FONTE: Larissa Drumond - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Mãos suadas só de pensar
naquela viagem de avião marcada para as férias. Frio na barriga e pernas
trêmulas ao avistar um homem estranho vindo em sua direção. Taquicardia ao
imaginar como será a palestra para mais de cem pessoas na empresa. Ou insônia
porque o carro terá que sair da garagem no dia seguinte. “O medo é a percepção
do próprio corpo reagindo a incertezas e ameaças com respostas fisiológicas,
cognitivas e comportamentais”, explica Felipe Corchs, psiquiatra do Programa de
Transtornos de Ansiedade do Ipq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas), em São Paulo.
O gatilho do medo é tão intensamente ligado a fatores psicológicos e
evolutivos, muitas vezes em detrimento de motivos racionais, que os medos mais
comuns não têm nada a ver com as maiores causas de morte mundiais hoje em dia.
Não existe uma lista oficial, mas
levantamentos apontam quase as mesmas causas para os medos mais comuns: animais
(aranhas, cobras, tubarões, baratas ou cachorros), água, altura, trovões e
relâmpagos, avião, sangue, lugares fechados,
falar em público e escuro (na infância).
No entanto, de acordo com um ranking divulgado
pela Organização Mundial da Saúde em 2011, as causas de morte mais comuns são:
infarto (doença isquêmica do coração), derrame, infecções respiratórias,
doenças pulmonares crônicas obstrutivas, doenças gastrointestinais, AIDS,
câncer na traqueia, nos brônquios ou nos pulmões, diabetes, acidente de carro
e problemas em decorrência da prematuridade.
Estado de alerta.
A resposta fisiológica ao medo é uma
herança antiga. O estado de alerta era fundamental para que os homens pré-históricos
evitassem ataques inesperados de animais selvagens que quisessem devorá-los. É
na tensão, então, que o coração bate mais rápido, distribuindo sangue para
cérebro e músculos, e os vasos sanguíneos periféricos se contraem para que o
sangramento seja menor em caso de machucados. A pupila se dilata e a respiração
entra em um ritmo mais intenso. Tudo isso para que estejamos preparados para
lutar ou fugir, o que significa que o medo tem sua função e foi um atributo
selecionado na evolução das espécies.
De acordo com Patricia Picon,
psiquiatra do Hospital São Lucas da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do
Rio Grande do Sul, os medos são protetores desde que apropriados. “É normal se
sentir assustado ao andar em uma rua escura no meio da noite, já que o medo
também é adaptado às circunstâncias. Mas se existe pavor em andar na rua
durante o dia, quando ela está iluminada e tem a presença de outras pessoas, o
caso deve ser analisado porque aparentemente não existe nenhuma situação de
risco”, diz.
Fobia x medo.
Quando esse medo – geralmente social
ou de um objeto, situação, lugar ou animal específicos – se transforma em um
empecilho para a funcionalidade da vida, pode-se considerá-lo uma fobia. Se
alguém evita elevadores de todas as maneiras e se vê forçado a enfrentar um, há
possibilidades de uma crise do pânico – que é uma das consequências da fobia,
mas não é necessariamente decorrente dela. Taquicardia, sudorese, tremor, tontura,
náusea, falta de ar, perda de autocontrole e sensação de que vai morrer ou
enlouquecer são alguns dos sintomas.
Não se sabe com precisão a origem da fobia, mas pode ser que venha de
uma predisposição genética ou familiar – quando os pais sempre ensinaram a
rejeitar algo. Ou decorrente de algum acidente, como é o caso das pessoas que
passam anos sem ingerir nada sólido após quase morrerem ao se engasgar com um
alimento.
O tratamento mais comum nesses casos é a psicologia
cognitiva-comportamental, em que o paciente é exposto progressivamente ao
obstáculo. Em um primeiro momento, ele deve falar sobre o elevador, até conseguir
ficar na frente de um, chamá-lo, entrar acompanhado, andar sozinho por poucos
andares e, então, até o 20º. Aos poucos e com muita calma, é possível eliminar
o medo.
Todo o processo precisa ser
orientado por um profissional especializado de forma sistemática e programada,
jamais sozinho ou com algum amigo que pretende ajudar. Se não for feito do
jeito correto, o quadro pode piorar”, reforça Corchs. Há, porém, outros
procedimentos para tratar das fobias, dependendo do tipo do problema e sua
gravidade. Vale procurar um profissional.
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