar reações de ojeriza ou medo nos jovens
que veem as imagens, corre-se o risco de estigmatizar quem tem, já teve ou
ainda vai ter uma IST. Muitas campanhas lançadas no início da epidemia do HIV,
nos anos de 1990, focavam a questão do pânico para tentar aumentar o uso de
preservativo e a gente sabe que a estratégia não funciona.
Melhor do que estimular o medo seria fazer uma campanha que conversasse
com todo mundo de forma menos assustadora, afinal, qualquer pessoa que faz sexo
pode ter uma infecção e não saber, inclusive gente que se cuida e que só teve
um parceiro(a) na vida. E mais: que a campanha incluísse recortes para grupos
específicos que são mais vulneráveis ao HIV e a todas as ISTs. Prevenção não é
algo simples, e por isso pesquisadores e a própria OMS têm batido na tecla da
estratégia combinada – que envolve camisinha, sim, mas também informação,
educação, testagem e acesso aos serviços de saúde.
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